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A música conecta

Caetano mostra maturidade e vive momento especial na carreira

Por Alan Medeiros em Troally 13.07.2017

A frente da TROOP, Caetano tem se mostrado um dos nomes mais interessantes do atual cenário catarinense de música eletrônica, seja por seu rico background musical que permeia entre o disco, funk, soul e blues, ou pelo cuidado e empenho na concepção de uma das melhores festas do momento na ilha da magia.

Mantendo a consistência através de bons sets e ampliando seu leque musical com intensas pesquisas no digital e vinil, Caetano agora retorna a Troally, após assinar o mix 23 do nosso canal. Paralelo a discotecagem, ele mostra maturidade ao responder algumas perguntas sobre Floripa, período morando fora do Brasil, planos para futuro e, claro, TROOP. Confira abaixo:

1 – Olá, Caetano! Tudo bem? No último fim de semana, você fez sua estreia no Terraza BC e logo de cara, já teve a responsabilidade de fechar a festa. Fale um pouco sobre a sua preparação para essa noite e como tem funcionado sua pesquisa musical nos últimos meses

Olá Troally peepz! Tudo bem sim! Então, confesso que eu sempre fico muito, mas muito nervoso mesmo antes de tocar, em qualquer lugar; seja para 30 pessoas ou para 1.000, ainda mais tendo tantos amigos que sempre acompanham as gigs e sabem o quanto a gente se prepara, trabalha e valoriza as apresentações. Para essa noite eu tinha preparado um set bem consistente, vinyl only, pensando na linha que nos foi passada no briefing. Porém depois do set sensacional do Ale Reis, super conciso, hipnótico, não teve como eu não tentar uma abordagem diferente e cheia de variações para ter um momento, digamos menos conceitual e mais puxado na noite.

Tenho focado minha pesquisa bastante em lançamentos vinyl only, comprando bastante second hand de vários amigos (evito comprar em discogs pela razão que acredito todos saberem, um salve aos correios brasileiros), porém ando percebendo que meu gosto tem mudado bastante. Cada vez mais me pego adorando músicas mais introspectivas, emocionais, bem densas e normalmente em escalas menores. Sempre seguindo meus mestres, P Scott, Fred P, Ron Trent, Chez Damier, Offermann, Aakmael, Tom Ruijg, QU, Swayzak, Sullivan e a lista é longa. Mas no escopo destes artistas que citei, as gravadoras com que eles trabalham são um vasto e rico arsenal de gravadoras digitais/vinyl /CD, é muito material. O mais divertido de tudo isso, é que eles me guiam para artistas novos, gravadoras novas e ai já vira um ciclo vicioso [risos]

2 – Florianópolis possui uma das cenas mais interessantes do país no momento e certamente você e a TROOP tem colaborado para isso. Na sua visão, Floripa já pode ser colocada no nível de cidades como São Paulo e Curitiba, por exemplo, que possuem uma história mais conectada com a dance music de uma forma geral? O que é produzido na ilha atualmente, é referência para outras cidades ou ainda importamos muito de outros polos?

Bom, eu não vejo tão interessante e promissor assim como parece. Para quem observa como espectador, realmente é uma cena em extrema atividade, que não para de quarta a domingo. Faz algum tempo que ando analisando o que vem acontecendo aqui na cidade e não vejo como benéfico, nem para os produtores muito menos para os consumidores, clientes. De fato temos mais núcleos e festas do que nunca, você chuta uma pedra e tem uma festa nova saindo na esquina. Mas o que eu vejo em cidades como São Paulo, é o nível da qualidade de serviço, estrutura, conceito, artístico, linguagem, parte tudo da base. Não que eles já não estiveram em diferentes momentos, mas acho que todos podemos aprender com os outros se olharmos com atenção. Vejo em Florianópolis um excesso de informação as vezes desnecessário, mais do mesmo, l’art pour l’art, onde a única coisa que realmente não esta presente é a “art”.

Inúmeras vezes me sinto peixe fora d’água, observando, que o público é extremamente rotativo, justamente devido a este exagero. É um público que vai sair, vai consumir loucamente de quinta a domingo, por digamos 1 ou 2 anos no máximo e depois vai mudar completamente o círculo em que frequenta. Quem frequenta, trabalha, vive disso sabe e já presenciou essa troca várias vezes, eu mesmo já estou no circuito ai faz 10 anos como frequentador e acredito que dificilmente vai chegar um momento em que vou começar a frequentar bares de música sertaneja pois estou “enjoado” de ouvir música eletrônica. Um fator social interessante e que eu estou prestando bastante atenção cada vez mais devido ao meu papel como produtor de eventos, artista e entusiasta de variados tipos de arte.

Ainda não vejo Florianópolis como referência, mas que de fato a “cena” por aqui esta bem acesa, só precisa de um pouco mais de profissionalismo e dedicação. Temos uma cidade maravilhosa a ser “explorada” de forma inteligente, mesmo os governantes sendo completamente atrasados como em qualquer lugar do nosso amado Brasil.

 

3 – Há algum tempo, você teve uma experiência de vida morando fora do Brasil e quando voltou, parece que a TROOP teve um gás a mais. Esse intercâmbio trouxe ideias que estão sendo trabalhadas atualmente? Morar fora te abriu os olhos para algumas coisas no que diz respeito ao cenário musical?

As mudanças vieram comigo do tempo que fiquei por lá. O workflow dos americanos é completamente diferente dos brasileiros em vários aspectos: o cuidado, profissionalismo, a atenção ao cliente, principalmente a valorização que ele mostra em você ter confiado nele para exercer aquele “serviço”, e em um curto período de tempo por lá ou você entra no ritmo deles ou você não sobrevive. Eu particularmente posso dizer que me entreguei ao modo como as coisas funcionam e aprendi muito. Musicalmente, aonde estive por lá, parecia que eu estava completamente deslocado. O público das festas com som mais “conceitual” por lá, é o público que começou a sair com 16 e hoje esta com quase 40, então eles conhecem muito, valorizam muito e sabem o que os produtores, os locais, as regras, a música passaram para estar como estão. Em outra mão, existem infinitos pubs, bares, praças, clubs, onde você só ouve música extremamente comercial e você vê aquele “freak show” da juventude perdida americana de filmes. Não precisa nem perguntar qual eu escolhi frequentar… Existiam festas de todos os tipos, para todos os gostos e bolsos, mas musicalmente na minha opinião fiquei achando que eles estavam um pouco parados no tempo. O que pra mim foi maravilhoso em todos os momentos que eu ia me apresentar, tentava levar uma pesquisa bem elaborada, versátil, que devagarinho me deu 2 gigs por mês em um maravilhoso terraço em St Petersburg, ao lado de Tampa, Flórida. Em alguns dias eu abria a noite e em outras fechava, isso foi crucial para eu sentir e conhecer mais das pessoas de diferentes culturas.

A maior diferença que esta experiência trouxe na minha vida realmente foi o workflow. Quando cheguei no Brasil, tudo que eu ia fazer eu estava fazendo diferente. Para quem vive um tempo fora sabe como é difícil essa adaptação da volta. Entraram pessoas novas na equipe da TROOP, como o Pin, o João da Desterro como colaborador, e cada um agregou de infinitas formas ao operacional e conceitual do projeto. Neste 1 ano da minha volta a atenção e a forma como o trabalho vem sido desenvolvido mudou e acredito que esse era o “gás” necessário, um ponto de vista diferente, algumas mãos mais ativas e talvez um olhar mais profissional de como tudo pode e deve funcionar.

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4 – Ainda sobre a TROOP. O que você pode adiantar de novidades para o futuro? O que o público pode esperar das próximas edições?

A TROOP começou como uma plataforma de interação entre formas de linguagem artística e ficou algum tempo parada neste quesito. Neste um ano de trabalho consistente, o projeto alavancou como um conceito, lifestyle, experiência, festa, e agora é hora de voltarmos um pouco a base do nosso conceito. Esperem por edições muito mais ricas em atrações não só DJs ou espaços diferentes, preencheremos os locais com atividades de variadas vertentes artísticas. Pensando nisso, este próximo ato acontece dia 19 de agosto agora, em um local ainda não divulgado, idem line up e atrações, segunda feira lançaremos a base de tudo para devagar irmos inserindo os diferentes artistas e interações que irão acontecer. (evento)

Além deste foco, daremos uma atenção maior a VOOMP que é nosso projeto paralelo, acontecendo mensalmente, e também lançaremos uma nova festa mensal, noturna, para acontecer mensalmente no centro da cidade, com um estilo bem específico de som.

5 – Enquanto DJ, como você avalia o seu atual momento no que diz respeito a identidade sonora? A produção musical faz parte dos seus planos futuros?

Andei em uma espécie de crise de identidade por um bom tempo. Percebi que não devo ficar olhando muito para os lados nem tentando comparar com ninguém, a grama do vizinho nunca é mais verde. Estou bem mais focado em transmitir e me comunicar da forma que eu acho que funciona com o público que já me conhece e trabalhando em “caetanos” esquecidos um pouco devido a alta quantidade de trabalho e atividades. Um lado disco, funk, soul, blues, que é a minha base referencial, acredito que esta voltando cada vez mais forte e estou me dedicando a isso. Mas minha intenção é bem clara e simples, quero fazer as pessoas dançarem tocando o que eu realmente gosto, como vim me esforçando para fazer desde que comecei.

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A produção vem me chamando atenção bem devagar. Confesso que estou cada vez mais interessado, mas ainda não consigo me dedicar o suficiente para fazer planos em relação a isso. São vontades e necessidades que vem tomando forma cada vez mais em mim.

6 – Fale um pouco sobre o caminho que você seguiu para gravação desse podcast para Troally

Foi um set one shot. Escolhi músicas a dedo que ainda não toquei e conheço super bem, de artistas que são minhas referências, coisas novas e coisas velhas, digital e vinil. É claramente o Caetano que vocês tem visto nas pistas por ai. Eu admiro realmente quem grava umas 5 vezes o mesmo set para ficar perfeito. Mas desculpa a sinceridade eu não consigo [risos]. Se eu fosse gravar outras vezes até achar a “perfeita” ficariam histórias completamente diferentes. Eu particularmente adorei fazer e a galera tava curtindo no momento que foi gravado. Acredito que vai ser uma boa trilha sonora para um começo de noite, uma boa trilha para uma viagem de carro e até para dar uma acalmadinha depois de festa sem after.

7 – Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

É meu sonho, é minha realidade, é meu amor, é minha companheira. Me apresentou fragmentos da vida e sou extremamente dedicado a ela.

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Música de verdade, por gente que faz a diferença.

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