Tem coisas que só acontecem dentro de um club, não é mesmo? Essa atmosfera de festival é legal, instagramável, diurna em muitos casos, mas assim, é dentro de um bom club que as novas tendências são definidas e que a nossa cultura de pista alcança seu ponto máximo de execução criativa – seja por parte do público ou dos artistas.
Lembro muito bem de uma noite de verão em Santa Catarina em que meus amigos decidiram não adentrar na maratona clubber depois de um dia de praia quente e uma noite que se tornou bastante chuvosa. Restaram eu e um outro amigo para tal missão. Já era fim de Janeiro e as noites mais disputadas do Warung haviam passado. Nessa época, apesar de ainda ser temporada de verão, você tem uma experiência os clubs do litoral com uma cara mais de inverno. Isso representa mais despretensiosidade e principalmente, mais espaço na pista para dançar.
Eu sinceramente não lembro muito bem do line up desta noite em questão na íntegra. Não foi exatamente um artista ou um set que marcou, foi em especial uma música que até então eu nunca tinha ouvido: Suddenly Funk, essa mesma que acaba de completar 10 anos e ganhar um relançamento de peso pela DFTD. Entretanto, chegar ao track id não foi tão simples assim.
Eu vivia meus primeiros anos de pista e apesar de muita vontade e curiosidade, não conhecia muito a respeito de nomes, lançamentos e tudo mais. O set em questão era do britânico Patrick Topping. Lembro que aquele ano ele estava bem estourado por conta do lançamento da Forget que ficou meses no Top 1 do Beatport. Quando ele começou a tocar a faixa do Cohen o break inicial da faixa logo me chamou atenção e comecei a filmar. Aquilo foi ficando mais e mais interessante e eu desliguei o celular com mais ou menos uns 15 segundos de música filmados.
O que veio na sequência, sem registro, foi realmente o momento de maior explosão da pista naquela noite. Fui testemunha ocular do poder daquela faixa e de como algumas produções podem ser tão cuidadosamente pensadas para uma diversidade de momentos singulares e ao mesmo tempo amplos como este: uma noite em um club. Com aqueles 15 segundos de péssimo áudio que meu celular captou, Shazam nenhum conseguiu dar conta. Alguns meses depois eu reencontrei essa faixa na pista e aí sim descobri sua identidade.

Desde essa noite no verão de 2014, são anos e anos escutando ela pelas mãos dos mais variados DJs nas mais diversas ocasiões que uma festa pode ter. Seu DNA pisteiro sempre esteve ali e para mim uma das coisas mais bonitas dela é como ela atravessa as barreiras dos gêneros e principalmente dos conceitos de comercial e underground, da mesma maneira que seu drop reverencia o break. É pura arte.
A assinatura funky do Renato Cohen é outro ponto muito interessante dessa faixa. Sem dúvidas ela só representa esse sucesso absolutamente atemporal por conta da personalidade que carrega. Não é óbvia, não é fácil de categorizar, mas ainda assim é extremamente versátil. Muito legal ver um selo com a história da Defected, colocando ainda mais luz neste trabalho 10 anos após seu lançamento oficial pela 100% Pure do 2000 and One. O relançamento pela DFTD ainda tem um remix do Andrea Oliva, um dos artistas de maior destaque dentro da cena Tech House da Europa nos últimos anos. Confira na íntegra:
A música conecta.