Skip to content
A música conecta

Iconic | Afrika Bambaataa & The Soulsonic Force, Planet Patrol – Planet Rock [Tommy Boy]

Por Caio Stanccione em Iconic 14.01.2021

Parafraseando Carl Cox: Oh Yes, Oh Yes! Sim, o primeiro Iconic de 2021 acaba de chegar para alegria de todos nós, e como todos podem ver, vamos começar com os dois pés no footwork que somente os anos 80 podem proporcionar. O nome dessa coluna se auto-explica, né? Aqui você sempre vai ler sobre faixas que marcaram demais o momento em que elas foram lançadas, influenciando outros artistas e fomentando os movimentos aos quais elas pertencem, além de conhecer mais sobre a história da mesma e seus criadores. Bora? 

Você sabe por que a sonoridade dos anos 80 é tão singular em relação às outras décadas? Eu te respondo. Foi na virada dos anos 70 para os anos 80 que a tecnologia amalgamou com a música, em especial os instrumentos musicais eletrônicos. Esses até existiam na década de 60 e início da década de 70, porém as limitações tecnológicas os tornavam extremamente caros, possibilitando apenas grandes estúdios ou até mesmo universidades possuírem esses equipamentos.

E foi nesse boom de inovação que uma das músicas mais importantes da história recente surgiu. Eu até entendo caso você nunca tenha ouvido falar em Zulu Nation, mas é impossível você nunca ter ouvido falar em Afrika Bambaataa, tido como padrinho do Hip-Hop, o cara que literalmente cunhou esse termo, além de ser um dos responsáveis pelo movimento Electro que ali surgia. Ele é o nosso escolhido de hoje, onde vamos explorar uma de suas obras mais conhecidas, a faixa Planet Rock.

Lance Taylor era um típico jovem da conturbada Nova Iorque dos anos 70, sendo membro de uma das gangues mais temidas daquela época, a Black Spades. Sacando que ele não duraria muito nesse estilo de vida, Lance e outros membros da gangue se desligaram da Black Spades e criaram a Zulu Nation em meados dos anos 70, um movimento que visa trazer a paz a justiça e a diversidade para os jovens excluídos da sociedade através de ensinamentos diversos como ciências, história, fé e claro, a música. O movimento deu tão certo que chegou a possuir sedes pelo mundo todo, como Japão, UK, França e até mesmo no Brasil. 

Representantes da Universal Zulu Nation EUA nos anos 80  

Afrika Bambaataa já era DJ em 1980, ano em que seu primeiro single Zulu Nation Throwdown saiu. Inspirado por DJs como DJ Kool Herc e Kool DJ Dee, recortes de Funk – em especial James Brown – e vocais falados ao invés de cantados são os fundamentos deste single, algo que fugia da regra dentro da indústria da música naquele momento, sendo pertencente de forma exclusiva da cultura suburbana de NY.

Até então nada de muito eletrônico pode ser observado – e ouvido – dentro do que os artistas de Hip Hop vinham fazendo até que em 1982, como uma bomba atômica, Planet Rock é lançada pela lendária Tommy Boy Records, talvez a gravadora mais importante para o Hip Hop, lançando artistas como Naughty By Nature, De La Soul, Above The Law, Wu Tang Clan, entre outros. A Tommy Boy também acreditou na Dance Music e através da sua divisão focada em música eletrônica, Tommy Boy Silver, lançou artistas como Masters At Work, 808 State, Information Society, Coldcut e mais uma infinidade de artistas e projetos que são tidos como lendários nos dias de hoje. Aconselho você a dar um Google sobre a Tommy Boy e sua obra, vale muito a pena! 

Primeira prensagem de Planet Rock pela Tommy Boy Records

Mas o que faz da Planet Rock uma música tão importante? Bom, para começar, a bateria de Planet Rock foi criada através de um equipamento que era uma novidade e por isso, ainda pouquíssimo utilizado na época chamado Roland TR-808. Sim, Planet Rock foi uma das primeiras músicas a explodirem com a lendária 808, que na época – e ainda hoje – era capaz de reproduzir frequências graves com muita intensidade. Outro fator que fisgou todos de forma inesperada, é a nítida influência de Synthpop que a track tem. Sintetizadores aos montes, sonoridades super sintéticas e uma harmonia que claramente foi feita após ouvir Kraftwerk.

Até então, ninguém tinha tentado usar essa sonoridade futurista para fazer Hip Hop. Claro, houve outras pessoas que utilizaram de equipamentos eletrônicos e criaram algumas características que até hoje o Hip Hop carrega, como Herbie Hancock e GrandMaster DST em Rock It, tida como a primeira música com Scratch. A grande diferença é que Herbie já era um artista aclamado desde a década de 60 e com grande capital para inovações se compararmos com a Zulu Nation. 

Toda essa influência de synthpop, instrumentos eletrônicos e sons futuristas veio por conta de um dos compositores de Planet Rock, Arthur Baker. Arthur é uma dessas mentes brilhantes que o começo da música eletrônica tem, tendo seu início com a música no início da década de 70, onde era DJ em Boston. Sua vida como produtor musical iniciou próximo a isso e com ninguém menos que Tom Moulton. De lá para cá, Arthur Baker é creditado por co-produzir e remixar artistas como Pet Shop Boys, New Order, Cyndi Lauper, Bruce Springsteen, Diana Ross e basicamente todo e qualquer artista que fez grande sucesso durante os anos 80 no mainstream. 

Arthur Baker

Como de se esperar, Arthur tem grande paixão pela pela música eletrônica de pista – e pela House Music, para nossa alegria –  e segue ativo até hoje, seja produzindo outros artistas ou lançando suas próprias músicas, como BT’s Happiness, lançada em 2019 pela gravadora de Shir Khan, a Black Jukebox.

Planet Rock é uma das músicas mais influentes já feitas, creditada como o marco zero para o Electro, recebeu disco de ouro em seu ano de lançamento, foi altamente elogiada pela grande mídia. A faixa conseguiu atingir literalmente todos. Todos sem exceção, de pessoas que apenas ouviam o que a rádio oferecia a punk rockers. Literalmente um fenômeno chamado Planet Rock. É graças a ela que grupos como RUN DMC e 2 Live Crew passaram a existir, influenciando de forma visceral como o Hip Hop se portaria a partir dali.

Preciso falar mais alguma coisa ou podemos concluir que Planet Rock é Iconic? 

A música conecta.

A MÚSICA CONECTA 2012 2025