Existem alguns assuntos que naturalmente despertam mais o interesse do público. Quando temos a oportunidade de entrevistar um artista referência no meio, é natural que procuramos abordar de forma criativa esses principais tópicos. Mas e se tivessemos um canal para compilar respostas de alguns dos principais profissionais do cenário nacional e internacional em torno de um mesmo assunto? Agora temos: bem vindo ao Alataj Talks.
A nova coluna do Alataj convida profissionais de destaque da nossa indústria para expor suas opiniões relacionadas a um determinado assunto. O ponto de partida aconteceu com a pergunta: Qual o futuro do tech house a nível internacional? O estilo, tradicionalmente muito bem aceito pelas pistas brasileiras, vive um momento de transição, principalmente por conta da “invasão” de DJs e produtores de outros estilos com maior aceitação popular, que agora estão investindo suas faixas na vertente.
Para esse primeiro Alataj Talks, convidamos Albuquerque, Rafael Bado, Dakar, Mar-T, Flashmob, Sidney Charles, Rodrigo Ferrari e o duo Fancy Inc para expor seus pontos de vista. Confira abaixo a opinião de cada um:
Albuquerque
Eu entendo que desde que o house tomou as pistas de dança no começo dos anos 90, o tech house sempre esteve lá com sua estética futurista e agressiva. A musica eletrônica já provou muitas vezes que é cíclica e esse é o segundo ”boom” do tech house que eu vivo não é novidade, provavelmente já houveram 2 ou mais antes. Quando isso acontece, fica clara a diferença entre as fórmulas prontas e batidas que existem em qualquer gênero e o ”puro sangue”que toca a alma, mexe com os sentidos e te faz querer mais.
O tech house muitas vezes é traiçoeiro pros DJs sem background. Sua intensidade pode enganar um Disc Jockey principiante que se deixa levar apenas pela força e não pela sensação. Um tech house bem tocado pode muito bem ter toques do deep, do progressive e claro, do seu primo nervoso, o techno. Pra mim o futuro do tech house é mais que promissor. Muito mais que snare rolls sem fim e hi hats abertos que rasgam o tímpano dos desavisados, o encaixe de elementos inteligentes que fazem seu corpo mexer estão longe de serem esgotados no estilo. O buraco de ar entre as notas de baixo e o kick, o vocal sutil que na repetição te faz voar longe, a percussão que inquieta o quadril das gatas na pista… sim o mundo ainda vai ouvir muito tech house bom!
Acredito que o tech house ainda vai crescer muito em 2018. Se você observar o ranking das plataformas digitais, 7 de 10 tracks são do gênero.
Fancy Inc
O tech house está atravessando a sua melhor fase de popularidade a nível mundial, por ser um gênero “straight to the point”, dançante e que principalmente consegue dialogar com um número maior de pessoas. Estamos vendo o estilo ser adotado cada vez mais, inclusive por brasileiros. Isso nos deixa muito felizes, pois apostamos nele há alguns anos.
Flashmob
Sinto que o tech house nos últimos 18 meses ou mais, assumiu uma enorme lacuna no mercado criado pela EDM e outros gêneros que atualmente estão menos na moda. Especialmente com referência à como os gêneros agora são redistribuídos e fundidos nas principais lojas/sites de varejo. Em minha opinião, o tech house atual absorveu muito da house music e muitas outras influências também, tornando-se um novo ’tech house’ moderno. O estilo tornou-se um enorme recipiente que está promovendo uma onda de som excelente e, na minha opinião, a mais influente hoje ao lado do techno, é tecnicamente mais acessível, mais fácil de produzir, menos rígido nas suas formas e definitivamente muito atual e popular entre os jovens amantes da música eletrônica.
Quanto ao futuro do gênero, acho que vai dominar ainda mais, principalmente agora que o house está em alta novamente. No momento em que saturar (como isso sempre acontece com as tendências populares), se tornará verdadeiramente um novo gênero forte na cena, vejo isso se tornando uma figura sólida no futuro. A produção de música eletrônica é mais acessível para todos agora devido à tecnologia e o tech house é o estilo perfeito para as novas gerações serem criativas: esta é a evolução, se quisermos fazer parte dela, não devemos criticá-la, apenas nos adaptar.
Mar-T
O tech house para mim é o som que está entre o techno e o house de Chicago. O gênero existe desde o início (parecido com techno) e permanecerá enquanto existir techno. Globalmente, o tech house adapta-se a cada território, alguns países preferem mais melódico, outros mais loopado e outros mais percussivos. Não é um som comercial para todo o mundo, no entanto, em alguns países os DJs escolhem mixar com house comercial e até EDM, mas esses não são sets de tech house adequados na minha opinião.
Rafael Bado
Acredito eu que o tech-house seja um dos gêneros a serem apostados no momento. Muitos artistas que antes tocavam b-bass, g-house e derivados, estão aos poucos migrando para um tech house mais inicial, rasgado, com viradas mais gritantes e explosões mais voltadas ao dance floor. Isso contribuiu muito para o desenvolvimento da cena e a exposição de um lado um pouco menos comercial da dance music.
Paralelamente a isso, muitos dos artistas de tech house estão inovando, diferenciando seu som, apresentando linhas de tech house mais serias, muitas vezes mesclando com algo mais minimal tech e progressivo. A nível global, eu acredito que temos uma menor diferenciação de diferentes linhas de tech-house, com festas como Paradise, DC-10, Circoloco, Kaluki, Desolat, Elrow, Kiesgrube nos mostrando que o gênero está sim em ascensão e veio pra ficar. Percebo até que alguns tem começado a falar em um lado mais “perverso” do gênero, intitulado pelo termo em inglês como naughty tech house. Como leitura complementar recomendo o artigo que saiu ano passado pela Mixmag, falando um pouco mais sobre isso.
Rodrigo Ferrari
Há tempos venho observando um ciclo de mutações terminando e se reiniciando nas produções da música eletrônica de maneira geral. Com o tech house, não é diferente. Vi o estilo passar por muitos momentos interessantes, tentativas e reais inovações, na maioria das vezes geradas por novos recursos e tecnologia, mas por um outro lado fórmulas repetitivas de produções que seguem os grandes nomes e hits dos portais de venda. Seu futuro? Vejo voltando como no início, o groove mais minimalista com as influências do techno de Detroit.
Sidney Charles
Ao meu ver, o tech house ganhou muito apoio nos últimos 3 anos. É definitivamente mais conhecido internacionalmente agora e acho que a tendência continuará. Especialmente quando você olha conceitos como a Elrow, com seu enorme sucesso, você consegue ver que as pessoas estão se familiarizando mais com esse tipo de som. Embora seja um estilo relativamente menos conhecido em relação ao techno ou house separadamente, acredito que nos próximos anos, cada vez mais DJs que tocam tech house estarão dividindo os mesmos palcos que nomes proeminentes do house e techno.