O período de recesso dos conteúdos regulares do Alataj entre o Natal de 2018 e a virada de 2019 também compreendeu no capítulo final da nossa parceria com o Xama que se desenvolveu ao longo da temporada passada com muuuito conteúdo ganhando a luz do dia. Gop Tun e Selvagem nos ofereceram uma oportunidade ímpar para cobrir de pertinho e viver a experiência mágica que foi o Xama 2019 – seremos sempre gratos.
Por questões de agenda, perdemos os dois primeiros dias de festival e chegamos na Bahia – após uma longa viagem saindo de Floripa – na hora do almoço do dia 28. Logo fizemos um reconhecimento do território baiano que nos serviria de casa pelos próximos dias e partimos para o rolê. Ficamos hospedados em Algodões, cerca de 7 minutos de carro do Tikal, o que facilitou bastante a nossa logística durante todo o evento.
XAMA BAR // 28.12
Ao chegar no Tikal, pegamos as pulseiras do evento, compramos nossas lembranças no MerXama e partimos para a pista. Ouvimos de longe o set da dupla JP e PH, ambos representantes da NEUE de Porto Alegre, que entregaram uma construção bem baseada no house.
Na sequência, Cevallos, também de POA, manteve a linha e entregou para a pista um set aconchegante e groovado, absolutamente dentro da realidade da pista que se colocava a disposição para o artista naquele momento. Destaque para a faixa Let’s Dance And Freak do produtor Kerrier District. [vídeo]
https://www.instagram.com/p/BsO6kOnHCQv/
Voltamos para a casa antes do fim da noite no Xama Bar, pois precisávamos organizar nosso QG, jantar e se arrumar para a primeira das três grandes festas do Xama 2019: Selvagem na Colina. Antes disso, pausa para conhecer uma das indicações de Francisco Frondizi. A Aphrodite é uma pizzaria roots, forno a lenha e com cardápio fora da curva – experimentamos a pizza deles de cogumelo e outra de maçã verde com gorgonzola. Essa certamente foi uma das melhores experiências gastronômicas que tivemos na Península
SELVAGEM NA COLINA // 28.12
O serviço de transporte oferecido pela organização do Xama fluiu super bem. Na ida, assim que chegamos ao local combinado embarcamos em um ônibus que nos levou até o pé da Colina. Quando chegamos lá, algumas jardineiras nos aguardavam para subir o morro (um tanto quanto puxado) que levava até aonde a estrutura do evento havia sido montada.
Ao chegar de fato no local, foi difícil não sentir aquela sensação de um plot twist em um filme que você está imerso. Uma estrutura de festival daquelas, montada no topo de uma colina na Bahia… não é todo dia que se tem a oportunidade curtir uma pista num lugar como aquele. O sound system, a iluminação da Sala28, o open bar repleto de opções: tudo impressionava naquele começo de noite, que estava sendo musicalmente embalado por Gigios, residente da Climão do Rio de Janeiro.
Seu set passeou por diferentes estilos ligados a house music, com destaques para momentos guiados por batidas afro. Destaque para a faixa Slippin’ Into Darkness do excelente produtor Ponty Mython. Na sequência, Craig Ouar, o francês mais brasileiro do rolê, assumiu os decks e apresentou um mix um pouco mais cabeçudo, guiado por faixas de boogie e acid. Destaque para a hipnótica e sensual Audio Trip, produção de Dreamatic, um dos pontos altos do festival.
https://www.instagram.com/p/Br9JZmPnt_a/
A DJ curitibana Bárbara Boeing subiu aos decks logo em seguida para coroar um 2018 de absoluto sucesso. Pouquíssimos artistas tiveram o desempenho que ela teve ao longo da temporada, com apresentações de alto nível em festivais, clubs e festas de diferentes regiões. Boeing optou por iniciar uma construção musical quase que do zero e tocou do house ao disco, introduzindo em momentos pontuais algum toque de brasilidade. Nesse momento já tínhamos consciência que essa era uma das melhores festas da nossa vida.
Os primeiros raios de sol chegam cedo na Bahia e antes mesmo da 5 da manhã, a pista já estava com uma certa claridade. Pontualmente as 5, Milos Kaiser assumiu a pista entregue por Bárbara para dar sequência ao agito no topo da colina. Milos discotecou sozinho durante todo o tempo que estivemos na festa – até mais ou menos 7h30 da manhã. Nesse período ele explorou com bastante destreza e coerência o profundo acervo musical que é uma das marcas registradas da Selvagem. Do samba jazz até o soulful house, sempre com a pista em movimento. Trepanado assumiu os decks na sequência e guiou a pista da Colina até as 10h.
XAMA BAR // 29.12
Após algumas horas de sono e outras apenas recarregando as energias, partimos novamente para o Tikal. O quarto dia de Xama Bar (segundo para o Alataj) começou com um set lindo do gopper Gui Scott. Gui tem um perfil de discotecagem que nos agrada muito e sem se restringir a um gênero ou outro, ele tocou faixas como o super clássico That’s The Way Love Is do Ten City e a romântica Fullgás de Marina Lima – que vibe, Bahia!
Pino Henrique Pedra deu continuidade a programação do Xama Bar e recebeu com muita sutileza a lua que toca o mar de Algodões. Pino é reconhecidamente um DJ de mão cheia e, assim como Gui Scott, também apresentou um mix livre da restrição de gêneros. Destaque para a diferentona Enssa Al Aatab de Omar Souleyman, co-produzida pelo duo alemão Modeselektor e lançado via Monkeytown Records – outro ponto alto do festival.
Dando continuidade ao timetable do Xama 2019, a dupla Forró Red Light apresentou o segundo live do festival – o primeiro havia sido entregue por TYV um dia antes, mas infelizmente perdemos. Caracterizado por timbres e atmosferas bem particulares e um certo ar folclórico que prende o ouvinte, Geninho Nacanoa e Ramiro Galas protagonizaram momentos de intensa conexão com a pista do Xama, destaque para as faixas Gonzagueando, Baião Violossintético e Bobo da Corte (Remix). Sem energias para continuar a noite dali pra frente, partimos para casa descansar, pois os dois últimos dias de 2018 seriam intensos.
https://www.instagram.com/p/BsBJol_ngk0/
A PENÍNSULA
No dia 30 acordamos ainda mais cedo e partimos para um tour na Península de Maraú. Passamos por Saquaíra, Taipú de Fora e Ponta do Mutá até chegar no famoso Bar da Rô em Barra Grande, um lugar abençoado pelo encontro do rio com o mar. Ali ficamos por um bom tempo, torrando no sul, conversando sobre as nossas preferências musicais do festival e refrescando o corpo na água salgada.
XAMA BAR // 30.12
Chegamos no Xama Bar a tempo de acompanhar a segunda hora do set de Cauana, artista que representa bem um novo momento da cena curitibana. Nos decks do Xama 2019, ela entregou um set caracterizado por batuques e um certo ar místico, porém difícil de ser descrito ou rotulado, como ela mesmo reconhece em entrevista ao site deepbeep.
Rico Jorge, artista que não tínhamos muito contato antes do festival, foi mais um a nos surpreender naquele melhor estilo A+. Seu live, assim como o set de Cauana, possui uma levada rítmica difícil de ser descrita, mas fácil de ser dançada. Rico alternou, com muita sabedoria, momentos de batidas mais quebradas com outras inserções mais contínuas e dançantes. O sentimento ao fim de sua apresentação foi algo do tipo: precisamos saber mais sobre este cara.
Um dos heads do respeitado selo carioca 40% Foda Maneiríssimo, Gabriel Guerra aka DJ Guerrinha entrou dominante no palco do Xama Bar. Com uma presença de palco gigante, extrema ousadia na construção de seu repertório, Guerrinha tocou house, breakbeat e até um vocalzão do Michael Jackson no que foi pra gente o set mais “quebradeira” do Xama – no melhor sentido da palavra, claro. Vibe lá em cima, pista emocionado e 2018 chegando ao fim.
Carrot Green deu números finais ao último Xama Bar do ano, com um set que passeou por diferentes referências que formam seu perfil sonoro. A noite do dia 30 terminou como a melhor experiência que tivemos no formato Xama Bar. Voltamos pra casa de alma lavada e sabendo que havia muito mais por vir ainda. O último dia do ano já estava batendo na porta e nós estávamos cada vez mais imersos na experiência proposta por Gop Tun e Selvagem.
PEOPLE FROM BRAZIL
Sem dúvida alguma, umas das coisas mais bacanas de todo o festival foi a oportunidade de conhecer, reencontrar e conversar, face a face, com artistas e profissionais que admiramos muito, mas não temos a oportunidade de estar em contato frequentemente. Ao longo de todo o evento, quebramos a barreira profissional e conhecemos pessoas que nos encantaram. Este foi o grande legado do Xama para a cena eletrônica e uma das razões pela qual a gente faz o que faz todos os dias
NA MANTEIGA NO LAGO – CORONA SUNSETS // 31.12
Após passar a manhã na praia em frente ao Tikal, adentramos a tarde naquela vibe “de boas” curtindo a programação do Na Manteiga no lago powered by Corona Sunsets – com direito a welcome drink geladinho da cervejaria mexicana. O primeiro a se presentar foi o RA man, Matthew McDermott, que para a ocasião trouxe um vinyl set repleto de ambiências experimentais. Guerrinha, que havia quebrado tudo na noite anterior, apareceu novamente em grande estilo, tocando em uma atmosfera bem pool party. A tarde seguiu com uma nova apresentação live do Forró Red Light e o elogiado set de Moretz, que infelizmente não acompanhamos na íntegra, pois um novo descanso antes da noite de réveillon se fazia necessário . Vale lembrar que todos os sets do Na Manteiga serão disponibilizados em breve!
GOP TUN NA VIRADA // 31.12
Chegamos cedo no Tikal para a noite da virada. Entre uma espumante e outra, degustamos os finger foods oferecidos pela organização, com destaque para o Dadinho de Tapioca da Cafira, que por sinal entregou um belo menu para o Tikal durante toda programação do Xama.
Pedro Bertho, que acabou de entregar um set summer vibes para a Troally, ditava o ritmo das últimas horas de 2018 com um mix de brasilidades clássicas. Após uma bela mensagem de otimismo na voz de Pino Henrique Pedra, veio a contagem regressiva, os fogos e a faixa Baianá dos Barbatuques, que serviu como um turning point no set de Pedro, que dali em diante seguiu uma construção mais house.
Essa mesma linha foi continuada por Carrot Green, que entregou um mix bem no estilo warm up para a Gop Tun – os goppers tocariam por 5 horas na sequência. Caio T, Nascii, Gui Scott e TYV se alternaram nos decks de uma maneira que só é possível quando artistas que se conhecem muito uns aos outros. Caio abriu os trabalhos com o clássico Love Having You Around, vocais de Barbara Tucker e produção de Louie Vega. Se isso não é começar o ano com o pé direito, eu não sei mais o que pode ser.
https://www.instagram.com/p/BsHAjfUCJ13/
Ao longo das 5 horas de set, outros clássicos acertaram a pista como um furacão, como no caso de Atmosphere do Kerri Chandler e Black Water do Octave One. Mas o destaque real da apresentação do quarteto, fica para o entrosamento e a naturalidade que um set de 8 mãos flui – algo que definitivamente não é tão simples assim. Valesuchi e sua mistura sempre intrigante de techno e house foram as responsáveis por encerrar o stage. Teve after? Sim! Os mais fortes ainda curtiram uma brisa daquelas no lago que banha o Tikal: o primeiro café da manhã dos campeões em 2019.
ENCERRANDO EM XAMAS // 02.01
Passamos o primeiro dia do ano naquele famoso mood recuperação, que por sinal foi concluída com sucesso para o dia 2. Ao amanhecer, partimos para Saquaíra, mais especificamente para Butterfly House, uma das pousadas mais charmosas da Península. Voltamos a tempo de tomar um rápido banho, pré-arrumar as coisas pra viagem e #partiu Tikal.
O Encerrando em Xamas foi aquele tipo de festa despretensiosa, que no começo você acha que vai ser tranquilo e quando percebe, está no olho do furacão. Tudo começou com um set pra lá de interessante do mineiro Kureb, que já havia entregado uma experiência bem bacana pra gente durante nossa passagem por BH na 1010 em Setembro. Fugindo um pouco da linha house/disco do festival, ele preparou o terreno para Vermelho com maestria.
O DJ e produtor paulistano, residente da ODD, vive grande fase e reafirmou seu atual momento na pista do Xama. Sabe aquele set que você fica se perguntando: de onde esse cara tirou essa faixa? Então, geralmente as apresentações de Vermelho são assim. Quem riscou o último fósforo e colocou fogo no parquinho em definitivo foi Cashu, head da Mamba Negra. Assim como Márcio Vermelho, Carol teve um set de 3 horas a sua disposição. Esperávamos um set mais techno, porém fomos surpreendido com uma construção que passou por movimentos distintos e teve como destaque a faixa Pedra Preta do recente álbum do Teto Preto – que por sinal foi tocada pelo menos 3 vezes ao longo do Xama.
TIME TO GO BACK
Pé na estrada no dia 3, deixamos o festival um dia antes do fim de sua programação – mais uma vez por questões de agenda. Cerca de 3 horas de carro até Ilhéus e após um almoço em um dos buffets mais tradicionais da cidade, encaramos uma longa espera no aeroporto da cidade e uma conexão em Campinas antes de pousar em Santa Catarina. Sem problemas, já que qualquer que fosse a espera naquele momento, pouco importaria: nossa mente estava cheia de boas recordações e com aquela sensação de ter vivido algo mágico em um lugar paradisíaco. Que o Xama 2019 represente o início de uma longa jornada. O Brasil merece. Obrigado, Gop Tun e Selvagem!
A MÚSICA CONECTA.
Fotos por @super_praia