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A música conecta

Alataj entrevista Sophia Saze

Por Alan Medeiros em Entrevistas 15.04.2019

Atração confirmada na sequência de festas que está celebrando os 19 anos do D-EDGE, Sophia Saze vem ao Brasil vivendo um momento especial na sua carreira. Natural de Tbilisi, na Geórgia, Sophia atualmente reside no Brooklyn, bairro nova-iorquino que possui uma forte tradição artística e serve de base para os seus trabalhos atualmente. Há quase uma década ela divide suas funções de DJ e produtora com o cargo de líder da Dusk & Haze, gravadora que possui boa reputação no cenário techno.

“Para mim, música significa felicidade.” Leia nossa entrevista com Bloody Mary.

Como DJ, Sophia Saze tem seu ponto de partida no techno, mas não é raro vê-la misturando outros gêneros em suas apresentações, tais como eletro, krautrock, ambient, industrial e acid, sempre a sua própria maneira. Além dos trabalhos junto a seu label, esta talentosa artista também conta com releases em marcas do calibre de Get Physical e Ghostly International. DJ Mag, GrooveMagazin e Mixmag estão entre as mídias internacionais que já deram suporte ao trabalho de Saze, que antes de chegar ao Brasil, falou com exclusividade ao Alataj:

Alataj: Olá, Sophia! Tudo bem? Muito obrigado por nos atender. Parte de sua jornada criativa foi desenvolvida junto a música clássica e a dança. É possível dizer que os conhecimentos obtidos nessas duas áreas trouxeram a você uma bagagem importante para o trabalho na dance music?

Sophia Saze: Absolutamente – ambos igualmente, especialmente meus primeiros anos de dança, que formularam minha percepção de composição. Interpretei música visualmente desde nova e essa perspectiva ficou comigo para o resto de minha vida. Eu competi principalmente na dança latina e claro, há um espectro muito amplo e colorido na música da América do Sul. Conseguir decifrar isso no contexto de estruturar minhas próprias produções mais tarde foi, certamente, uma série de revelações emocionantes.

Aqui no Brasil, muito se falou sobre a cena eletrônica da Georgia, especialmente de Tbilisi, depois do acontecimento com o Bassiani. Indo além deste caso, o que você pode falar a respeito da dance music em sua cidade natal?

É fenomenal e estou muito orgulhosa de ver isso se desenvolvendo ainda mais. Há muitos artistas incríveis surgindo agora e é muito emocionante saber que o mundo está ouvindo, o sucesso do meu país é a minha felicidade. Somos uma população pequena, mas cheia de talentos altamente promissores.

Viver no Brooklyn é como estar em contato com um caldeirão de culturas diário. Desde sua chegada a NY, como a cidade e sua população tem impactado a forma como você cria e se relaciona com música?

Bem, recentemente me mudei, depois de 8 anos morando lá. Estou indo para a Europa. Ainda não escolhi meu destino final, mas senti que era hora de um novo capítulo, tanto na minha vida pessoal, quanto na vida profissional. É difícil identificar apenas um aspecto inspirador do Brooklyn. Eu não saia do meu estúdio por dias e fazia música em 12 ou mais horas. Isso é bom por um período de tempo e não é que a minha energia criativa acabou, mas as coisas pareceram atingir um pico.

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Desde a criação do Dusk & Haze, apenas 2 releases ganharam a luz do dia. Há uma razão para sua gravadora trabalhar com uma frequência de lançamentos mais restrita? Quais são seus principais planos para o futuro do selo?

Sim, nós preferimos construir devagar e garantir que cada lançamento seja curado com a verdadeira intenção do artista de transmitir a mensagem correta. Sou específica sobre a apresentação do que lançamos, tanto dos ângulos sonoros, quanto visuais. Não permito que o tempo determine minha compreensão de valor, ou corra para tomar decisões desesperadas. Dito isso, temos nossa primeira compilação chegando, é muito especial. 15 faixas, 15 artistas diferentes.

Cada DJ possui um perfil artístico diferente. Alguns se destacam por uma pesquisa contemporânea, outros pelos clássicos. Há também aqueles que discotecam 100% em vinil ou ainda os que buscam misturar diversos movimentos musicais em seus sets. Como tem sido sua busca em relação a construção desse perfil sonoro que é tão importante a longo prazo?

Eu sou uma espécie de antítese de um DJ conservador, pelo menos no que se refere a gêneros e técnicas. Meu histórico em si é eclético demais para conseguir se comprometer com apenas uma coisa sonoramente. Nunca cheguei a um acordo com a noção de “somente vinil”, não me importo com isso. A habilidade deve ser um requisito e não algo para destacar. Além disso, não me sinto confortável com a ideia de que as pessoas estão pagando para ouvir um artista tocar e a agulha está pulando, por exemplo, nesse ponto, é mais sobre o artista priorizar o ego em vez de decisões práticas. Se você não é tecnicamente bom o suficiente para mixar perfeitamente no vinil (o que alguns fazem com a maior graça), não masturbe seu ego durante a execução, às custas de fazer as orelhas de todo mundo sangrarem. Decisões estilísticas são mais atraentes para mim em um DJ. Também prefiro um estilo de mixagem mais rápido.

Acredito fortemente que a música é uma fonte poderosa de conexão entre as pessoas. Dito isso, como você enxerga seu papel frente a pista de um club ou festival? Você se vê na responsabilidade de transmitir algo realmente positivo para aqueles que estão te assistindo ou é mais sobre dar o seu melhor e isso basta?

Sou uma escrava da rave e sinto que minha intuição principal é fazer as pessoas à minha volta felizes. Não acredito que o público esteja lá para me ouvir extravasar em tangentes egoístas. Gosto de aparecer com uma hora de antecedência para ter uma noção da atmosfera da festa e também para prestar respeito ao DJ que está abrindo. Isso me ajuda a entrar no clima e entender o que todo mundo está sentindo. Claro que qualquer artista pode dar o seu melhor, mas é uma festa, não um experimento de arte social. Posso entender o egoísmo em um live act, mas não em um DJ set. Nunca sei o que vou tocar antes de uma festa, nem mesmo preparo os meus sets. Gosto de aparecer com uma grande variedade de músicas e ver no que vai dar.

Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

Sem a música, a vida seria um erro.

A música conecta.

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