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A música conecta

Vitrola Review | Pedro Santos – Krishnanda

Por Laura Marcon em Vitrola 17.09.2020

Da grandeza e riqueza da música brasileira, um dos grandes pesares que enxergo é a quantidade de valiosas pérolas sonoras que não receberam o devido destaque quando da sua publicação ou até mesmo caíram no esquecimento ao longo dos anos. Sempre que escrevo esses reviews me pego pensando quantos outros álbuns e artistas de alto nível estiveram – e ainda estão – por aí mostrando sua arte e são reconhecidos apenas por uma pequena parcela de um público que acompanha e pesquisa nossa cultura com maior profundidade. Felizmente a cultura da música brasileira, em seu viés mais conceitual, tem conquistado cada vez mais espaço entre amantes do estilo e, além de dar espaço para novos talentos, trazem novamente à vida outras obras magníficas de nossa história.

Esse é o caso do álbum que iremos comentar nesse novo capítulo do Vitrola Review. Chega até ser um tanto quanto desafiador fazer uma matéria sobre ele porque qualquer review vem carregado de inúmeros elogios, o que simplesmente impressiona pelo fato de que, por muitos anos, a obra foi esquecida. Trata-se de Krishnanda, um LP criado por Pedro Santos, ou Pedro dos Santos, ou Pedro Sorongo, ou Pedro da Lua. O artista que, após uma atuação na Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial, resolveu dedicar-se integralmente à música e principalmente à percussão e à composição. Pedro foi conhecido não apenas por tocar instrumentos, mas também por inventá-los a partir de objetos não convencionais à música.

Tendo participado de algumas gravações com artistas importantes desde o início de sua carreira, Pedro decidiu, em 1968, criar seu próprio álbum, que levou o nome de Krishnanda. A obra experimental, com uma atmosfera mística, letras poéticas e percussão imponente, é simplesmente algo completamente fora da curva. Os arranjos são peculiares, ritmos diversos, sons da floresta, instrumentos que teoricamente não combinam entre si e ainda os instrumentos criados pelo próprio Pedro a partir de bambus ou brinquedos infantis, por exemplo.

O álbum é composto de 12 faixas de duração relativamente curta, de 2 a 3 minutos. Cada uma delas está perfeitamente posicionada a criar uma perfeita história musical em sua própria imperfeição. O resultado das invenções sonoras podem até ser assemelhados à música eletrônica em alguns momentos, mesmo que na época sequer existissem possibilidades de produzir os sons eletronicamente. A criatividade foi além do normal e realmente impressiona quando ouvida com calma e na sequência projetada por Pedro.

Mesmo com toda a qualidade da criação, o Brasil vivia um período musical diferente e politicamente complicado e o álbum não recebeu a devida atenção desde o seu lançamento, caindo no esquecimento ao longo dos anos. Apenas no começo dos anos 2000 começaram a surgir cópias piratas de CDs e versões em MP3 da obra em países gringos, que chegaram nas mãos dos pesquisadores aficcionados por criações mais conceituais e obscuras da música brasileira. Com o passar dos anos Krishnanda se tornou uma obra de colecionador valiosíssima e igualmente rara, até que, em 2012, foi relançada no Brasil e, em 2016 no Reino Unido e Japão.

O álbum é de fato uma viagem sonora e merece toda a atenção em sua audição. Vale a pena ser apreciado e é de fato uma criação rara, única e de altíssima qualidade. E pensar que essa obra prima poderia continuar no esquecimento…

A música conecta.

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