Na maioria das vezes, quando analisamos uma faixa que alcançou o patamar de icônica, vemos também que o artista por trás de sua criação é tão ou mais icônico quanto. No episódio de hoje, apresentamos uma faixa consagrada de uma das mentes mais influentes da música eletrônica mundial. Icônica em seu carisma, em suas performances, em seus lançamentos e na forma como revolucionou os olhares de um mercado dominado por homens. Sua personalidade e atitude fez com que ganhasse o status de headliner dos principais festivais do circuito mundial e se estabelecesse dentro de um seleto grupo de formadores de opinião. Estamos falando de Nina Kraviz e a faixa que foi um grande divisor de águas em sua carreira, Ghetto Kraviz.
Mesmo apaixonada por música e discos de vinil desde muito jovem, a russa nascida em Irkustk, na Sibéria, não foi daquelas artistas que sabiam desde sempre que seu destino estava escrito através da carreira musical. Nina trabalhou por quase dez anos como dentista, e se dedicava paralelamente em sua coleção de discos e comentários musicais em rádios regionais. Influenciada pelas sonoridades de Chicago e Detroit, Kraviz fez seus primeiros sets na cidade de Moscow e, em 2007, lançou-se na produção musical com seu primeiro single Amok, pela B77.
Não demorou muito para que a versatilidade musical de Kravitz encantasse os diversos cantos da Europa. Misturando Techno, Acid, House e músicas atemporais sem medo de arriscar, sua performance rapidamente ganhou espaço em grandes festivais do cenário underground, e suas produções começaram a crescer através de labels como Underground Quality e a condecorada Rekids, de Radio Slave. Após bons EPs e singles lançados que mostravam a personalidade distinta e fluida de sua assinatura, em 2011 nasceu a faixa que tornou Nina a grande superstar da música eletrônica.
Lançada pela Rekids, Ghetto Kravitz surgiu de forma inusitada quando Nina estava trabalhando sobre um remix, e após uma sequência de loops longos, pegou o microfone e começou a cantar uma letra improvisada. Com uma estética mais crua, batidas simples e suaves, Ghetto Kraviz foi a primeira música de Nina com menos de quatro minutos de duração, e com uma estrutura de verso-refrão. Apesar de trazer algumas nuances características que a artista vinha desenvolvendo, a faixa marcou um momento de ruptura para Nina, que vinha crescendo sob um perfil impulsionado por sonoridades de Tech e Deep House.
A track foi inspirada no conceito estético do Ghetto House – vertente liderada pela gravadora seminal Dance Mania –, onde batidas simples e suaves são protagonizadas por vocais improvisados ou pequenos fragmentos melódicos que coloriam os grooves. A ideia da estética “raw” , onde os grooves crus pareciam tão bons que não precisavam mais de muitos elementos, sempre influenciou os trabalhos de Kravitz, que tinha o selo de Chicago como uma das maiores referências para seu trabalho. Ghetto Kraviz foi a última faixa de Nina a seguir os moldes dance maníacos, ideia que já estava sendo desenvolvida desde 2009.
Embora o nome venha da estética do Ghetto House, oito anos depois do lançamento de Ghetto Kraviz, Nina foi acusada de apropriação cultural no Twitter pelo nome da faixa desrespeitar os descendentes de comunidades africanas.
Apesar da polêmica posterior, a faixa quando lançada ganhou enorme repercussão no circuito mundial da música eletrônica, sendo tocada em milhares de sets e rádios de todo o mundo, e recebeu uma série de versões pelas mãos de outros grandes nomes do universo musical como Steve Rachmad, Amne Edge, Regal, Akid, Sebastian Knight, Dj Slugo, G Plak e muito mais. Hoje, Ghetto Kraviz é considerado um dos maiores hinos do estilo, e responsável por consagrar a russa como uma das artistas mais emblemáticas da história da música eletrônica.
A música conecta.