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A música conecta

Alataj entrevista David Hohme

Por Alan Medeiros em Entrevistas 07.03.2019

É notório que alguns artistas de música eletrônica possuem uma significativa capacidade de emocionar através de seus DJ sets e produções. O americano David Hohme é um desses nomes dotados de habilidades especiais que são direcionadas para essa finalidade e seus recentes trabalhos reforçam tal estigma.

A música de David ganhou mais representatividade no cenário global após o lançamento do EP Soft Landing pela Anjunadeep, gravadora de deep house gerenciada pelas lendas do Above & Beyond. Logo após o release, que conquistou bons resultados nas plataformas digitais, Hohme trabalhou em um remix para Francesca Lombardo em sua gravadora Echoe e lançou Without Doubt pela Desert Hearts, faixa que ainda foi remixada pelo francês Rodriguez Jr. Em Janeiro deste ano, ele voltou a Anjunadeep para o release de Onward Only, uma collab com Dustin Nantais.

Após tocar por 8 anos consecutivos no Robot Heart do Burning Man, David Hohme aterrizou no Brasil no último mês de Fevereiro para uma gig de estreia na Sábado Dre Tarde, festa organizada e promovida por Dre Guazzelli. A energia positiva e o caráter emocional de suas produções (como citado no primeiro parágrafo) casaram perfeitamente com o público brasileiro e certamente essa foi apenas a primeira de muitas passagens do americano por aqui. Aproveitamos a ocasião para bater um papo exclusivo com David. Confira abaixo:

Alataj: Olá, David! Tudo bem? Muito obrigado por falar conosco. Desde o ano passado você tem estimulado um relacionamento especial com a Anjunadeep, especialmente após o release de Soft Landing. O que você destacaria de mais especial nessa parceria até aqui?

David Hohme: Estou ótimo! Muito feliz por estar relaxando em São Paulo após a minha gig no Sábado Dre Tarde e antes de tocar no Rio para o Carnaval. Sou muito grato pelo apoio da Anjunadeep no ano passado. Eu destacaria o convite para participar da tour Open Air no último verão. Além de ser uma honra tocar com eles, fiquei encantado com o quanto o público/família Anjuna são incríveis. Tem muito amor e paixão dentro dessa comunidade.

Percebo que sua música possui características bastante emocionais e reflexivas. É possível dizer que causar esses sentimentos nas pessoas é uma de suas prioridades no estúdio?

Absolutamente. Estou tocando na cena underground há quase 10 anos e muitas vezes sinto que existe uma competição – não dita – entre os DJs para tocar mais pesado/obscuro/estranho. Eu, particularmente, gosto de andar na linha entre se sentir bem e o foda-se, e sempre me sinto chamado para inspirar as pessoas. Provavelmente é por isso que as pessoas costumam referir às minhas produções/sets como encorajadores. Principalmente em nosso atual momento, pretendo usar minha música como uma arma para o bem, uma arte para fazer as pessoas felizes/aceitas.

Grandes festivais ou clubs undergrounds: qual destes dois cenários oferece a você um ambiente mais confortável para discotecagem?

Para a minha zona de conforto, clubes underground. Som, um bom engenheiro de iluminação e um público de ouvintes com a mente aberta é difícil de superar. Principalmente se é um ambiente intimista e o nível da cabine de DJ com o público não seja separado por um palco. Tendo dito tudo isso, neste ponto da minha carreira, fico muito mais ansioso/desafiado ao tocar em grandes festivais. Você não vai crescer se ficar na sua zona de conforto!

Admiro artistas que conseguem desenvolver narrativas fora de sua zona de conforto – e você parece ser um deles. Como você busca ser criativo trabalhando seu perfil enquanto DJ e produtor simultaneamente?

Juro que não tinha lido essa pergunta antes de responder a última. Aprendi há algum tempo que você nunca irá mudar, evoluir como humano ou ser melhor se você não desafiar a si mesmo. Me inspiro em tantas coisas diferentes, mas não há nada mais importante do que a busca constante por novas músicas que me impactam emocionalmente para compartilhá-las com os outros. Esse é um dos motivos pelo qual eu gosto tanto de tocar para o público do Burning Man. A maioria das pessoas para quem estou tocando saíram da sua zona de conforto para estar lá, buscando descobrir como fazer a vida funcionar em um ambiente tão precário. Entregar a trilha sonora durante esses momentos de crescimento pessoal é uma honra para mim.

Seu currículo conta com um long set bem especial no Burning Man, não é mesmo? O que essa experiência trouxe de mais especial para sua carreira?

Este será o meu nono ano consecutivo tocando no Burning Man. É muito difícil dizer qual é a coisa mais especial, mas o que eu mais gosto é que, na maior parte do tempo, as pessoas estão realmente vivendo o momento no Burning Man. Elas estão lá pela jornada, não há nenhum lugar e, ao mesmo tempo, há todos os lugares para ir. Não existe ninguém fazendo planos no celular, elas estão apenas indo com o fluxo. Tocar para um grande número de pessoas que têm a mente aberta é 100% único. Não há nada que eu tenha experimentado que seja parecido com isso.

Recentemente você tocou pela primeira vez no Brasil e certamente houve uma grande espera por este primeiro encontro com o público brasileiro. O que você sabe a respeito da nossa cena e qual exatamente era a expectativa em torno dessa passagem por aqui?

Por muitos anos tenho escutado de outros DJs o quanto os brasileiros gostam de música melódica. Então, com certeza, estive sonhando em tocar aqui por quase toda a minha carreira. Não poderia estar mais feliz pelo resultado da primeira gig em São Paulo.

Seu single Without Doubt foi lançado pela Desert Hearts e ganhou um remix bem especial do Rodriguez Jr. O que a concretização desse trabalho representa na sua carreira?

Foi um sonho realizado. Rodriguez Jr. tem sido um dos meus produtores preferidos de todos os tempos. Receber o e-mail dele de volta dizendo ‘sim’ me fez sorrir. Faz parte de outros marcos da minha carreira, ao lado dos lançamentos pela Anjunadeep, trabalhar com Jody Wisternoff, assim como tocar em Buenos Aires e claro, aqui no Brasil.

Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

Ela me faz continuar e me inspira. Quando vejo as pessoas sorrindo e dançando, lembro que elas são naturalmente boas. A música é o meu remédio.

A música conecta.

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