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A música conecta

Alataj entrevista Marcelo Oriano

Por Alan Medeiros em Entrevistas 01.11.2018

Formado em psicologia, Marcelo Oriano optou por seguir carreira em uma área que também é muito ligada as emoções: a música. A decisão de largar uma carreira “convencional” nem sempre é fácil, mas quando a vocação fala mais forte, não há muito a se fazer. Após receber os primeiros convites de co-produção, Oriano decidiu se dedicar inteiramente a arte de criar música eletrônica e hoje é uma das grandes promessas da cena nacional.

Sua residência em Amsterdam durante 2015 foi fundamental para que ele se aprofundasse nos estudos ligados a criatividade e engenharia de áudio para voltar ao Brasil 100% convicto de qual caminho seguir dentro desse gingante universo que é a dance music. Desde então, Marcelo passou a flertar mais proximamente com o dark techno, estilo que hoje pode ser considerado a base de seu perfil sonoro.

https://www.facebook.com/marceloorianoproducer/videos/1945947908760577/

Seus conhecimentos técnicos referentes a diferentes campos de conhecimento ligados a música o credenciaram a atuar em dois formatos de apresentação diferentes: live e DJ set. Em ambas as situações. Marcelo costuma flutuar entre harmonias profundas, ambientações obscuras e melodias influenciadas pelo psicodelismo sonoro. A escola alemã do Techno é uma grande referência para este talentoso artista brasileiro que estreia hoje no Alaplay, com entrevista exclusiva acompanhando:

Alataj: Olá, Marcelo! Tudo bem? Com uma carreira marcada por trabalhos em diferentes setores, como você busca organizar seu tempo para dar conta de tudo da melhor maneira possível?

Marcelo Oriano: Disciplina, auto-conhecimento e um bom app de agenda. Quando eu era mais novo acreditava que a disciplina era uma “inimiga” da liberdade, mas hoje o que me permite ser livre para atuar em tantas frentes e ainda ter um tempo pessoal foi justamente desenvolver essa virtude.

Eu falo “desenvolver” pois foi um processo árduo e auto-conhecimento é fundamental nessa luta. Somente após observar quais eram os pontos onde eu me distraía ou auto-sabotava é que eu pude escolher as ferramentas certas pra me organizar.

Me parece que a produção musical é sua grande paixão, certo? Quando exatamente você percebeu que poderia se comunicar através da criação de faixas autorais?

A produção é a minha grande paixão sim! Lembro que quando fui chamado para discotecar pela primeira vez, eu já quis compôr uma intro para o meu set. Na época, baixei o FL studio e assisti alguns tutoriais para então misturar um trecho de um filme com um “riser” e um “snare roll” que caía no drop da primeira música. Posso dizer que tão logo eu decidi ser DJ, já soube que queria tocar obras minhas.

Nos próximos meses você tem alguns compromissos com selos importantes dentro do cenário underground nacional e internacional. Como você descreveria esse seu atual momento de criatividade no estúdio? O que o público pode esperar desses próximos releases?

Me vejo vivendo um momento extremamente aberto para a criação e pro novo! Nos últimos seis meses consegui encontrar muita sintonia fazendo collabs nos mais variados estilos com colegas experientes e também com meus alunos, alguns dos quais já estão assinados. Além disso venho trabalhando vagarosamente num EP completamente sem computador (estou usando um Tascam Portastudio 424 MK III que mixa direto em fita k7), fazendo o arranjo de algumas tracks existentes apenas no meu live e ainda quebrei um jejum de nunca ter remixado pra ninguém, com um remix pro Allan Feytor – que sai no próximo mês pela Chromium de Berlim.

Paralelamente a discotecagem, você também desenvolveu seu live act, não é mesmo? Em quais destes dois formatos você se sente mais confortável para atuar?

Conforto é um termo complicado. O live é muito novo pra mim e já estou completamente apaixonado pela forma na qual posso desenvolver minha arte e a performance através dele porém acredito que, tocando para uma pista de dança, é uma situação muito mais tensa por estar “limitado” à somente minhas obras autorais para desenvolver uma apresentação. Costumo dizer que minhas tracks falam de mim mais do que um diário poderia fazer, então a sensação é de completa “nudez” na cabine: exponho minha arte para o público e eles vão gostar ou odiar, não há nada que eu possa fazer. Já no DJ set, me sinto com muito mais recursos e liberdade para conduzir a pista e mudar o groove ou pegada de som caso as pessoas não estejam dançando.

Em Novembro você retorna ao D-EDGE, dessa vez para um closing set. Qual é a expectativa em torno dessa noite?

A expectativa é enorme! Vejo o D-EDGE como uma das peças mais importantes da história da música eletrônica no Brasil, além de ter um ótimo soundsystem e lineups incríveis. Nas vezes em que frequentei a casa e também quando toquei, percebi que o público é exigente, compreende e valoriza as pesquisas mais ousadas e fora da mesmice. Todo esse conjunto de qualidades faz com que eu me sinta desafiado para dar 110% de mim e mostrar a parte mais preciosa do meu case.

https://www.facebook.com/marceloorianoproducer/videos/1953205064701528/

De que forma seus conhecimentos adquiridos como Engenheiro de Som contribuem para a evolução do seu processo criativo no cotidiano?

Senti que o maior salto no meu potencial criativo veio quando desenvolvi um workflow rápido e assertivo pra produzir. O fato de eu atuar como engenheiro de som foi me dando muita capacidade de abstração sonora dos resultados, de forma que posso ir adicionando sintetizadores e selecionando os samples já prevendo na minha mente como eles vão soar mixados, equalizados e posicionados. Não perder tempo fazendo pré-mix me permite passar muito mais rápido os sentimentos e ideias para o computador sem duvidar das minhas próprias escolhas, perder a paciência com o projeto ou ainda questionar o meu senso estético.

Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

A música é a minha forma de expressão, tudo o que tenho de mais precioso na vida foi a música que me deu: não apenas as coisas materiais e as relações mais lindas e produtivas que eu tenho, mas também a capacidade de me compreender como um agente criador e de me comunicar com o mundo. É clichê dizer a frase “a música salvou a minha vida”, mas só a partir do momento em que eu decidi que queria fazer isso pelo resto da vida foi quando eu comecei a reconhecer em mim atitudes de auto-preservação, serenidade e propósito.

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