Não tem como falar em cena eletrônica brasileira sem falar em Warung. Inaugurada em novembro de 2002, a casa veio primeiramente para mudar o panorama de uma cena que não tinha muita força ainda na região de Santa Catarina, e posteriormente, para ser um club lançador de tendências e fomentador dessa cultura em todo o Brasil.
Sempre com o viés de uma sonoridade conceitual entre House e Techno e inspirado em uma estética das ilhas da Indonésia, o beach club foi projetado com grande sensibilidade artística e arquitetônica. Sua localização privilegiada de frente para o mar e em meio às belezas naturais da Praia Brava, na divisa entre os points turísticos Itajaí e Balneário Camboriú, permitiu que o ambiente se integrasse perfeitamente à natureza — não à toa, os momentos do nascer do sol presenciados por dentro são considerados extraordinários por todos que os contemplam.
A combinação entre natureza, arquitetura e música fez com que, ainda nos seus primeiros anos de vida, o club já ganhasse fama internacional. No boca a boca, astros de fora ficavam sabendo da fama de sua magia, o que facilitava contratações. Quando o duo Deep Dish fechou pela primeira vez, no Carnaval de 2008, por exemplo, Dubfire fez questão de abrir mão de outras gigs para poder viver a experiência intensamente, não apenas como artista. Em ambas as pistas, Garden e Inside, a comunhão entre público e DJs é facilitada pela proximidade entre eles. Assim, o Warung constantemente figura em rankings de melhores baladas do mundo há pelo menos uma década e meia.
A curadoria artística, é claro, sempre foi peça fundamental. Ao longo de seus 18 anos de vida, o Warung trouxe enorme parte dos maiores DJs do cenário House/Techno global, bem como showcases de núcleos e gravadoras consagrados — muitos deles, pela primeira vez no país. Loco Dice, Lee Burridge, Richie Hawtin, Maceo Plex, Solomun, Tale of Us, Hernán Cattáneo, Seth Troxler, Sven Väth, Nina Kraviz, Carl Cox, Stimming, Ben Klock, Bonobo, Joseph Capriati, Guy J, tINI, Marco Carola, ANNA… Chega a ser difícil encontrar algum desses figurões que nunca tenha se apresentado no “templo da música eletrônica”, como ficou conhecido por seus fãs fiéis. Sem falar na projeção que a casa deu a projetos brasileiros, muitos dos quais tornaram-se residentes, como Aninha, BLANCAh, Albuquerque, Leozinho, Renato Ratier e ZAC.
Com o passar dos anos a marca abriu novas frentes de atuação para expandir sua missão e valores de fomento à cultura eletrônica. Assim, surgiu um festival (Warung Day Festival), uma ‘turnê’ (Warung Tour), uma loja (Warung Store), uma gravadora (Warung Recordings) e, neste ano de 2021, até mesmo em decorrência do isolamento social provocado pela pandemia que abalou o planeta, nasceu a Warung School, para formar novos profissionais do cenário, passando adiante o conhecimento adquirido em todos esses anos de atuação.
Mais recente ainda foi a abertura da Warung Art Gallery, uma galeria de arte na rede blockchain para exposição e comércio de fotos históricas da casa em criptoarte, como NFTs — a nova onda virtual que veio para revolucionar o mercado artístico, agregando valor a peças digitais que tornam-se exclusivas e colecionáveis.
Neste primeiro movimento da galeria, o Warung colocou à venda seis retratos tirados pelo fotógrafo oficial Fabio Mergulhão — um dos maiores nomes de fotodocumentaristas do cenário eletrônico brasileiro —, criptografados em NFT. Nas fotos (que você pode acessar por este link), podemos ver momentos icônicos que representam a essência de toda a experiência ritualística transcendental que é vivida na casa, em recortes de tempo e espaço que vão de 2006 a 2008. Elas incluem as já citadas noites de Carnaval de 2008 com o Deep Dish, gigs de Sasha em 2006 e outras experiências sublimes dos frequentadores, como o famoso amanhecer no Inside.
Assim, mesmo com suas portas temporariamente fechadas, o beach club segue inovando; e, com uma natural ansiedade pela sua reabertura, vale seguir de olho no que vem por aí, em todas as suas frentes de ação.
A música conecta.