Stanccione é um artista que expressa sua alma em tudo o que faz e assim traduz a versatilidade de sua personalidade na música. Seja através de batidas mais encorpadas ou de melodias suaves, ele consegue criar atmosferas contemplativas, combinando espontaneidade e técnica com uma paixão visível pela arte da discotecagem. DJ residente do D-EDGE, Stanccione sabe entreter e educar o público, sempre equilibrando criatividade e disciplina. Além disso, seu trabalho também se estende ao background da cena, já que é o tour manager de Binaryh e Victor Ruiz, e promoter/organizador oficial da tradicional festa DJ Marky & Friends.
Já em sua jornada como produtor musical, sua experiência é comprovada por releases assinados em labels como Playperview, Get Physical, Warung Recordings e D-EDGE Records. Agora, para somar ao catálogo, ele apresenta seu mais novo trabalho, o EP This Music, lançado pela Sintoniza Records, gravadora comandada por Alex Dittrich desde 2022. A faixa-título é uma verdadeira surpresa aos ouvidos, já que revela um lado até então “oculto” de Stanccione, que explora nuances do Trance old school combinadas com sintetizadores ácidos e vocais robotizados, enquanto What If? apresenta um groove mais suave que se conecta com suas raízes no House. Duas faixas bem distintas e versáteis para serem tocadas em diferentes momentos da noite.
Aproveitamos este lançamento para convidar Stancione a responder nossas perguntas da coluna 15 to understand, assim, conseguimos entender e descobrir mais a fundo sua forma de pensar através de tópicos que vão desde desafios na música, disciplina, pirataria, colaborações e mais.
Qual o diferencial mais importante na preparação para uma gig?
Para mim, o grande diferencial é ter descansado bem antes de qualquer gig. Claro que nem sempre isso é possível com logísticas apertadas, mas estar descansado realmente faz minha entrega ser diferente.
Qual o maior desafio que a música já te trouxe?
Custear todas as contas e estilo de vida que tenho. Esse com certeza é o maior desafio do músico independente.
Algum artista ou música já mudou a sua vida? Se sim, qual?
Com certeza! Alguns artistas/projetos que marcaram muito minha vida e de alguma forma influenciaram nas direções que eu segui são: Altern 8, David Carretta, Ron Trent, E.B.E, UR… São muitos artistas, muitas mudanças [risos].
Fale um pouco sobre o que você considera mais relevante: uma grande ideia ou uma rotina disciplinada de trabalho?
Ambos, uma grande ideia sem disciplina é só uma pedra e disciplina sem grandes ideias é somente conceito.
Qual é o momento ou conquista mais importante da sua carreira até aqui?
Na minha carreira? Sempre a próxima conquista. Mas, para citar um momento legal, eu diria que a minha entrada pro D-EDGE como DJ residente e também como integrante da D AGENCY, agência de DJs do club. D-EDGE é a minha escola há praticamente 20 anos, estar nas cabines dos clubs que a marca D-EDGE engloba é algo muito satisfatório.
O que torna um set realmente inesquecível para o artista e para o público?
A conexão. Ter mixagens verdadeiras e sinceras, um pool de músicas que são de fato para pista e ser apaixonado pela música aumentam muito a chance de ter essa tal conexão. A conexão pra mim é quando a pista realmente entende que você é o que eu disse acima, quando ela decide baixar o celular e erguer a cabeça pra você. É isso que torna uma apresentação inesquecível
Qual a sua opinião sincera sobre pirataria digital?
Minha opinião? Eu acho que a pirataria digital é algo necessário. 99% de todos os artistas usufruem ou a usufruíram dela. DJs descobrem artistas através de FTPs de download de música, produtores testam plugins através de fóruns especializados. A pirataria é o grande laboratório dos artistas. Agora, cabe a cada um escolher seus caminhos. Construir seu trabalho, seu legado através de pirataria é algo que nunca dará certo. Eu acredito muito no karma, então…
Como encontrar o equilíbrio entre autenticidade e as tendências da indústria?
Essa pergunta é difícil né? Como agradar gregos e troianos? O grande lance aqui é focar em fazer. Escutar muito a sonoridade com a qual se identifica no momento e fazer. Fazer mesmo, sem ficar copiando música do artista que se está hiper fixado, ou então produzir algo para figurar charts e playlists. Pode ter certeza que a grande maioria dos artistas que você gosta estavam preocupados em fazer música e não agradar alguém, um grupo, nicho ou fatia do mercado. Isso é consequência.
Qual aspecto da cena você escolheria mudar ou transformar por completo atualmente?
Podem ser dois aspectos? O celular, esse eu não preciso explicar o porquê. O segundo seria essa ansiedade que foi implicada a todos nós de sermos produtos, grandes e de sucesso. Música é arte, dança é arte, ir para um club ou festa é um momento a ser vivido e não uma experiência a ser validada.
O que traz inspiração de maneira prática e contínua para criação?
Ouvir música.
Ao fim da sua carreira, como você quer que as pessoas lembrem da sua arte?
Isso quem vai decidir são as pessoas. A mim cabe fazer o que eu gosto e o que me diverte dentro de um dancefloor.
Como você descreve a jornada de evolução de seus trabalhos na música do mais antigo ao mais atual?
Longa, sem pressa, conturbada e prazerosa. Sem fim.
Qual foi a grande lição que você aprendeu ao longo de sua carreira?
Que o que é pra ser nosso vai ser. A gente tá fadado a ser o que nós somos e queremos ser e não ao que os outros acham e nos apontam que somos.
Como você vê a relação entre sua identidade pessoal e sua identidade como artista?
Não existe relação. Meu eu pessoal é meu eu artista, eu sou uma coisa só. Deixo a divisão para os que encaram o ofício de DJ como um produto e não como uma forma de expressão
Qual é a importância da colaboração com outros músicos em sua criatividade?
De alto valor, é através desses momentos que a gente consegue enxergar falhas, absorver conceitos que passam batidos, onde a gente estimula a amizade. É importantíssimo um artista colaborar com outros artistas e, não digo isso somente na hora de tocar ou fazer música. Sozinho você não é ninguém, nem nunca será.