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A música conecta

Vitrola | O grito político e a sonoridade rica das meninas da Mulamba

Por Georgia Kirilov em Vitrola 06.07.2017

Você pensa em girl band e logo vem na cabeça Spice Girls, ou Girls Aloud. Hoje em dia talvez até venha HAIM em um outro contexto contemporâneo, mas é bem raro – por motivos estruturais até – alguém conseguir imaginar as meninas da Mulamba e o grito político que são suas letras e sonoridade. Criada em Curitiba e composta por Amanda Pacífico (voz), Cacau de Sá (voz), Caro Pisco (bateria), Ter Koppe (violoncelo), Naíra Debértolis (baixo) e Nat Fragoso (guitarra), Mulamba é uma banda que brinca com MPB e rock, fazendo uso dos seus versos para transmitir ideais feministas e questionar as estruturas da nossa sociedade atual.

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Mulamba vai dividir o palco da Ópera de Arame no dia que BaianaSystem vem para Curitiba (22 de Julho) para fechar o Festival Subtropikal, iniciativa para fermentar a economia criativa do âmbito local, quebrar as bolhas criativas e promover interação urbana. Dentro do festival, terão atrações de techno, micro house, dub, bass, pop, rock, MPB, e muito mais, mostrando que todos os gêneros de música se comunicam e promovem trocas de referência e cultura que valem a pena e só acrescentam na hora da produção. É partindo dessa crença que, nós aqui do Alataj, chamamos as meninas para uma conversa sobre o momento atual da cena brasileira e as reflexões delas sobre a mesma. Confere aí:

1 – O que é ser um grupo all female nesse momento atual que passamos no âmbito local e internacional?

Ser uma banda só de mulheres e abordar temas que nos representam gera muita força e fomenta debates sobre realidades ainda caladas. Algumas pessoas ainda têm incertezas sobre a capacidade musical feminina, mas, pouco a pouco, estamos conseguindo conquistar nosso espaço. Também temos refletido constantemente sobre a baixa visibilidade e reconhecimento das mulheres em muitos mercados, não só na indústria fonográfica. Por outro lado, observamos iniciativas maravilhosas surgindo, como o Girls Rock Camp Curitiba, um projeto voluntário que está presente em vários países e desembarca na cidade para a sua primeira edição. A ideia é contribuir para empoderar garotas de 10 a 17 anos por meio da formação musical. Lindo, né?

 

2 – Vocês são originais de Curitiba, e vão se apresentar no festival Subtropikal que promove a economia criativa local, o que é particular dessa cidade e de ter tido esse local como ponto de partida?

Curitiba conta com uma miscigenação de pessoas e ideias que enriquecem a arte local. Observamos vários projetos fomentando esse cenário, principalmente aqueles realizados de forma independente, como o Subtropikal. Mesmo com tantas atitudes equivocadas de repressão à arte e tentativas de silenciamento, existe todo um movimento que resiste em prol da cultura e da liberdade de expressão.

3 – Suas letras são bem gráficas e impactantes, qual a importância desse manifesto?

Colocando temas relevantes em pauta por meio dessa linguagem universal que é a música, queremos estimular pensamentos e conversas sobre assuntos que são frequentemente ignorados. Então, abordamos questões sociais que vão desde a violência contra a mulher, como é o caso de P.U.T.A, até o descaso com pessoas deixadas às margens, como em Vila Vintém. Vamos falar, tocar, cantar e gritar até sermos ouvidas e respeitadas.

4 – Aqui no Alataj, costumamos falar sobre música eletrônica, mas quem realmente entende e se conecta com a música sabe que todos os gêneros se comunicam muito. Existe algo do sintético, do inorgânico e até da sensibilidade dos sintetizadores, que se relaciona com a sonoridade da Mulamba?

Mulamba é uma mistura de referências. Temos inspirações distintas que unem distorções de guitarra provenientes do rock com a melodia do cello, que vem de um universo erudito. As composições costumam andar em conjunto com as letras e com a mensagem, sempre com a ideia de reinventar, desconstruir e explorar formas de som. Acreditamos que a música eletrônica também percorre esses caminhos, então, possivelmente a conexão resida tanto na transmissão de mensagens quanto na busca pela autenticidade sonora.

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5 – Quem são suas maiores inspirações femininas? Sejam elas no mundo da música ou não.

São várias, mesclando desde referências consagradas há tempos até mulheres que estão se destacando atualmente. Podemos citar como alguns dos principais nomes: Elza Soares, Bibi Ferreira, Édith Piaf, Nina Simone, Oshun, Rita Lee, Cássia Eller, Elisa Lucinda, Elis Regina, Fernanda Montenegro, Clementina de Jesus, Zezé Motta, Carolina Maria de Jesus…

6 – Para terminar, como quebrar a bolha criativa que nos separa quando estamos todos criando e sofrendo pelos mesmos motivos? Como fazer uso da rua para promover interação urbana e comunicar os pólos que estão tão perto, mas tão distantes?

Somando com todos os campos de arte possíveis a cada novo projeto. Juntando aquilo que a sociedade insiste em separar há centenas de anos. Fazendo um corpo que circula na criação, bitolando-se a uma parte única desse todo, que é o poder de expressão. Um poder que toda e qualquer alma pode exercer. A rua é o espaço capaz de conectar esses movimentos singulares, criando uma união que reverbera na mesma voz e sintonia.

A música conecta as pessoas! 

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