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A música conecta

15 to understand | DJ RaMeMes

Por Elena Beatriz em 15 to understand 21.11.2025

Em 2017, Ramon Henrique começou a produzir músicas para divertir os amigos, sem planos definidos sobre uma carreira artística, apenas o desejo de dar vazão à sua arte. As montagens e edits que publicava em plataformas como o SoundCloud acabaram chamando atenção justamente por seguirem um caminho que não buscava adequação ao mercado, mas sim uma liberdade que hoje define o nome DJ RaMeMes.

A partir dessa espontaneidade, ele desenvolveu um estilo que combina a irreverência das produções caseiras do Funk dos anos 2000 e 2010, música eletrônica e o “beat tamborzin”, reconhecido como uma das marcas mais particulares de suas produções. Com o avanço do seu trabalho, suas criações deixaram de circular apenas entre amigos, na cena local de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, e começaram a ganhar alcance nacional. RaMeMes passou a ser reconhecido pelo jeito próprio de construir suas faixas, que une humor, experimentação, Funk e Música Eletrônica Popular Brasileira.

Isso abriu caminho para que ele participasse de projetos de maior visibilidade, como a produção de Calma Amiga, para Pablo Vittar e Anitta, e a coautoria em It’s dark and hell is hot, de JPEGMAFIA

Aos poucos, seu nome se firmou entre artistas que acompanham as mudanças do Funk de perto e enxergam nele alguém que trouxe novos contornos para o gênero sem abandonar a informalidade que marcou sua origem, impulsionando tendências que hoje atravessam tanto o Funk alternativo quanto parte da música eletrônica nacional. Esse movimento também tomou forma no Baile do Ramemes, criado por ele e por amigos em Volta Redonda. O que começou como um encontro informal se transformou em um evento capaz de fortalecer a cena local e atrair atenção nacional. 

O baile se tornou um espaço onde todos dividem a pista sem separações — e isso diz muito sobre o impacto real de RaMeMes para além das produções. O crescimento do baile fora de Volta Redonda reforça o alcance dessa visão: uma festa que não busca polir o som, mas celebrar o que é espontâneo, provocativo e popular.

Neste momento de expansão e reconhecimento, aproveitamos para trazê-lo ao 15 to understand e entender, a partir de sua trajetória, o que seu trabalho revela sobre a cena que está se reorganizando ao redor de estéticas menos previsíveis.

Quando a música virou mais que um hobby para você?

Quando eu fiz a música da Pabllo Vittar com a Anitta, aí eu comecei a levar mais a sério, porque eu brincava mais do que tudo, brinco hoje em dia, mas a música virou mais do que um hobby.

Você se enxerga produzindo, tocando e viajando com a música até o fim de sua vida?

Sim, porque eu só sei ser DJ e cortar lenha.

Qual é o lado ruim de uma carreira na música?

Eu acho que é você não saber controlar a carreira. É muito bom sempre ter alguém para auxiliar você, porque sozinho você enlouquece.

Qual o diferencial mais importante na preparação para uma gig?

Eu acho que é tomar muita água e evitar se passar, né? É sempre estar bem um dia antes para saber que no dia seguinte você vai estar ótimo para viajar.

Algum artista ou música já mudou a sua vida? Se sim, qual?

O Skrillex, sem dúvidas. Foi ele que me deu a vontade de ser DJ e um dos artistas que fez eu querer ser músico. E a a Pabllo Vittar, também, claro, porque depois dela minha carreira mudou.

A indústria da música vive um momento saudável?

Eu acho que tudo depende, depende de como você é, depende dos seus gostos. Eu acho que poderia melhorar mais, só que eu sei que o mundo perfeito não existe. Então, eu sempre agradeço o que eu tenho e eu sempre vejo o que eu gosto, porque é isso, sabe? Tem de tudo e também quando você vê alguma coisa acontecendo e enxerga que é errado, vai lá e denuncia, porque realmente, se deixar para lá as coisas, vai ficar tudo horrível.

Qual é o momento ou conquista mais importante da sua carreira até aqui?

Eu acho que sempre vai ser a música com a Pabllo, porque como um cara do interior, eu nunca esperaria nada disso e esse sempre vai ser o momento mais marcante da minha vida.

O que torna um set realmente inesquecível para o artista e para o público?

Eu acho que as pessoas precisam ver que o DJ tá se divertindo, porque não adianta nada você ser DJ e não estar gostando do que tá fazendo. O público vai ver isso e a experiência não vai ser positiva.

Como encontrar o equilíbrio entre autenticidade e as tendências da indústria?

Meio que eu só faço o que eu gosto. E aí se aparece alguma tendência na indústria que eu gosto, eu vou fazer sim, sem problema nenhum. Mas tem muita coisa que aparece, que eu não consigo, não me enxergo fazendo.

Qual aspecto da cena você escolheria mudar ou transformar por completo atualmente?

Eu acho que nenhum, porque eu não me importo muito com o que vai acontecer e sim em me divertir. Se os outros estão se divertindo, fazendo as músicas aí, é isso. Você faz o seu e os outros fazem os deles.

O que traz inspiração de maneira prática e contínua para criação?

Eu acho que continuar sendo eu mesmo. Não tem muito segredo, eu continuo jogando meus jogos, às vezes quando eu jogo, vem alguma ideia, algum barulhinho me dá vontade de fazer uma música e é isso.

Como você descreve a jornada de evolução de seus trabalhos na música do mais antigo ao mais atual?

Com certeza tem muito mais profissionalismo. Tipo, eu gosto de brincar, mas agora chegou num ponto onde eu não posso só brincar, algumas coisas precisam estar bem certas, burocracias, etc.

Qual foi a grande lição que você aprendeu ao longo de sua carreira?

Eu acho que é respeito. Eu aprendi a ter mais respeito, conviver com mais gente diferente de mim e eu respeitar elas e é isso, sabe? Aprendi muita coisa e eu descubro muita coisa todo dia.

Como você vê a relação entre sua identidade pessoal e sua identidade como artista?

A pessoal é completamente tímida, que tem medo de tudo. O artístico é: “tô doidão e vamos se divertir, vamos quebrar tudo”. É o equilíbrio.

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