Por Paulo Boghosian
Como muitos sabem, sou DJ de origem. Toco desde os 15 anos de idade, então se tornou algo natural. Já a produção musical foi algo que desenvolvi mais tarde. Produzo há um pouco mais de uma década. Sempre tive muitas ideias e samples que eu queria transformar em música para a pista, mas, conseguir traduzir o que estava na minha cabeça para a música foi um processo que necessitou alguns anos de aprimoramento. Sou muito perfeccionista e nunca quis soltar nada que não estivesse de acordo com o padrão que eu havia estabelecido como DJ, por isso as produções começaram a sair apenas em 2011. Abaixo, separei uma compilação das minhas favoritas:
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Boghosian – Balaka
Essa é a minha preferida por vários motivos. Primeiro porque o sample é de um coro de crianças africanas que cantam em uma música de um dos meus artistas preferidos de jazz/world music. Uma música pouco conhecida e que não tinha formato 4/4, então exigiu um trabalho enorme de recorte e recriação da melodia que durou quase um dia inteiro. Segundo porque foi lançada em um selo que estava entre os mais hypados da época, o Cécille Numbers, mas que hoje infelizmente fechou porque os sócios seguiram caminhos diferentes.
Terceiro porque chegou no top 5 das tracks mais charteadas do mês no Resident Advisor e no top 100 do ano em que foi lançada. Quarto porque eu amo a arte de capa do disco! E quinto porque ela foi relançada recentemente pelo Warung Records com remixes da Blond:ish e do Hauy, dois artistas que admiro e que fizeram um excelente trabalho deixando a track bem atual.
Boghosian – Esta Vida
Esta Vida é mais um exemplo de um sample que eu entendi que funcionaria bem na pista com a batida certa. O sample muitos reconhecem e essa é a ideia mesmo. Um vocal lindo encaixado em uma batida orgânica, simples. Foi lançada originalmente em 2013 mas foi ressuscitada algumas vezes ao longo dos anos, por exemplo pelo John Digweed na sua compilação Live in Tokyo que saiu pela Bedrock e também pelo Hot Since 82 quando ele soltou ela em um set em Ibiza tocando em um barco e o vídeo viralizou.
Curioso que fez sucesso com DJs de estilos muito diferentes, do chill out ao techno. Recentemente eu estava tranquilo na salada de casa entre uma gig e outra no carnaval e estava rolando um bloquinho eletrônico aqui do lado, de repente escuto ela, fiquei bem feliz.
Boghosian – Analogue
Analogue foi mais uma track que ganhou tração ao longo do tempo. Saiu pelo selo da Aninha e da Antonella, o AiA Records, o que é muito bacana por ser um selo nacional — aliás a curadoria do selo é excelente. É uma track com uma pegada de deep house mas com um bassline old school contagiante e high strings de house clássico também. Ela tem elementos bem diferentes uns dos outros, mas que funcionam bem juntos.
Boghosian – Fragments
Fragments é uma track menos musical e mais pista. Uma pegada hipnótica do início ao fim que vai evoluindo. Nela eu abuso dos reverbs e deixo o bassline como elemento principal da mix, o que a deixa com um clima meio obscuro, misterioso. Foi feita inspirada nos warmups no Warung. Saiu por outro selo alemão do Nick Curly e Marc Scholl, a Voltaire Music.
Boghosian – La Palabra
La Palabra é o lado B da Esta Vida e também contém um vocal lindo, desta vez sampleado de uma artista Mexicana. Foi uma das primeiras tracks que eu produzi, por isso ela é especial. A música estava assinada com o Jimpster e sairia pela Freerange três anos antes, mas na semana do seu lançamento, saiu uma track do Kabale & Liebe usando o mesmo sample e o release foi cancelado. Imagina a minha frustração na época…
Feliz que essa track saiu eventualmente como o lado b pela gigante DFTD. Ela tem uma batida bem orgânica e minimalista, uma mix fechada e ao mesmo tempo muita personalidade. Contou com a ajuda do André Torquato e do Ale Reis que na época me ajudaram com a produção.
A música conecta.