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A música conecta

Com curadoria sensível em sua Nature Recordings, Curol consolida uma nova fase para o Organic House brasileiro

Por Marllon Eduardo Gauche em Xpress 05.05.2025

A criação da Nature Recordings em 2022, selo idealizado por Curol, partiu de uma ideia mais profunda do que simplesmente lançar e distribuir faixas no mercado — nasceu da vontade de criar um espaço onde a música eletrônica pudesse carregar algumas características importantes para ela, como ancestralidade, brasilidade e, acima de tudo, propósito. Hoje, a gravadora não só cumpre essa missão, como se consolida como uma das principais vitrines do Afro e Organic House no Brasil, ressignificando um trabalho que cresce na contramão dos algoritmos e do hype.

O desafio na origem era: como fazer a pista dançar com alma? E a resposta apareceu na forma do coletivismo. Através de uma rede de artistas, conexões e colaborações, essa tríade ajudou a impulsionar o selo como uma das 100 gravadoras que mais venderam releases de Organic House nos últimos 12 meses, de acordo com o Beatstats. Mérito para faixas como Aries de Victor Alc e Luan Pugliesi, o remix de Dimitri Nakov para Tulum, de Curol, e para os dois volumes do VA Talentos Naturais, que além de ajudarem a ampliar o alcance da gravadora, reforçaram o compromisso com a diversidade e o fortalecimento da cena brasileira através da descoberta de novos talentos — projeto que deve ter continuidade anual.

Alguns pilares intangíveis sustentam o trabalho da gravadora até aqui: confiança, escuta e pertencimento. Isso porque a equipe prioriza menos uma estética comercial e mais uma ética de curadoria. O selo funciona como uma extensão das raízes de seus artistas — raízes que atravessam samba de roda, rezas, ritmos folclóricos e melodias herdadas da diáspora afro-brasileira. Tudo isso sem se desconectar das dinâmicas globais que moldam o Afro e Organic House contemporâneo.

Essa construção relacional da Nature Recordings também reflete um novo paradigma na forma de fazer música eletrônica: mais colaborativo e menos centralizador. E isso é nítido na maneira como Curol atua não só como artista, mas como A&R — articulando pontes entre Brasil, Europa e África, e posicionando a gravadora em circuitos que antes pareciam distantes. Naturalmente, esse esforço tem garantido um grande reconhecimento nacional e internacional da label em pouco tempo.

Na contramão do estilo “tropical” com o qual muitos selos brasileiros ainda são rotulados no exterior, a Nature Recordings oferece uma nova leitura de Brasil: espiritual, percussivo, introspectivo e ao mesmo tempo dançante. Ao contrário de abordagens genéricas que diluem as referências culturais, aqui os vocais em iorubá, os samples orgânicos e a direção criativa revelam uma identidade clara e coerente. Distante da apropriação, o que está em foco é a representação autêntica de um repertório cultural brasileiro e de suas raízes.

Pela frente, uma série de showcases pelo Brasil está confirmada a partir do segundo semestre, com a primeira edição planejada para setembro. A ideia é promover novos encontros entre artistas e parceiros, reforçando ainda mais essa identidade construída até aqui. É assim que, aos poucos, a gravadora tem provado que relevância não se mede apenas em plays, mas na capacidade de gerar vínculos, despertar a atenção de novos públicos e cultivar um som que toca algo mais profundo nas pessoas. 

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