Skip to content
A música conecta

Alataj entrevista Rafael Paradella

Por Alan Medeiros em Entrevistas 19.10.2018

É realmente admirável quando núcleos independentes vão pouco a pouco superando a barreira dos anos, enfrentando desafios e colecionando memórias. Em Joinville, um dos destaques desse cenário mais nichado é o HTBC, coletivo que possui uma história marcada pelo amor e persistência de seus envolvidos com a música.

Esse fim de semana eles completam 5 anos de caminhada e ao olhar para trás certamente a sensação é de dever cumprido. Até aqui foram 24 edições, 8 locações diferentes, 14 DJs convidados, 15 DJs locais e diversas parcerias com núcleos, coletivos e selos – eles inclusive participaram da nossa festa Tribute to Chicago no Terraza BC em 2016. Para celebrar esse momento especial o HTBC retorna ao Delinquent’s Bar V8 e incorpora seu melhor estilo clubber/houseiro.

O convidado especial dessa edição é o paraense radicado em São Paulo, Benjamin Ferreira, certamente um dos principais diggers do país frente a cena disco/house. Benjamin vive um 2018 bastante especial após o lançamento do disco From Me pela britânica Midnight Riot Recordings e chega à Santa Catarina com status de atração pouco comum e inovadora nos lineups da região.

Ao lado dele estarão Moka Silvy, residente do Sounds in da City e os pratas da casa Claudio Ferrari e Juliano Vicente – esse último estreando residência. A nosso convite, Rafael Paradella, um dos líderes do projeto, conversou com o Alataj sobre alguns dos principais desafios e destaques da caminhada do HTBC até aqui. Confira:

Alataj: Olá, Rafa! Tudo bem? A história do HTBC é bastante conectada a house music, certo? Como foi definido esse direcionamento artístico entre os organizadores e residentes? Isso foi algo pensado ou trata-se apenas de uma paixão em comum?

Rafael Paradella: Olá, Alan! Tudo ótimo. Primeiramente, gostaria de agradecer a oportunidade e também ao Bernardo Ziembik que nos apresentou, nosso parceiro comercial e amigo pessoal. Bom, acredito que nossa história seja parecida com a de muitas pessoas que estão no movimento independente, que em virtude da falta de espaço pra expor suas pesquisas e ideologias, unem forças pra trabalhar e contribuir com a cena num modo geral.

Em 2012/13, eu já era amigo do Caliman e o Jeison Torres me aproximou do Willian Israel em uma das reuniões musicais em sua casa, então acabamos nos reunindo naturalmente e o HTBC nasceu, primeiramente via livestream e em 2014 iniciamos o formato aberto.

Todos sempre fomos muito influenciados pelo house e techno, Willian era o mais old school, Caliman conectado ao contemporâneo e eu tinha bastante influência minimalista, mas com o tempo, todos se influenciaram e amadureceram/expandiram suas referências, e como todo DJ sabe, isso é interminável e insaciável.

Yago Borba, que era o único não DJ do coletivo, também fazia parte da curadoria e da organização do projeto e tem igual importância em tudo o que aconteceu. O direcionamento surgiu daí, influencias de todos, lineups democraticamente escolhidos, sempre buscando a coerência e a house music sempre acabou ficando em evidência.

Joinville é uma cidade que possui algumas peculiaridades em sua cena, além de uma movimentação interessante já há alguns anos, principalmente através de núcleos independentes. Entretanto a cidade nunca conquistou uma posição de destaque a nível nacional. Na sua visão, a quais fatores se deve esse bloqueio? A proximidade com o litoral catarinense e Curitiba ajuda ou atrapalha?

Joinville tem, de fato, uma grande resistência à disseminação da cultura num modo geral, não só na música eletrônica. No rock, no jazz, no blues, entre outros, não vejo um apoio forte da população em geral, bem diferente de outras cidades não tão distantes, como Floripa, Curitiba e por aí vai.

Acredito que se deve ao fato de Joinville ser um dos maiores polos industriais do Brasil e pela atmosfera bem conservadora, acaba não dando muita importância para os projetos alternativos multiculturais. Mas, particularmente, conheço e sou amigo de muitos músicos com capacidades imensuráveis que são forças importantes da resistência por aqui.

Entretanto, de alguns anos pra cá as coisas estão mudando, pois os responsáveis por outros movimentos, bares e casas, estão “arriscando” um pouco mais e tentando evoluir o cenário geral. Sobre a influência do litoral catarinense e Curitiba, ajuda pra caramba, pois servem de referência também para todos os movimentos que citei acima e obviamente pra nós, que nos encorajaram e incentivaram a seguir.

Historicamente os line-ups do HTBC privilegiam diggers nacionais reconhecidos por sua extensa pesquisa musical. Como a pista de vocês recebe esse perfil de artista usualmente?

Recebe muito bem, pois o público entende o que queremos fazer e respeita isso. Por mais que seja um artista não tão conhecido para as bandas de cá, eles apoiam bastante, incentivam essa iniciativa e são bem fiéis.

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, mesa e área interna

Benjamin Ferreira é o convidado especial para essa edição de 5 anos. Como vocês chegaram até esse nome?

O Claudio Ferrari, nosso residente, conheceu o Benja no tempo que morou em SP (alguns anos atrás) e então eles se tornaram amigos. Pelo que me lembro, ele nos indicou e a partir daí começamos a segui-lo e planejar a vinda dele pra cá, mas não o conhecíamos ainda. Em 2017 fui ao Dekmantel SP (saudades) e tive a oportunidade de conhecê-lo, vê-lo tocar e chegando em Joinville, demos mais ênfase ao processo. Era pra ter rolado antes e por alguns motivos não rolou, mas agora deu tudo certo e mal posso esperar para ele conhecer a nossa pista.

Após 24 edições, certamente há muita coisa boa pra lembrar. Na sua opinião, há alguma festa que tenha sido mais importante ou especial nessa caminhada?

Todas foram igualmente importantes e únicas, mas tem uma que marcou uma nova fase que estávamos passando e foi bem especial, a edição de 2 anos com o DJ Magal. Fazíamos o HTBC numa adega de vinho no centro de Joinville, local bem especial que abrigou, inclusive, nossa primeira edição aberta.

Nenhum texto alternativo automático disponível.

Como você enxerga o futuro da cena eletrônica de Joinville? Há uma projeção otimista para os próximos 5 anos?

Eu vejo com bastante otimismo, pois têm pessoas e amigos muito dedicados, talentosos e com muito conhecimento para pôr em prática, além da galera mais nova que automaticamente vai se engajando. Na minha opinião, é dever dos que vieram antes incentivar e apoiar as causas justas e sinceras.

Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

É a minha vida, o meu amor, minha paixão eloquente, minha amiga, minha maneira de expor meu sentimentos e posicionamento ideológico. Eu não a deixaria por exatamente nada.

A MÚSICA CONECTA.

A MÚSICA CONECTA 2012 2024