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A música conecta

Alataj entrevista Dekmantel crew

Por Inacio Martinelli em Entrevistas 26.04.2018

Não é segredo que os holandeses sabem produzir festivais como ninguém. Apenas em Amsterdam, são realizados mais de 300 todos os anos. Porém, atualmente, nenhum deles chama mais atenção do público e da crítica especializada do que o Dekmantel. Criado em 2013, o evento rapidamente conquistou uma reputação invejável, baseado na trinca: curadoria impecável, clima intimista e local atrativo. Como resultado, a edição de 2018 – que reúne artistas como Orbital, Jamie xx, Four Tet e Ricardo Villalobos – esgotou em menos de uma hora.

Dekmantel Amsterdam (Yannick van de Wijngaert)

A história de sucesso do Dekmantel começa com os amigos de infância Thomas Martojo e Casper Tielrooij, que estavam cansados da cena de minimal techno que dominava Amsterdam nos anos 2000 e começaram a produzir as suas próprias festas. A primeira delas foi em 2007, na qual o talento local San Proper era a principal atração. Mais tarde, Matthijs Terville se juntou à dupla, formando o núcleo principal do Dekmantel. Além de produzirem eventos, os três também criaram um selo próprio, lançando músicas de nomes como Juju & Jordash, Vakula e Tom Trago.

A evolução das festas até o festival aconteceu de forma gradativa e a primeira edição do Dekmantel contou com nomes como Laurent Garnier, Underground Resistance, Jeff Mills e Ben Klock. Hoje em dia, o evento expandiu as suas fronteiras e também é produzido em São Paulo, onde já está em sua segunda edição, e no litoral da Croácia, onde acontece em versão reduzida: Dekmantel Selectors.

Dekmantel São Paulo (Sem crédito)

Para entendermos um pouco melhor sobre como a marca Dekmantel se tornou o que é hoje, conversei por e-mail com Thomas, Casper e Matthijs. Confira a entrevista completa abaixo:

Alataj: Apesar de todo o sucesso e da enorme demanda por ingressos, o Dekmantel continua sendo um evento de pequena escala. Quais são as principais razões e os desafios de manter o Dekmantel nesse formato?

Dekmantel Crew: A maior razão para mantermos o Dekmantel (e todos os nossos outros eventos) nessa escala é porque nós nos preocupamos em criar um clima intimista. Você aproveita a música de forma diferente – no bom sentido – quando o festival não é tão grande em termos de capacidade. Nós expandimos em números de dias (a programação de quarta e quinta foi adicionada nos últimos três anos) ao invés de tamanho, o que funciona perfeitamente para nós, pois podemos destacar diferentes músicos/artistas de forma única. Isso tudo já é um desafio de uma forma geral.

A programação do festival é um de seus principais atrativos, misturando artistas novos com nomes mais conhecidos, projetos especiais como o Carl Craig Synthesizer Ensemble e artistas que não são necessariamente ligados à música eletrônica como o Thundercat, por exemplo. Como funciona o processo de curadoria do festival? Qual o segredo para não só manter o nível do line up a cada ano mas também não repeti-lo?

O segredo é seguir o nosso instinto. Nós assinamos artistas que gostamos e nós curtimos nomes de diversos estilos, podendo ser tanto o Thundercat, quanto o Carl Craig Synthesizer Ensemble ou Azymuth, por exemplo. Isso reflete na forma que escolhemos esses artistas e é incrível que as pessoas tenham o mesmo amor que temos por eles.

Thundercat (Motormouth Media)

Existem artistas que o Dekmantel não conseguiu atrair até hoje? Quem são eles?

Ah! É claro. Mas nós manteremos isso em segredo. Se tudo der certo, você os verá no line up nos próximos anos.

Cashu e Selvagem são nomes importantes da cena underground brasileira. Selvagem já se apresentou no Dekmantel anteriormente. Cashu vai fazer a sua estreia no festival, apesar de já ter se apresentado no Dekmantel São Paulo. Vocês podem nos falar um pouco sobre a inclusão delxs no lineup? Existe uma preocupação em dar mais espaço para artistas que vêm de fora do eixo EUA-Europa?

Temos uma conexão especial com o Brasil devido às amizades que temos por lá, que começaram com o pessoal da Gop Tun e, obviamente, devido ao Dekmantel São Paulo. Existe uma espécie de energia nova na cidade, que se reflete na cena músical local. Existem muitos artistas talentosos no Brasil. Cashu e Selvagem, com certeza, são três deles. Nós achamos importante dar espaço a esses artistas em nosso festival em Amsterdam também. Eles merecem esse destaque tanto quanto os seus colegas de fora da América do Sul.

Existe muita discussão hoje em dia a respeito da desigualdade de gênero na programação de festivais. Cerca de 25 artistas femininas (solo ou parte de um projeto) irão se apresentar no Dekmantel 2018. Embora não seja possível afirmar que o festival tenha atingido a igualdade nesse sentido, houve uma melhora significativa desde a primeira edição. Em 2013, Tama Sumo e Xosar eram as únicas mulheres do line up. Como o Dekmantel lida com essa questão? O aumento no número de performances femininas no evento aconteceu naturalmente ou foi algo posto em prática para combater a desigualdade de gênero no line up?

Existem muitas artistas femininas talentosas surgindo no momento, o que é algo ótimo. Isso se reflete na programação do festival.

Hoje em dia, o Dekmantel Soundsystem (dupla formada por Thomas Martojo e Casper Tielrooij) também se apresenta em festas fora de Amsterdam e pode ser encontrado no line up de outros festivais. Quais são as principais diferenças entre tocar no Dekmantel e em outros eventos?

Os eventos ligados ao Dekmantel são os nossos “bebês”, então tocar neles é como jogar em casa. É ótimo ter todos os nossos amigos, famílias e colegas de trabalho ao nosso redor. Porém, tocar em outros lugares é muito excitante e também desafiador, já que você (quase) nunca sabe o que esperar. Tocar long-sets, por exemplo, foi um grande desafio para nós e nos ensinou muito. Além disso, é ótimo conhecer novos promoters, que são apaixonados pelo que fazem assim como nós.

Desde a primeira edição, o festival é realizado no Amsterdamse Bos, um gigante oásis verde na parte sul de Amsterdam. Vocês podem nos contar um pouco sobre a conexão entre o Dekmantel e o parque?

Nós queríamos que o Dekmantel fosse realizado em uma área verde, então procuramos diversos parques em Amsterdam. Imediatamente, nos apaixonamos pelo Amsterdamse Bos. Hoje em dia, quando o público pensa no Dekmantel, também pensa no parque. Já faz parte do nosso DNA.

Amsterdamse Bos (Yannick van de Wijngaert)

Realizado em Março, o Dekmantel São Paulo ganhou muitos elogios mais uma vez. Quais os planos para o futuro do evento?

Como dissemos anteriormente, a cena brasileira está se desenvolvendo muito rápido. Na Europa, já está bem consolidada, com centenas de clubs e festivais à disposição. Em geral, temos muita experiência por aqui em termos de organizar festas e festivais. Já no Brasil, é uma área nova para a gente. Tentamos levar música nova para o solo brasileiro, combinando-a com as lendas locais e talentos da América do Sul. Para nós, essa mistura é muito importante e é o que nos anima a realizar o evento. Reconhecer a importância do país e valorizá-lo é uma prioridade para nós.

Confira a programação completa do Dekmantel 2018 aqui.

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