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A música conecta

O duo Fractal Mood fala com propriedade sobre importantes pontos do cenário artístico

Por Alan Medeiros em Entrevistas 01.03.2017

Guilherme L. Picorelli e Henrique A. Marciano formam o projeto Fractal Mood. Seus integrantes se conheceram na conceituada faculdade de Belas Artes, em São Paulo e de lá pra cá um longo e trabalhoso caminho foi percorrido pela dupla, que encontrou na música uma abordagem séria e apropriada para exploração de suas ideias. Tal abordagem, conquistou o respeito de selos renomados na comunidade, como Vinyl Vibes, Get Physical e Kindisch.

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Hoje eles participam de um novo núcleo de aprendizado sobre produção musical e seguem produzindo e tocando música com uma estética diferenciada do marasmo habitual onde se encontram grande parte dos produtores de dance music brasileiros. Em uma entrevista exclusiva, Guilherme e Henrique mostraram com propriedade e ótimos argumentos, opiniões interessantíssimas sobre diversos pontos importantes ligados ao cenário musical e artístico. Além da entrevista, eles apresentam um set exclusivo que estampa o mix 273 do Alaplay Podcast – em breve anexamos o set aqui na matéria. Confira abaixo:

1 – Olá, meninos! Obrigado por nos atender. A história do Fractal Mood é fortemente ligada a esse movimento independente de São Paulo. Vocês realmente presenciaram o surgimento de tudo isso que está acontecendo hoje? Como é participar disso?

Sempre buscamos valorizar ao máximo questões da música. O que vimos é um movimento dos núcleos artísticos que buscam independência devido a carência de hubs criativos que possam somar a arte (independente do formato) destes núcleos e prover uma proporção entre o desenvolvimento artístico e o sustento financeiro dos núcleos. Tudo o que acontece hoje não é novo, acreditamos que é uma evolução da organização profissional de todos que está convergindo na proficiência da entrega dos eventos e por consequência da arte conexa a eles.

2 – Sabemos que vocês possuem carreiras respeitadas fora do projeto Fractal Mood. Falem um pouco a respeito disso…

O Fractal Mood está no mercado há alguns anos, já passamos pelo DPNY em Ilhabela, onde tivemos nossas primeiras experiências com label management, conceitualização musical e o mercado fonográfico. De lá fomos ao D-EDGE, onde trabalhamos no selo D-EDGE RECORDS e no RP do clube. Foi após esse momento que fomos buscar nosso sustento trabalhando com a cena independente.

Na nossa bagagem já vendemos mais de 20 mil coletâneas mixadas e compiladas por nós em parceria com o DPNY e o Wolfgang I Napirei, tivemos nossa primeira passagem no ADE em 2008, participamos ativamente do selo D-EDGE RECORDS e do clube D-EDGE entre 2012 e 2015 e caminhamos participando da produção de algumas festas aqui de SP.

Independente deste caminho, o Fractal Mood é uma parceria que existe desde 2004 entre Guilherme L. Picorelli e Henrique A. Marciano, nos conhecemos na faculdade Belas Artes e estamos desde então desenvolvendo nossos estudos musicais e criativos em parceria. Nossa carreira é focada na música e seus desdobramentos: produção de festas, produção musical, engenharia de áudio, comunicação.

3 – Vinyl Vibes, Get Physical e Kindisch, são apenas alguns dos bons selos que vocês já lançaram. Como tem sido pra vocês o processo de escolha das gravadoras? Há algum label que vocês possuem um relacionamento mais próximo atualmente?

Estamos estudando nossa identidade e estética há muitos anos, de lá pra cá temos centenas de estudos musicais que cultivamos pelo tempo. Acreditamos que o tempo é um ingrediente da produção musical, há projetos que trabalhamos por anos e abandonamos ou o contrario: trabalhamos e lançamos.

Nunca fizemos música com o compromisso de uma estética ou de uma função social com a pista de dança e isso nos deixou livre para fruir nos caminhos que foram surgindo com a nossa maturidade musical. Aprendemos coisas muito interessantes ao trabalhar com a Get Physical, Kindisch e com Vinyl Vibes: a música tem diferentes perspectivas de acordo com o seu contexto e, por consequência diferentes pesos, medidas e isso se reflete na composição, arranjo e escolha de timbres. Ficamos muito honrados de trabalhar com pessoas que escutaram a música criticamente e souberam relacionar todos fatores acima.

Sempre que compomos algo, deixamos maturar no tempo e dividimos com nossos “homens de confiança”, para nos ajudar a perceber a música sob diferentes perspectivas. A música não deve ser um processo individual e deve ser independente para seguir seu caminho. Compor, arranjar, mixar e masterizar uma música passando apenas por uma mente criativa pode ser um tiro no pé de qualquer artista.

Outro passo na produção é que o máximo de pessoas possíveis possam conhecer nossa música e trabalho, neste sentido sempre entendemos que selos com uma posição de grande reconhecimento ajudam muito no processo. O nosso processo de escolha do label sempre foi algo que cultivamos muito apego, mesmo tendo centenas de projetos, escolhemos um caminho mais pontual no quesito da escolha de um selo.

Um dos nossos principais filtros hoje em relação a isto é o nosso amigo vienense Marcus Wagner-Lapierre (Makossa) uma das partes do projeto Makossa&Megablast. Ele é o diretor musical da radio FM4, pertencente ao grupo estatal de comunicação, radio e cinema da Áustria ORF. Inclusive com relação ao nosso EP Petit Terrible o processo foi o esse, enviamos as demos para ele e em poucas horas ele responde: ”este EP tem a estética do selo Kindisch”. Foi muito certeiro!

Na mesma semana, antes de ouvir a resposta do Marcus um dos caras da Get Physical (Patrick Boedemer, M.A.N.D.Y) havia nos enviado um inbox, agradecendo pela nossa música que foi licenciada na compilação mixada pelo Davis e perguntando por mais músicas. Quando enviamos um pack com algumas músicas ele nos apresentou a Mia Lucci, label manager da Kindisch – que é um sub label da Get Physical.

Não poderíamos deixar de citar outras fontes de referências e conselhos neste quesito: nosso grande amigo Francisco Raul Cornejo que consideramos de certa maneira como um guru e nosso mestre e professor George Alveskog – que é mestre em composição pela UNESP, e divide nosso estúdio dando aulas de música avançada para alienígenas.

4 – Na visão de vocês, o que diferencia um bom artista de música eletrônica dos demais?

É sempre delicado julgar o processo criativo de outras pessoas, ao nosso ponto de vista. A nossa música é a sublimação do nosso subjetivo, contexto e mensagem em um suporte musical.

Vemos hoje, tanto na música em si como nos movimentos artísticos uma especulação midiática que tem como alicerce o ego, a exploração da imagem e comunicação, só após todos esses caminhos chegamos na música. O problema está na especulação, na falta de proporção e compromisso com a música, somente alimentando a música e o ego em busca da fama.

temos que aceitar também que a música não existe sem um suporte e contexto, portanto negar esses caminhos também não é a solução. Acreditamos que achar a proporção sustentável entre música, comunicação e exploração midiática é o caminho para determinar o alcance da mensagem.

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5 – Outros movimentos artísticos ou até mesmo trabalhos relacionados a estilos musicais que não sejam a música eletrônica influenciam a forma como vocês trabalham?

Com certeza a gama de referencia que nos envolve e emociona estão também influenciados por trabalhos de diversas frentes artísticas. O Fractal Mood nasceu dentro do laboratório audiovisual da faculdade Belas Artes, inicialmente éramos um projeto audiovisual e chegamos a desenvolver inúmeros trabalhos em parcerias com fotógrafos e artistas plásticos na elaboração de projetos audiovisuais.

A música é universal, o rótulo (principalmente na música eletrônica) é uma ferramenta comercial. Se pararmos para pensar, todos estamos fazendo musica eletronicamente ao usar o domínio digital, portanto, o que torna nossa música eletrônica? O que torna um som não eletrônico? Podemos ter timbres orgânicos com identidades eletrônicas e timbres eletrônicos que são ouvidos como orgânicos…

6 – Qual é a visão de vocês sobre o posicionamento político-social de artistas? Isso deve acontecer? Como vocês tem lidado com esse assunto?

É importante em um momento de instabilidade como o nosso ter opinião e se munir dela para enfrentar as adversidades da vida em sociedade. Não podemos confundir opinião com intolerância – seja ela qual for.

É inaceitável a intolerância, podemos não concordar com as opiniões alheias, mas devemos nos esforçar para compreender o ponto de vista diferente do seu. Só assim podemos iniciar uma discussão saudável sobre a evolução da vida em sociedade. Todos temos opinião, é inerente ao ser humano, a questão é: como expressamos nossas opiniões e como elas se constelam no dia-a-dia?

Não vivemos mais em um contexto de comunicação unilateral (da TV por exemplo). Hoje com o poder de um post, uma opinião pode alcançar incontáveis pessoas e evocar uma série de ações, temos que ser muito conscientes deste poder e ter consciência dos desdobramentos de nossas ações.

No meio artístico, tudo se potencializa: o alcance é maior, mais ramificado e seguidores podem tomar uma mensagem e filtrar como bem entenderem. É importante redobrar a atenção e o compromisso com o desdobramento das opiniões. Temos que ser mais cautelosos ainda quando nossas opiniões estão ramificadas entre arte e negócios.

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7 – Em termos de lançamentos, novidades e gigs, o que podemos esperar do Fractal Mood para 2017? São Paulo possui uma cena efervescente que revela bons artistas o tempo todo. Quem são os novos nomes que estão no radar do Fractal Mood? Vocês podem revelar?

Como dissemos acima, abrimos nosso estúdio para aulas de música, ministrada pelo professor George Alveskog. Nesse núcleo de aprendizado estão o Fractal Mood (Guilherme L. Picorelli e Henrique A. Marciano), 90’s Kids (Felipe Saccheta e Victor Borges), Don Det (Kim Salomoni e Gustavo Frigori da festa mama pro) e o DJ Brune. Junto com essas turmas estão Eric Neumann e Guilherme Canato, estamos trabalhando juntos nas produções musicais de todos como um grupo e plantando uma semente do que acreditamos ser um novo núcleo de produção musical, que em breve se desdobrará em um selo.

8 – Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa na vida de vocês?

A música para nos representa muitas coisas. Ela é a materialização de um estado de espirito, de sentimentos que atravessam quaisquer limites linguísticos. Ela é essencial para vida: seja para relaxar, meditar, dançar, acolher…

Somos levados ao êxtase com a música e poucos outros meios são tão poderosos neste sentido.

Para fechar, gostaríamos de dividir uma composição nossa com a cantora Mari Ferrucci (que é dona de uma voz inigualável e está trabalhando conosco em algumas faixas) e apresenta bem o momento de especulação midiática, opiniões exaltadas, intolerância e egos aflorados:

“Everytime I say goodbye
My heart close in my eyes

I dome my eyes
I close all lies
My heart grows in my min
Everytime

Big Lies and fake revolutions
Demi gods pretending deconstruction

Man eating man
Earth itching earth
Human Kind:
Emptiness expeculation

Illusions circles
Fit in your mind
Something more
Just to deny

What you find is to really rely

Composition, seduction, exhibition, what is that?”

A música conecta as pessoas! 

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