Atenção, “fritinhxs” de todo o “Brazhell”. A Pornograffiti acaba de anunciar a mais nova coleção de outono/inverno 2021, que promete trazer à tona as lembranças do bug do milênio e colocar sal na ferida da realidade que estamos vivenciando no contexto atual do nosso país.
Batizada de S4D_4nD_Br4z1L14N, a coleção foi lançada no último dia 19 pelo site oficial e chegou carregada de estética Y2K e à linguagem l33t, movimento que bebe das referências da virada do milênio. O conceito das peças é inspirado também na insatisfação da população brasileira com a atual realidade do país, que busca no mundo virtual uma fuga nostálgica ao passado, onde o deslumbramento com as tecnologias era motivo para sonhar com um futuro melhor.
Apresentando novos modelos, como a calça Tr4ck3r, inspirada na cultura clubber noventista, e a jaqueta 4n0r4k, a coleção também conta com as peças de tricô oversized, jaqueta em sarja com gola removível, e o retorno da clássica Venenosa, com cores inspiradas nas Technics 1200 GLD com unidades limitadas.
Batemos um papo com o fundador da marca, Caio D’Andréa — que também foi o responsável por dar vida à atual logo do Alataj — para entender o conceito por trás da nova coleção, detalhes das peças, collabs e novidades que estão rolando dentro da Pornograffiti. Acompanhe.
Alataj: A nova coleção é inspirada na estética Y2K, que reflete os modelos da galera durante o bug do milênio. Fala pra gente um adereço da época que não saia do seu look e que hoje é referência para essa coleção?
Caio D’Andréa: Com certeza um item icônico dos anos 2000 que impactou diretamente a coleção S4D_4nD_Br4z1L14N foi a câmera Sony Cyber-Shot, que inclusive tem sua tipografia estampada, mas adaptada para Cyber-Loki, em uma das mangas da camiseta que leva o nome da coleção. Neste caso, uma influência direta, mas num modo geral, são mais as memórias da minha infância que permeiam as referências para a coleção: o deslumbramento com a tecnologia, com o surgimento da internet e o começo das relações virtuais com o mIRC, ICQ, os videoclipes das boybands, Britney Spears e Mariah Carey… aquele feeling das 18h da tarde, Disc MTV ou TVZ no Multishow mostrando as novidades do mundo da música, sabe? A sensação de chegar correndo da escola pra assistir seu anime favorito? Seu amigo que morava com a avó porque os pais moravam no Japão, mas por isso ele tinha os videogames mais recentes da época? Enfim, são mais as memórias e sensações que vivi na época que me serviram de referência para a coleção/editorial do que as roupas que eu necessariamente usava na época. Acho que hoje me visto melhor [risos].
Claramente existe uma pesquisa profunda através do histórico da vestimenta clubber para o desenvolvimento das peças das coleções da Pornograffiti. Como rola esse processo de redescoberta e readequação desses moldes de referência para os contextos atuais?
Não diria que existe uma pesquisa profunda, mas sim uma profunda curiosidade em saber como era a cena eletrônica na época e como ela chegou até aqui, nos dias de hoje. Rever festas históricas, documentários sobre raves da época, me ajuda muito pois consigo realmente ver como as pessoas se vestiam e o quanto elas pareciam estar confortáveis com aquelas peças, naquele contexto. Na coleção S4D_4nD_Br4z1L14N lançamos nosso primeiro modelo de calças, que é praticamente o mesmo modelo das que muitos estudantes utilizavam lá no fim dos anos 1990 nas escolas como uniforme. Uma calça tracker, 100% poliéster, super confortável, que muitos clubbers também vestiam pra ir nas festas de música eletrônica… Afinal, pra quem tá lá no front, há mais de 10h dançando sem parar, conforto e bolsos secretos/seguros é tudo de bom.
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Vestir-se é também um ato político e as coleções da Pornograffiti são um símbolo de que a moda também é um canal de resistência e manifesto. De que forma você acredita que a trajetória das coleções da Pornograffiti tem impactado a consciência coletiva?
Como não ver a moda como um canal de resistência e manifesto num país onde a atual ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos afirma, em sua posse, que é chegada uma “nova era” onde “meninos vestem azul e meninas vestem rosa”? Vestir-se sempre foi uma ato político no Brasil. E pra Pornograffiti foi muito natural transparecer aquilo que a gente pensa da vida em nossas roupas. Lá no começo, quando eu ia nas festas e via uma galera vestindo nossas camisetas, quando eu achava um zip loc usado da Pornô no chão, ou quando alguém me abordava pra dar um feedback, era sempre muito incrível ver esse impacto e essa construção de comunidade. Mas agora, num contexto de pandemia, fica um pouco mais difícil mensurar. Um pouco tempo atrás um hater coach ou coach hater questionou a gente no Instagram, dizendo que a gente não entendia nada de “empreendedorismo” e que não ia dar certo misturar “moda” e “política”. Bem, estamos aí tentando provar o contrário.
Qual a mensagem central que a coleção S4D_4nD_Br4z1L14N busca transmitir, frente a situação atual do nosso país?
Não existe uma mensagem central, prefiro que as pessoas tenham as próprias interpretações sobre as peças. Acho que, de modo geral, a coleção retrata um pouco da preocupante realidade em que vivemos atualmente no aguardo da vacina, em contraste com uma outra época, talvez mais feliz, no passado, onde as pessoas interagiam virtualmente por interesse e não por sobrevivência.
Quais são as peças-novidades dessa coleção e as coringas que permanecem e foram remodeladas?
Na coleção S4D_4nD_Br4z1L14N lançamos, pela primeira vez, um modelo de calças. Já faz um bom tempo que estávamos nos preparando para esse momento, inclusive fomos muito cobrados sobre isso quando lançamos a collab com a Senta (@sentomesmo). Na época, a única peça que lançamos que dava pra “sentar” foi um shorts. Agora com o inverno, decidimos lançar a Tr4ck3r, um modelo de calça bem confortável, com bolsos com fechamento em zíper e, é claro, nossos famosos bolsos secretos. Lançamos também um novo modelo da jaqueta corta-vento, batizado de 4n0r4k, uma peça mais leve, com uma pegada mais minimalista/sport. A jaqueta Venenosa também retornou, mas com um novo escorpião nas costas, inspirado no filme Drive (2011).
A peça Brasiliana Legítima traz a colaboração com o artista Kaio Kaypora. Como o trabalho dele chegou até você e como foi a experiência através desse collab?
Quem nos aproximou foi a performer Revoar Sabino (Okofá), com quem eu dividi a direção de arte de nosso novo editorial. Me encantei com as colagens do Kaypora e achei que poderia transformá-las em camisetas. Achei a temática extremamente pertinente, pois reflete com muita sensibilidade sobre o fato do local onde vivemos ser fruto da invasão de terras indígenas dos povos originários e como essa violência causa-lhes imensas dores, e a estética do Kaio vai de encontro com uma das facetas do meu estilo. Uma vez com os arquivos dele escaneados em minhas mãos as coisas fluíram naturalmente. Pode esperar que teremos mais colaborações em lançamentos futuros.
E quanto ao canal da Pornograffiti no Twitch, o que tem rolado por lá?
Nosso canal na Twitch (twitch.tv/username_proibido) continua fazendo a galera dançar e se divertir, sem sair de casa, com DJs residentes tocando em programas semanais. Às sextas, nosso braço direito no mundo musical, Linda Green, sempre traz um convidado diferente, com lives sem hora pra acabar. A Twitch, pra nós, também é um espaço para divulgação/comemoração de nossos lançamentos. Para a coleção S4D_4nD_Br4z1L14N não seria diferente. Então, dia 28/05 teremos a L4N_P4rTy, uma festa on-line em parceria com a Caos Campinas, acontecendo simultaneamente com o infame “dark Zoom” da Senta. Essa, somente para maiores de 18 anos.
A música conecta.