No último dia 20 de janeiro, o Dekmantel revelou o lineup oficial para a edição de 2025 do festival, que acontecerá entre os dias 30 de julho e 3 de agosto. O anúncio reafirma a posição do evento como uma das curadorias mais respeitadas da cena eletrônica global. Após celebrar seus dez anos em 2024, o festival segue sua trajetória consolidada como um dos principais espaços de inovação e exploração artística no circuito internacional.
O lineup deste ano reforça a identidade do Dekmantel ao apresentar uma seleção de artistas que conecta passado, presente e futuro da música eletrônica. Entre os destaques, estão performances únicas e combinações inéditas, como o show DEX EFX XOX de Richie Hawtin, o all day b2b entre Floating Points e Palms Trax, além do live de Roza Terenzi. O festival também mantém seu compromisso com a cena local, trazendo nomes fundamentais da música eletrônica holandesa para o centro do palco.
No entanto, um dos anúncios que mais chamou atenção foi a confirmação de um b2b entre Sasha e Young Marco. O nome da dupla, posicionado entre os headliners, pode ter passado despercebido à primeira vista, mas carrega um significado interessante quando analisado de forma mais aprofundada.
Nos últimos cinco anos, uma nova onda de sonoridades progressivas tem ganhado força, resgatando elementos dos anos 90 e incorporando influências contemporâneas. O fenômeno pode ser interpretado de diferentes formas: para alguns, trata-se de um trance revival, enquanto outros preferem classificá-lo como Liquid House ou Cosmic House. Independentemente da nomenclatura, esse movimento tem em comum uma abordagem atmosférica, hipnótica e imersiva, na qual progressões melódicas e grooves bem presentes desempenham um papel central, sempre amparados por ambiências.
Embora essa nova geração de artistas seja fortemente influenciada pelas raízes do Progressive House e do Trance, até o momento, não havia sido estabelecida uma conexão direta entre os pioneiros desse som e os novos expoentes dessa estética. Nomes como Paramida, Jex Opolis, Aldonna, Alex Kassian e Abdul Raeva carregam traços que remetem à obra de figuras como John Digweed, Danny Tenaglia, Quivver, Timo Maas e, evidentemente, Sasha. Porém, essa proximidade vinha se manifestando mais como uma referência conceitual do que como uma interação real entre gerações.
O b2b entre Sasha e Young Marco representa um dos primeiros encontros oficiais entre esses universos, possivelmente o mais relevante até agora, considerando a representatividade dos artistas envolvidos. Sasha é, sem dúvidas, um dos nomes mais icônicos do Progressive House dos anos 90, um artista que se reinventou inúmeras vezes e continua influente tanto como DJ quanto à frente de sua gravadora. Young Marco, por sua vez, é um dos principais nomes associados à marca Dekmantel desde sua criação, um DJ enraizado na cena de Amsterdã que, nos últimos anos, tem direcionado seu som para territórios mais próximos do Trance e Progressivo moderno.
O resultado musical desse encontro é imprevisível. Apesar de existirem pontos de convergência entre ambos, há também diferenças que precisarão ser equilibradas na pista. Enquanto Sasha constrói sets introspectivos, Young Marco frequentemente incorpora elementos mais extravagantes e até mesmo acessíveis ao grande público. Essa dicotomia também se reflete no andamento de suas apresentações: Sasha tende a manter-se entre 120 e 127 BPM, ainda que sua gravadora tenha lançado produções mais aceleradas recentemente, enquanto Young Marco opera regularmente acima de 130 BPM, chegando próximo de 140. Essa disparidade de velocidade e estética torna o b2b uma experiência de fusão entre escolas distintas, em que a harmonia entre passado e futuro do Progressive House será testada em tempo real diante do público.
Quando analisado para além do anúncio de um b2b, essa colaboração pode simbolizar uma mudança de percepção dentro da cena eletrônica. O Progressive House, que historicamente oscilou entre o underground e o mainstream, encontra-se em um momento de ressignificação, impulsionado por novas interpretações e revisitações sonoras, isso tanto dentro da estética que pode ser considerada ‘oficial’, quanto em abordagens paralelas. A junção entre Sasha e Young Marco destaca essa evolução e também sugere que a barreira entre gerações e estilos pode ser superada por meio de um diálogo musical bem conduzido.
Se há uma possibilidade de que essa parceria sirva como um catalisador para novas interações entre artistas clássicos do Progressive House e a geração que revitaliza esse som, Sasha e Young Marco podem estar abrindo caminho para conexões que, até pouco tempo, pareciam improváveis. Será interessante observar o que vem a seguir.