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A música conecta

Alataj entrevista Darius

Se tem um lugar que rende um número considerável de artistas bem sucedidos na música eletrônica há diversas décadas, esse lugar é a França. A terra do French Touch não leva esse nome à toa, dali muitas tendências vanguardistas surgiram. O rótulo foi e continua sendo capaz de influenciar diversas culturas e gerações do eletrônico pelo globo.

O francês Darius faz parte dessa nova geração que bebe da fonte para criar, tendo iniciado sua carreira ainda muito jovem, no início da década. Suas primeiras produções ganharam vida em 2012. Mesmo sendo relativamente novo para o circuito, é possível captar que algumas de suas referências estilísticas são de outros tempos e que ingressar precocemente neste universo rendeu a ele habilidades avançadas. Ele já foi comparado a alguns de seus conterrâneos pela atmosfera que cria em seus sets e produções, mas não visa ser estigmatizado por suas influências. O meticuloso artista busca ir além para trazer algo seu.

Em 2017, lançou seu primeiro álbum autoral, Utopia, que exemplifica bem suas particularidades e backgrounds. Seu som é leve e cheio de sintetizadores contínuos e elementos cósmicos, com uma essência bem delirante. Por diversas vezes, as sensações produzidas ao ouví-lo remetem a uma frequência não tão terrena. Seu mais novo projeto é o single Equilibrium e trata-se uma colaboração ao lado do artista nigeriano Wayne Snow, conhecido por suas canções cheias de alma. A soma é verdadeiramente cativante e ainda vem acompanhada de um videoclipe super criativo e retrô, assinado pela renomada diretora parisiense Alice Kong. Conversamos com o artista para conhecê-lo melhor e saber mais sobre essa nova collab. Confira abaixo.

Alataj: Olá Darius, como vai? Obrigada pela oportunidade! Bom, você é francês e seu país é considerado um solo fértil para a arte e também para a música eletrônica. Qual foi o seu primeiro contato com o estilo? E como a cultura eletrônica que você experienciou influencia seu som?

Darius: Olá Alataj, eu estou bem e vocês? Foi meu que pai me apresentou à música, ele tinha diferentes sintetizadores, guitarras e baixo e tocava em casa. Foi em sua versão demo de Fruity Loops que comecei a explorar o mundo das produções, apenas pra me divertir. Em 2011, quando eu tinha 11 anos, o Daft Punk lançou o álbum Discovery e essa foi minha primeira grande bofetada na música eletrônica, como para muitos jovens da minha geração, eu acho.

Suas faixas seguem uma linha mais suaves como Lo-Fi e Deep House. Esses sons estiveram presentes em seu trabalho desde o início ou você naturalmente gravitou em torno deles? Você tem artistas que te inspiraram a chegar onde você está musicalmente? Se sim, quem?

Nos meus primeiros dias como Darius, eu ouvi muita música Soul, Funk e Disco porque naquela época eu fazia muitos samples e isso me alimentou muito musicalmente falando. Hoje em dia eu nem sei explicar, mas instintivamente há sons e moods que me tocam mais do que outros quando produzo. Sempre criei tentando transcrever minha sensibilidade sem saber a que gênero musical ela poderia pertencer.

Você tem parcerias com nomes expressivos como FKJ e outros artistas muito talentosos. Qual é a vantagem de trabalhar de forma colaborativa? Como funciona o processo de criação das faixas neste formato de trabalho?

Música é sobre compartilhar, então sim, é super importante ter um tempo em estúdio com mais alguém. Não há nada mais bonito do que conseguir conceber algo através da união das forças e contar uma história. Cada um dos artistas com quem trabalhei tem uma formação e cultura diferente e é isso que dá uma nova dimensão a cada colaboração. Com o FKJ foi bastante natural e fluído porque somos amigos há quase 10 anos e compartilhamos muitos momentos e referências musicais. Existem dois tipos de colaborações: as feitas no estúdio ao vivo, onde nos trancamos por alguns dias, e as feitas remotamente, onde enviamos uns aos outros o nosso progresso.

E por falar em parceria, você acabou de lançar o single Equilibrium com Wayne Snow. Como surgiu a ideia de produzir algo juntos?

Wayne Snow e eu já trabalhamos juntos algumas vezes. Eu descobri o seu trabalho por acaso na Internet através da música Red Runner, que causou uma grande impressão em mim. Eu entrei em contato com ele e ele concordou em me encontrar em Paris para gente fazer alguns testes em estúdio e ver o que poderia resultar da soma desses dois universos. E aí que os santos bateram tanto no aspecto musical quanto no pessoal.

A faixa recebeu um videoclipe dirigido por Alice Kong, que fala sobre como transcender diferenças e trocar experiências. Qual foi o critério de escolha do diretor? Conte-nos como foi inserir a história musical no vídeo e colocar essa ideia em prática.

Eu já almejada colaborar com a Alice há um certo tempo, porque eu a conheci há alguns anos e comecei a acompanhar o seu trabalho. Eu acho que ela tem uma visão super poética e atual do mundo e eu sempre soube que ela tem uma imaginação que transborda. A palavra “equilíbrio” inspirou ela ao longo de todo o roteiro. O período do coronavírus, o isolamento e o movimento de solidariedade que se seguiu vieram como uma confirmação de que queríamos uma mensagem universal de unidade, mas com um toque de leveza nestes tempos mais densos.

O coronavírus obrigou todos nós a ficarmos em casa e cada um está lidando com esse momento de forma diferente. Como você passou por esse período? Você tem alguma ideia sobre as possíveis mudanças na indústria da música quando retomarmos de fato?

Eu tenho vivido esse período ao lado de minha namorada e nossos dois gatos em Paris. Foi um golpe duro porque eu tinha acabado de partir para o Marrocos para as filmagens do videoclipe Equilibrium que já vinha sendo preparado há meses, tivemos que cancelar tudo e voltar às pressas para a França. Várias turnês e muitas datas também foram canceladas e adiadas, mas devo admitir que esse momento de calma forçada me ajudou muito. Eu finalmente consegui me acalmar, montar alguns equipamentos em casa para seguir com minhas produções. Também aproveitei esse tempo para começar a pintar, cozinhar e curtir a paz e o sossego de Paris como nunca havia conhecido antes.

Mesmo sem shows em boa parte do mundo, as produções e lançamentos aconteceram de forma expressiva. Você tem mais novidades para 2020?

Como eu disse acima, tenho algumas coisas em preparação que sairão ainda este ano, mal posso esperar para contar mais!

Por fim, uma pergunta pessoal. O que a música representa na sua vida?

A música é minha fuga, uma paixão que não me deixou nenhuma vez desde que comecei. É o que me define e permite que eu realmente seja eu e seja capaz de compartilhar isso com o mundo inteiro.

* Perguntas por Laura Marcon

A música conecta.

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