O Vitrola Review está no ar com o creme da música brasileira. Criações maravilhosas que ultrapassam as barreiras das gerações e estilos e se consagraram como o melhor da nossa cultura. O álbum de hoje é dessas obras primas tão importantes que é considerado uma das mais importantes da nossa história. Quem gosta de Samba-Funk brasileiro vai vibrar com essa edição todinha dedicada à Banda Black Rio e sua criação mais consagrada, Maria Fumaça.
Começando pela banda: Black Rio é um projeto criado em 1976 pelo saxofonista Oberdan Magalhães, que se uniu a Lucio J. da Silva no trombone, José Carlos Barroso no trompete, Jamil Joanes no baixo, Claudio Stevenson na guitarra, Cristovão Bastos nos teclados e Luiz Carlos Santos na bateria. A formação veio em um momento em que o Funk americano estava em grande alta no mundo da música e outros grupos no Brasil haviam se apartado, deixando passagem livre para Oberdan escolher apenas os melhores e mais entrosados músicos da época, que curtiam a mesma pegada sonora.
Maria Fumaça nasceu logo de cara, em 1977, revolucionando completamente o movimento musical Black Rio e se tornando um dos álbuns mais relevantes da história da música nacional. O repertório mescla composições originais com versões para músicas de compositores brasileiros como Ary Barroso, Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira, Edu Lobo, João de Barro, entre outros. O álbum, todo instrumental, é uma das obras que melhor representam a fusão da influência dos gêneros norte-americanos Funk e Soul com os ritmos brasileiros.
Os arranjos de sopros são um dos destaques do disco. Todas as melodias são apresentadas por meio dos metais – influência direta da música de artistas e bandas dos Estados Unidos. A primeira faixa do disco já mostra o grande poder sonoro daquele time. Maria Fumaça (que se tornou tema de abertura da novela Locomotivas, da TV Globo), equilibra elementos das músicas brasileira e norte-americana de forma muito singular. A bateria mescla batidas do Funk com o swing do Samba, e o entrosamento total entre cuíca e guitarra na segunda parte é uma das marcas do trabalho.
Os temas instrumentais impedem qualquer ouvinte de ficar parado ao longo de toda a obra, seja no groove contido porém preciso de Caminho da Roça, ou na baladinha melódica que evoca com muito charme o clima da Bossa Nova em Junia, com um gingado que lembra as românticas e sentimentais ondas do mar e que poderia ambientar grandes clássicos dos maiores nomes do Funk e Soul brasileiros da época.
Assim como uma locomotiva fantasiosa e, ao mesmo tempo, urgente, a Banda Black Rio entregou em seu primeiro disco clássicos impossíveis de serem copiados com o mesmo compasso e swing. Logo de cara eles já se tornaram os reis da Black Music instrumental e o álbum dá um passo adiante em relação aos caminhos que artistas como Tim Maia traçaram desde o começo dos anos 1970, acrescentando referências do Jazz na mistura de Funk e Soul americanos e grandes influências brasileiras, expandindo-a para outros ritmos brasileiros, como o Samba e o Choro (como na versão para Urubu Malandro).
Após Maria Fumaça, o grupo ainda lançou mais dois álbuns de sucesso, mas que não foram tão estrondosos quanto o primeiro: Gafieira Universal, lançado em 1978, e Saci Pererê, em 1980. Porém, o destino quis o falecimento do saxofonista e coração da banda Oberdan Magalhães e, com a perda, também dissolveu-se a Banda Black Rio. Mas, em 1999, William Magalhães, filho de Oberdan, decidiu colocar o groove do seu pai para rodar novamente e reviveu a banda, que contou com um único membro original, Lúcio Trombone.
Desde então, a nova formação da Banda Black Rio já lançou dois álbuns de estúdio e realiza shows por todo o Brasil e mundo levando um legado gigantesco que seu pai deixou para a música popular brasileira.
A música conecta.