Martin Stimming é, com toda certeza, um dos artistas mais espetaculares do atual cenário da música eletrônica global. Este produtor alemão é um artista verdadeiramente encantador que traduz seus sentimentos através de batidas originais e envolventes. Nossa admiração pelo seu trabalho é tamanha, que até nos falta algumas palavras para encontrar a melhor forma de descrevê-lo.
Martin vem desenvolvendo seu som experimental e cheio de classe há mais de uma década. Nesse período, flertou com o house e o techno em busca de um lar para as suas ideias, mas não encontrou em nenhum dos dois estilos a moradia perfeita. Isso provavelmente por que definir seu som é uma tarefa complicada e não é exagero algum dizer que seu estilo é realmente próprio e único, diferente do que todos os demais produtores entregam. Sua identidade musical é tão forte, que qualquer entusiasta da música eletrônica contemporânea é capaz de reconhecer logo após os primeiros beats.
Após uma longa jornada ao lado da Diynamic, gravadora capitaneada por Solomun que ajudou a espalhar sua música pelo globo, Stimming agora visa um novo capítulo em sua caminhada musical ao buscar novas maneiras para manter seu som com caráter pessoal e original. Pouco mais de um ano após o lançamento de Alpe Lusia, seu último álbum de estúdio, ele falou com exclusividade ao Alataj sobre os aprendizados após mais de 10 anos de estúdio, relacionamento com gravadoras, batalha contra o álcool e muito mais. De quebra, também selecionou algumas de suas faixas preferidas do momento. Confira:
1 – Olá, Martin! É um grande prazer falar com você. Produzindo música há quase duas décadas, é natural que seu som soe cada vez melhor. Mas e quando você estava começando, como você lidava com os resultados de suas produções? Você imaginava que poderia chegar aonde chegou?
Olá Atalaj, obrigado por me convidar para essa entrevista! Vocês estão certos, o som torna-se cada vez melhor, mas raramente sinto que estou alcançando onde quero chegar. A produção musical é sempre como uma luta contra a tecnologia, onde a tecnologia abre o horizonte das possibilidades, mas ao mesmo tempo te impede de ir onde você imagina que poderia ir. Não sei se isso faz algum sentido.
Então, a questão é: o resultado é bom o suficiente para não desapontar? (tendo em vista que você ainda é capaz de julgar, o que também é um grande problema). Felizmente eu nunca tive muito medo de decidir terminar. Apenas nos meus sonhos mais loucos imaginei estar onde estou hoje, ganhando dinheiro com minha própria música.
2 – Tom, harmonia e ritmo dizem muito sobre a emoção que a música pode causar no corpo e coração dos ouvintes, certo? Pra você, é mais importante fazer uma música que seja tecnicamente perfeita ou que toque a coração do maior número possível de pessoas?
Música é sempre sobre tocar o ouvinte – pode ser o coração, os pés, ou ambos. Quão bem ela soa pode fazer uma diferença em quão bem ela se traduz, mas no final é o núcleo, a ideia principal que é importante.
3 – Como está sua relação com a Diynamic atualmente? Há planos para um lançamento pelo selo em breve?
Não há mais nada planejado com a Diynamic. O label está indo bem e foi uma grande honra estar nele desde o inicio, mas agora é hora de reorientar-me.
4 – Ainda sobre o universo das gravadoras: você tem planos de trabalhar em seu próprio selo?
Não, gosto da ideia de convencer alguém antes de ser lançado. Desde há alguns anos (provavelmente desde que o mundo da mídia digital superou a “hardware media”) parece que quase não há mais “doorkeepers”, que são a razão pela qual o Beatport está cheia de música de merda e chata. Não há ninguém para escolher o diamante, mas tenho certeza que eles existem.
5 – Se analisarmos seu momento profissional em meados dos anos 2000, certamente é diferente do que se encontra na atualidade. Falando puramente sobre a liberdade para produzir música, você se sente mais livre hoje do que há 10 anos atrás ou não?
Sim, me sinto mais livre. Mas não tanto por causa da música em si e sim porque estou mais livre como pessoa. Tenho uma família com um garotinho, então eu simplesmente não posso me dar ao luxo de ficar bêbado. É um paradoxo – no tempo, eu sou muito menos livre, mas, como pessoa, parece muito melhor agora. Ser engajado e responsável é um estado de liberdade, talvez porque você não tenha mais tempo para fazer coisas inúteis? Eu não sei.
6 – Eu li em uma recente entrevista que você chegou a ter problemas com o consumo de álcool e drogas no passado. Como foi possível superar isso? Como você busca manter uma agenda constante como artista e ainda assim ter uma vida saudável e equilibrada?
Cerca de 6 anos atrás, houve um período onde o consumo estava saindo do controle. Eu realmente precisava dar um passo à trás e parar radicalmente com o maior problema que eu tinha que era o álcool. Levei cerca de um ano para voltar a desfrutar o que estava fazendo. Mas tomei cuidado para tocar melhor, tornar isso mais difícil. Então agora, mesmo se eu começasse a beber novamente, eu não conseguiria, pois meu estilo de apresentação live é muito complicado.
Ficar equilibrado geralmente é uma questão de dizer não às gigs – estou fazendo pausas mais longas há alguns anos e não estou empurrando agressivamente minhas tours com a agência. Essa pode ser uma razão pela qual nunca me tornarei um “superduper popstar-dj”, mas isso não é atraente para mim de qualquer forma. Gosto de viver uma vida pessoal que não é possível em certo estágio.
7 – Pouco mais de um ano após o lançamento de Alpe Lusia, como você avalia todo trabalho que foi feito para produção deste álbum?
Valeu muito a pena. Especialmente musicalmente, pois acho que dei um passo à frente. Particularmente também, porque consegui fazer isso uma vez na vida (ficar sozinho na cabana nos Alpes durante um mês). E financeiramente, ainda consigo pagar meu aluguel e alimentar meu filho.
8 – Você sabe que o Brasil te ama, portanto, essa pergunta é inevitável: quando você retorna ao país? Quais são suas melhores memórias sobre o Brasil?
Gostei de tocar no Brasil todas as vezes, sinceramente. Um momento que ainda gosto de lembrar foi quando toquei no D-EDGE, no ano passado (?) – quando entrei a festa já estava rolando e bastante intensa. Geralmente, entrar em um clube quente e suado logo após sair da tranquilidade do quarto de hotel pode ser um pouco arrasador. Esse momento de entrar e perceber a situação é o mais importante da noite. Nessa gig eu abri um grande sorriso e a noite foi ótima!
A maioria das outras gigs foram realmente boas, especialmente quando toquei em clubes normais e no Warung. Infelizmente não há nada planejado para esse ano ainda, mas tenho certeza que ano que vem estarei de volta!
9 – Para finalizar, uma pergunta pessoal. Nós enxergamos a música como uma forma de conexão entre as pessoas. E para você, qual a razão da existência dela na vida humana?
O filósofo alemão Nietzsche disse uma vez: “Sem música, a vida seria um erro.” Isso é absolutamente verdade para mim.
A música conecta as pessoas!