É natural que com o passar dos anos, estilos musicais que conhecíamos de uma forma tenham vestido uma roupagem um pouco diferente nos tempos atuais, se adaptando às novas tecnologias e técnicas de produção… o Progressive House com certeza não escapou disso. Enquanto suas raízes remontam às décadas de 1990 e 2000, onde artistas como Sasha, John Digweed e Eric Prydz reinavam, o gênero passou por várias transformações para se manter relevante na cena atual, principalmente fazendo a fusão de elementos de outras vertentes, o que resultou em um som mais dinâmico e eclético. Hoje é possível perceber uma sonoridade mais sofisticada e complexa, com uma ênfase maior em texturas, camadas sonoras e detalhes sutis. Sons de pássaros, ruídos de folhas ao vento, o sussurro dos rios e tantos outros efeitos se entrelaçam com os sons excêntricos dos sintetizadores, permitindo que os produtores explorem novas maneiras de construir progressões melódicas, criando assim uma experiência auditiva até mais imersiva e abrindo espaço para novas fronteiras musicais.
Quem está atento a todas essas mudanças e possui bagagem o suficiente para falar sobre o assunto é PK Live, que desde os anos 90 vem colecionando muitas experiências em torno da música eletrônica. Além de um grande pesquisador musical, é um dos idealizadores da Progression (noite de Progressive House dentro do D-EDGE), sócio da Unik ID, que foi pioneira na cena de Progressive em São Paulo, além de sócio e DJ residente da Secret Encounters, festa itinerante de Progressivo e Deep House. Ele já recebeu a pista de grandes nomes do gênero como Cid Inc., como também já fez o warm up para Nick Warren, que chegou até a ceder parte do seu tempo de set para que PK Live pudesse continuar tocando um pouco mais, de tanto que havia admirado o seu warm up.
Introduções devidamente feitas, convidamos essa importante figura do house progressivo brasileiro para elencar faixas que ilustram bem as características que o estilo carrega atualmente. Confira:
Aman Anand – Novena 2019 (Greenage Remix) [Time After Time]
Selecionei essa track porque lá no passado era muito mais difícil ver músicas progressivas terem uma tonalidade maior, a grande maioria eram de tonalidades menores. ‘Novena 2019’ representa o grupo de faixas que transmitem uma atmosfera mais alegre. O progressivo contemporâneo hoje, na minha opinião, traz uma nota mais alegre pro estilo.
Sébastien Léger – Extassy [Lost & Found]
Se pegarmos tanto essa faixa do Sébastien Léger, mas também a do Khen [no final do texto] e de tantos outros artistas, eles fazem uma linha de Organic House que é utilizada como se fosse Progressive House. Então não vejo porque separar algumas músicas do Organic/Deep da linha do Progressive House, já que elas são uma ramificação do Progressive, compartilham da mesma estrutura/ideia. Isso, ao meu ver, é uma característica que deu uma roupagem nova e contemporânea pro estilo.
Kamilo Sanclemente & Juan Pablo Torrez – Mantura [Plattenbank]
Peguei uma track do Kamilo Sanclemente porque pra mim ele é um artista totalmente contemporâneo. Ouvindo as tracks dele, você sabe e consegue identificar que foi ele que fez, todas têm a cara dele. Se analisar os elementos, como basslines e vocais, é muito característico.
Guy J – Metal Dreams [Lost & Found]
Quando falo de Guy J e Dmitry Molosh, eu coloco os dois no mesmo “grupo” pelo seguinte motivo: Guy J é aquela coisa que todo mundo já sabe, ele tem um punch muito forte e a bateria dele é muito marcante, sempre seguindo a mesma linha, tanto que ele faz uma coisa mais flat nos sets, as vezes um pouco pro Tech House, outras pro Techno, mas a linha de bateria e as basslines são muito características dele próprio.
Daria pra ter colocado outros nomes ainda como o Scheffer, que é um cara que produz esse Progressive contemporâneo, com aquela linha mais argentina, bateria mais cumbiada, diferente dos artistas europeus, que vem com aquela coisa mais melódica e um groove mais duro, mais certinho, analisando a divisão rítmica da música.
Dmitry Molosh – Prospect [Sudbeat]
Gosto do Dmitry Molosh porque ele coloca bastante “confusão” nas tracks que ele cria. Confusão no sentido de intensidade, porque ele sabe muito bem o que está fazendo — e faz isso de forma proposital, cria tensão, combina os elementos pra “pirar” a cabeça do ouvinte, às vezes até passando uma sensação de falta de ar… vejo que essa é uma característica que também está sendo bem utilizada na linha contemporâneo do Progressive House, não só mexendo nos arpejos como era antigamente.
Khen – Florida [Closure]
Por fim, essa do Khen compartilha o que eu disse ao comentar a faixa do Sébastien Léger, trazendo uma linha mais orgânica. Mas temos que tomar bastante cuidado por um motivo: o Progressive contemporâneo, por ele estar influenciando essa onda nova de produtores, existe uma quantidade muito grande novos artistas e o pessoal se espelha muito no Guy J, no Molosh, no Kamilo Sanclemente, e tendo essas mesmas referências o som às vezes acaba ficando até repetitivo, então isso também é pra mim uma característica do estilo contemporâneo, diferente do que já foi antigamente.
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