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A música conecta

Review | Dekmantel Festival São Paulo 2018

Por Alan Medeiros em Reviews 14.03.2018

Não é fácil acertar um grande festival de música eletrônica no Brasil por dois anos seguidos. As variáveis são inúmeras e qualquer problema, em maior ou menor escala, pode acabar com algo que estava sendo planejado por meses. De cabeça erguida a Gop Tun e seus parceiros brasileiros e holandeses encararam a produção do Dekmantel Festival São Paulo 2018. Algumas das nossas impressões sobre o evento você confere na sequência:

Certamente a edição 2018 do festival representou uma jornada de desafios mais extensa do que em 2017. A começar pela expectativa criada após a entrega de um evento perfeito no ano anterior, onde absolutamente tudo funcionou. Para esse ano, logo de cara um problema daqueles: a indisponibilidade do Jockey Club. A locação que se mostrou perfeita para o festival em seu ano de estreia em solo paulistano teve de ser repensada e após um duro trabalho de busca por um novo lar, fomos apresentados ao antigo Playcenter, um lugar que reside na memória de todo cidadão que cresceu em São Paulo.

ESTRUTURA

Seria irresponsável da nossa parte fazer uma comparação entre as duas locações. O Jockey por si só já oferecia ao festival uma estrutura fixa de primeira, que inclusive ajudou na ambientação de alguns dos palcos. No Playcenter encontrar o mapa perfeito foi um pouco mais complicado, mas o evento esteve super bem montado e não apresentou grandes problemas em relação a estrutura.

A versão 2018 do Main Stage veio menor, um pouco mais intimista e sem os leds de 2017 – que ao menos pra gente deixaram saudades. A instalação com par leds e acrílico ficou muito bonita e proporcionou um belo efeito visual, tanto durante o dia, quanto a noite. O sound system esteve praticamente irretocável (com exceção das panes técnicas do dia 4) nos dois dias, com excelente potência e ótimo balanceamento – o único palco que apresentou-se melhor nesse sentido foi o Selectors.

Por falar nele, o palco dedicado aos diggers mais pesados do festival estava lindo. A sensação de estar dançando em uma floresta e o ótimo trabalho de iluminação voltada para a natureza presente são apenas alguns dos destaques. A proposta do stage foi bem coerente com relação aos artistas escalados e a experiência proposta foi mais agradável em relação ao ano passado.

O UFO foi o palco que mais cresceu, disparadamente. De um corredor underground em 2017 para uma grande tenda com tamanho e estrutura de palco principal. O jogo de luzes e fumaças alinhado ao clima sombrio presente também casou perfeitamente com o som do stage. O update em relação a primeira edição pode ser interpretado pela importância que o techno, estilo predominante no UFO, tem para a cidade de São Paulo.

Gop Tun, o querido palco assinado pelos donos da casa, mais uma vez se mostrou como uma perfeita mescla entre as referências eletrônicas que formam o coletivo e o que há de mais interessante na música genuinamente brasileira. Artistas de diferentes geração confraternizaram e mostraram que não há espaço para qualquer tipo de preconceito musica. A frente de um dos prédios do Jockey ajudou bastante a ambientação do espaço no ano passado, que ficou com status de arena por conta de algumas arquibancadas instaladas. Esse ano ele ficou com mais “cara de festa da Gop”, agradou os que estavam presentes, mas principalmente pela importância do coletivo, poderia ter sido montado com algo mais visualmente atrativo.

A imagem pode conter: planta, árvore, céu, atividades ao ar livre e natureza

O Na Manteiga do ano passado era quase que um portal de entrada para tudo que o Dekmantel tinha a oferecer. Esse ano, posicionado de forma mais escondida, não captou nossa atenção por muito tempo. Sorte que todos os sets foram transmitidos e, nesse processo que mistura nostalgia e saudade de um festival como esse, tem sido de grande importância para reviver a atmosfera proposta pelo evento.

https://www.facebook.com/namanteigaradio/videos/786784264849042/

Bares, banheiros e toda parte que envolve serviços ao público ofereceram um bom suporte aos presentes. A única excessão foram alguns momentos de fila, que ao menos pra gente não foram sentidos na edição anterior – muitas vezes isso é uma questão de momento. Os preços dos bares estavam coerentes com a proposta e a grandeza do festival e a sinalização de espaços nos pareceu bastante acertada. Uma falha grave que deve ser preenchida para a próxima edição foram os lixos, muito difíceis de serem encontrados em praticamente todas as pistas.

ARTÍSTICO

O primeiro dia começou com Tatá Ogan emocionando na abertura do Selectors com um set que transbordava sua identidade musical. Na sequência, foi possível entender por que Jan Schulte aka Bufiman (leia aqui nossa entrevista com ele) é chamado pelos holandeses de rei das percussões: ótimo set e um repertório delicioso de faixas estranhas e densas.

Na sequência, chamou a atenção a maturidade musical de Peggy Gou no Main Stage, que claramente não se intimidou frente a uma pista lançada e apresentou uma linda sequência de faixas – entre elas o seu hit It Makes You Forget e o clássico histórico I Feel Love de Donna Summer. Midland entrou e, contrariando parte das expectativas, não seguiu uma linha tão próxima do disco/house – apesar de tocar algumas boas faixas mais houseadas. Seu set foi uma mistura de progressão, melodias e uma dose perfeita de pressão de pista.

https://www.facebook.com/dkmntl/videos/2057470374280129/

Em outras ocasiões Mano le Tough já nos impressionou por sets maravilhosos e bem executados. Dessa vez sua construção não nos pegou e por isso escolhemos seu set para dar aquela necessária arejada pelas áreas chill do festival. Com as energias recuperadas, acompanhamos parte do bom, porém não genial set de Young Marco, que apresentava um ótimo repertório, mas sem grande vibe na pista – talvez até mesmo por uma questão mais nossa do que propriamente do artista.

Por curiosidade, fechamos a noite no palco principal sentindo na pela a intensidade dos berlinenses do Modeselektor. O duo alemão apresentou um mistura interessante de techno, breakbeat e electro. O clássico Bad Kingdom do Moderat (projeto que eles são parte), Exile B2 do Johannes Heil e Volumes do Minor Science foram alguns dos destaques do set list.

Não conseguimos chegar tão cedo quanto no primeiro dia, então o segundo capítulo da nossa jornada Dekmantel (terceiro na verdade, por que fomos no after do primeiro dia, mas isso é um papo pra daqui a pouco) começou com o surpreendente set de Mall Grab. O DJ e produtor australiano é uma das estrelas em ascensão do chamado lo-fi house e principalmente por isso se esperava um set dele mais voltado para o estilo. Grab todavia, optou por uma linha de house mais acelerada, alguns breakbeats e parte de seus principais sucesso. No fim, chamou a atenção pela segurança com que comandou o palco principal e pela ótima presença de palco.

https://www.facebook.com/dkmntl/videos/2058707790823054/

Four Tet, a atração que mais nos captou a atenção desde o anúncio, sofreu com problemas técnicos que apareceram logo na primeira música. Depois de mais ou menos 10 minutos de silêncio no Main Stage, Four Tet voltou para um set muito bem executado, com ótimas faixas e a surpreendente Bad Liar de Selena Gomez – música boa tem gênero, hora e lugar? Fica a reflexão, mas que a ousadia valeu e funcionou, isso não há como negar.

https://www.facebook.com/dkmntl/videos/2058782270815606/

Após o fim do set do DJ e produtor britânico, acompanhamos a excelente apresentação de Jayda G (leia entrevista com ela aqui). A canadense lavou a alma de todos os presentes no Selectors com uma energia que nos emociona só de lembrar. Extremamente conectada com o dance floor e empurrando uma faixa melhor que a outra para o sound system, Jayda certamente fez o nosso set preferido durante todo o evento.

https://www.facebook.com/dkmntl/videos/2058842074142959/

O slot final ficou entre Floating Points e Antal, nos palcos Gop Tun e Selectors, respectivamente. Misturando disco, house algumas brasilidades, ambos representaram bem e justificaram a escolha da organização de coloca-lo em um dos horários mais nobres do evento.

NIGHT PROGRAM

Se há um ponto negativo em toda história que envolve o Dekmantel Festival São Paulo 2018, esse ponto é o Night Program. No primeiro e no segundo dia a atmosfera da festa era muito diferente e não estava a altura da apresentada no Playcenter. Artisticamente os b2bs entre Marcel Dettmann, Nina Kraviz e Kobosil no Area 1 e Four Tet e Floating Points no Area 2 foram históricos para cidade de São Paulo, mas de resto, nada que nos enchesse os olhos ou mexesse com as memórias como os acontecimentos da programação diurna.

O QUE FICA

É absolutamente maravilhoso ver uma marca 100% brasileira como a Gop Tun trabalhando em alto nível ao lado de um label tão conceituado internacionalmente como Dekmantel. 2017 e 2018 são anos que representam um marco histórico para a dance music brasileira apenas por podermos presenciar esse e outros eventos de porte semelhante por aqui. Que a jornada dessas duas marcas em parceria seja longa e que São Paulo possa vivenciar outros fins de semana como esse.

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