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A música conecta

Alataj entrevista Fernando Moreno

Por Alan Medeiros em Entrevistas 02.07.2018

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O mercado brasileiro é formado por poucas agências dedicadas exclusivamente ao universo da música eletrônica. Esse número é ainda menor se levarmos em consideração empresas que estão na ativa já há alguns anos, exercendo um trabalho sólido e com background profissional série e responsável. O mercado é cruel, extremamente mutável e exige uma equação complexa para os profissionais que buscam aliar bom serviço com artistas nichados a uma sustentabilidade financeira.

Dentro desse panorama, destaque para Smartbiz, agência liderada por Fernando Moreno, que hoje apresenta em seu casting três dos nomes mais importantes da história da dance music no Brasil: Anderson Noise, DJ Mau Mau e Renato Cohen. Ao longo dos últimos anos, Fernando acompanhou as intensas transformações do mercado e com um cuidado especial com seus artistas, tornou a sua agência uma referência importante no trabalho de bookings relacionados a house e techno em terras brasileiras.

A nosso convite, Fernando Moreno falou com exclusividade ao Alataj sobre seu trabalho com artistas nacionais e internacionais, desenvolvimento da música eletrônica no Brasil, alta do dólar e a profissionalização de setores ligados a indústria da dance music no país. Confira:

Alataj: Olá, Fernando! Tudo bem? A Smartbiz se diferencia das demais agências do país com sua proposta de casting mais enxuto e certeiro. O que levou você a trabalhar dessa maneira?

Olá, Alan! Tudo bem? A SmartBiz foi fundada em 1999, oficialmente passou a existir em 2000. Desde aquela época a ideia sempre foi manter um casting enxuto de DJs, entre artistas consagrados e novos talentos, primando pela qualidade. Esse formato se manteve desde então, hora mais amplo, hora mais controlado, sempre focado em manter uma coerência conceitual e musical. Quando você tem menos artistas, dá para ter um contato mais próximo, fica mais interessante e produtivo para ambos.

Recentemente foi anunciada a representação do projeto 30/30. Quão especial pra você tem sido desenvolver esse projeto?

O 30/30 veio como celebração dos 30 anos de dois dos mais importantes nomes do cenário eletrônico, os DJs Anderson Noise e Mau Mau. A ideia é que ele se expanda e também avance para a produção musical, com uma residência em SP e outra em BH, terra natal de cada um deles.

Além dos nacionais, há também um trabalho bastante relevante com os internacionais – Laurent Garnier e Miss Kittin, apenas para citar alguns. Quais foram os maiores aprendizados que você obteve trabalhando com artistas desse calibre?

Cada um traz algum aprendizado, por mais que exista um “protocolo” na contratação, recepção e formatação da tour, sempre tem as peculiaridades de cada artista. Alguns demandam mais, outros são humildes e tem foco na musica. Mais do que aprendizado, com algum deles existe uma relação duradoura, próxima, de confiança, amizade e respeito. É isso que vale mais a pena.

Você não somente acompanhou o desenvolvimento da música eletrônica no Brasil nas últimas décadas, como participou ativamente desse processo. Na sua visão, é possível dizer que estamos passando por um momento de consolidação do mercado? Como você enxerga o futuro da cena house/techno aqui no Brasil?

Quando comecei, éramos um punhado de jovens idealistas, eu praticamente conhecia todos os DJs em atividade no Brasil, o mesmo valendo para os donos de casas noturnas e eventos. De la para cá, o mercado cresceu muito, ficou gigante, mas a cena já está consolidada faz bastante tempo. Idem para House e Techno, dois estilos trabalhados por aqui há mais de 20 anos. Tudo passa por “ciclos”,  ficam em alta ou e em baixa durante determinados períodos e depois voltam. Os principais alicerces do mercado já estão implantados, o caminho é encontrar a flexibilidade para lidar com essas movimentações que ele apresenta.

Sobre o momento econômico atual. A alta do dólar faz com que os cachês de artistas gringos aumentem de forma automática. Esse momento realmente facilita o booking de brasileiros em ocasiões que antes era mais fácil ter os internacionais ou é apenas um período de valorização do artista nacional?

Tem artistas internacionais que, pelo nome e posição, não são afetados pelas nossas crises econômicas. Alguns outros já sabem que só conseguirão vir se forem mais flexíveis. No caso dos DJs nacionais, tem muita gente boa e talentosa e por ai, com um time excelente por trás, então o resultado aparece. A credito que há espaço para ambos. 

De 10 anos pra cá, os clubs e as agências brasileiras passaram por um importante processo de profissionalização. Isso significa funções foram delegadas a pessoas realmente preparadas para as tais. Ainda assim, eventualmente é discutido melhorias e algumas insatisfações são expostas por parte de quem trabalha no meio. Em que ponto, os bastidores da música eletrônica ainda precisa melhorar na sua visão?

Realmente nosso mercado conta com profissionais de altíssimo nível, tão bons ou até melhores que muitos da Europa ou EUA  – já vi muito artista de fora elogiando nossos  festivais, clubs, DJs, etc. Sempre haverá algo a melhorar e a insatisfação é algo inerente ao ser humano, pode ser motivador para alguns ou pode ser paralisante para outros, típico caso daquele cara chato que reclama o tempo todo ou daquele outro que busca resultado imediato e não dá tempo para que as relações amadureçam, por exemplo. Erros acontecem, como festas com estrutura mal dimensionada (bar, som, luz, conforto, etc) ou produtores que não cumprem com os riders, prejudicando a si próprios. O ideal é aprender e melhorar na próxima.

Pessoalmente, quais artistas e movimentos musicais tem captado a sua atenção nos últimos meses?

Eu tenho ouvidos bem atentos e sempre fui musicalmente curioso e amplo, valendo qualquer época e qualquer estilo, o que, de certa forma, te liberta. Tive que buscar essa resposta na últimas musicas da minha playlist do celular: Nebraska, Cardi B, Radio Slave, GRRL, Royksopp, Junior Sanchez, Bruno Mars, Hammer e outros.

Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

Eu reconheço que todas as fases foram acompanhadas por alguma trilha sonora. Quando criança, eu pedia pra minha mãe me comprar trilhas de novelas, que traziam disco music, pop, rock e juntava com os discos de vinil que tinha em casa, catalogava, organizava e ainda tocava nas festinhas.
Quando adolescente, ouvia rock pesado e heavy metal, cheguei a ser roadie de duas bandas. Depois fui “mordido” pelo estilos pós punk/new wave e daí foi um pulo para cair nas casas noturnas que já traziam DJs com novidades de House e Techno – assim fui acompanhando o começo da evolução da cena nacional.
Há 25 anos anos, pelo menos, eu vivo 100% de música, através de varias abordagens (agência, eventos, curadorias, tocando, etc). A música sempre me move, um exemplo é o lançamento do selo Massa Records em Outubro, meu e do Renato Cohen. Coisa boa vindo aí!
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