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A música conecta

Alataj entrevista From House to Disco

Por Ágatha Prado em Entrevistas 22.07.2021

Da paixão pelo glamour da Disco Music e pelo brilho dançante do House dos anos 80 e 90 nasce o projeto que, em seu próprio nome, imprime o fascínio por essas vertentes: From House to Disco. A dupla formada por Bruna Ferreira e Livia Lanzoni, parceiras na vida e na música, inspira-se nos legados lendários de Frankie Knuckles e Aretha Franklin para compor uma identidade de tirar o fôlego nas pistas de dança. 

Somando turnês pela Europa e apresentações por diversos palcos do Brasil, From House to Disco é o amálgama perfeito entre a energia de vanguarda e as nuances contemporâneas, provando que a House e a Disco Music permanecem com seu brilho indestrutível e atemporal. 

Durante a pandemia, Bruna e Livia dedicaram seus esforços para os trabalhos em estúdio e lançaram sua primeira faixa autoral, Take Back, pela Alphabeat Records. E agora, seguindo no pique da produção musical, elas embarcam em um novo trabalho estreando agora no catálogo da Diversall Music, com um remix para uma faixa de Jairo Pereira, em colaboração com a DJ Mari Rossi. O remix para Daquilo apresenta um Deep House dançante com a poesia e voz envolvente de Jairo. 

Conversamos com Bruna e Livia para conhecer mais a fundo as referências do projeto e entender mais detalhes do último lançamento pela Diversall. Confira.

Alataj: Olá meninas, tudo bem? Obrigada por nos conceder essa entrevista. From House To Disco começou os trabalhos em 2018 e desde então vocês já estrelaram turnês pela Europa e diversos palcos pelo Brasil. Como exatamente surgiu a ideia do projeto?

FHTD: Oi, Ágatha, tudo bem e por aí? Obrigada pelo convite, é um prazer conversar com vocês. O From House to Disco começou de forma super despretensiosa: nós tínhamos carreiras separadas, mas já tocávamos há alguns anos. Quando começamos a namorar e viver juntas, a primeira aquisição de casal foi um par de CDJ 850 e um mixer 250 de um amigo [risos] e tocar era nosso happy hour particular. Dessa brincadeira, nasceu a vontade de juntar os pendrives. O nome veio da mistura: Bruna com a mãozinha mais pesada e Livia com o groove, o que acabou dando muito certo.  

O que mais fascina vocês dentro da House Music? Tem algum artista lendário que ocupa um lugar especial no case de vocês e que são referência para o From House to Disco?

O que mais nos encanta na House Music é o seu berço formado por uma mistura tão diversa e poderosa, vinda da população gay, preta e imigrante das décadas de 1970/80 nos Estados Unidos, com forte influência da Disco. Podemos dizer que a House Music praticamente nasceu da resistência ao movimento “Disco Sucks”, um verdadeiro boicote não só ao gênero musical, mas a tudo o que ele significava culturalmente. Essa essência continua viva. É difícil falar dessa história sem mencionar Frankie Knuckles, Marshall Jefferson, Giorgio Moroder, bem como as rainhas Aretha Franklin, Donna Summer, Chaka Khan, Adeva, Crystal Waters e tantas outras, que até hoje são sampleadas. A House Music é, por essência, um gênero beta, mutante, com diversas vertentes, e é isso que a torna tão rica, atemporal e presente. 

Agora uma pergunta mais pessoal sobre o projeto de vocês: sendo um casal, acham que o processo produtivo e criativo flui mais naturalmente? Como funciona essa sintonia dentro de estúdio e atrás dos decks?

A gente tira proveito da intimidade do casal, fato [risos]. O From House to Disco nasceu três anos depois de começarmos a namorar, então já existia uma sintonia. E é justamente a sintonia que todo mundo procura em um processo criativo que envolve mais de uma pessoa; ela é a grande chave para a fluidez de um trabalho. Morarmos juntas é mais uma vantagem, pois ninguém precisa marcar nada na agenda de ninguém, aproveitamos o tempo livre pra trocar referências e etc. Mas como todo casal, também divergimos algumas vezes, principalmente em escolhas musicais para os setlists: cada uma abre sua exceção e a gente acaba se divertindo com isso. 

Vocês possuem um programa semanal na Veneno Live chamado DOZE”. Qual a ideia central que vocês procuram trazer para o programa?

Somos completamente apaixonadas por versões 12″ extended, aquelas criadas para serem tocadas nas pistas de dança de antigamente, que mantêm a essência original da música, mas com novas intros e breaks que dão um charme especial à obra. E de um jantar na casa de amigos, junto com dois sócios, surgiu a ideia de fazermos um programa focado nesse estilo. Nascia a DOZE”. Com agenda semanal, convidamos artistas a compartilharem seus cases com o público, fazendo uma viagem em suas influências, uma verdadeira homenagem às versões que fizeram história. 

Take Back, lançada pela Alphabeat Records, foi a faixa que marcou o debut de vocês como produtoras. O que vocês acharam do resultado dessa estreia?

Definitivamente, Take Back superou todas as nossas expectativas por ser um primeiro trabalho onde ainda estávamos experimentando e nos conhecendo como produtoras. Nesse processo, buscamos uma sonoridade que representasse muito bem as nossas inspirações, com instrumentos como o cowbell bem marcado, da 808, e a TB-303, tão difundida por Moroder. Somado a isso, veio a voz poderosa do Prettu, que trouxe o tom perfeito para o refrão “Take back what belongs to you”, um chamado para que a gente nunca esqueça de ocupar o lugar que conquistamos no passado: a pista de dança. 

Vocês acabam de estrear um novo trabalho pela gravadora da Ella De Vuono, a Diversall, com um remix para a faixa Daquilo, de Jairo Pereira. Como foi trazer para a vibe da pista de dança uma faixa que originalmente é quase um acapella? Que sentimento vocês procuram ilustrar nessa releitura?

Nosso principal cuidado para essa releitura foi manter a essência erótica da poesia do Jairo, mesmo que usando apenas alguns trechos dela. Nosso esforço foi para que ela continuasse envolvente e sedutora. Daí vieram os riffs de piano, super clássicos da House, que também formaram as notas graves da música e a releitura da gaita, um presente da própria acapella, somado a outros elementos. O contexto de lançamento da track ainda é pandêmico, cheio de perdas que também atingiram em cheio a cena eletrônica mundo afora. A saudade da pista e do calor humano nos fizeram construir essa versão para Daquilo como uma onda de calor, cheia de vontade de preencher esse vazio, uma verdadeira ode ao prazer que a gente esqueceu que existe. Ficamos muito felizes com o resultado, ainda mais com o convite para lançar pela Diversall, selo da Ella De Vuono, que é uma artista muito respeitada na cena eletrônica.  

O remix traz uma colaboração especial com a DJ Mari Rossi. Como rolou esse processo produtivo junto a ela?

Esse trabalho tem um gostinho especial por conta dessa collab com a Mari, que é uma das mulheres que mais admiramos na cena. Foi ela a primeira a mixar a voz poderosa do Jairo com uma leitura House Soul deliciosa. Quando ouvimos o remix, foi paixão no primeiro acorde e já começamos a trocar com ela como seria uma releitura “pista” dessa música, com a voz grave do Jairo saindo pelo soundsystem e preenchendo todo um ambiente. O processo levou cerca de dois meses e fluiu muito bem, mesmo à distância, tanto com a Mari, como com o Jairo, que também participou ouvindo as versões e passando suas impressões. Outro grande parceiro foi o engenheiro de áudio Guilherme Lopes, do duo Drumagick. Foi como trabalhar entre amigos, um complementando o outro e somando para que o remix imprimisse toda a personalidade da poesia original. Podemos dizer que esse é um trabalho divisor de águas, quando alcançamos a honra de trabalhar com artistas que admiramos. 

Quais as novidades que estão por vir para o From House to Disco?

Agora em agosto lançaremos um EP de remixes para a nova música de trabalho do cantor e amigo Leandro Buenno, com versões extended, radio e dub. Será um terreno novo pra gente, pois traremos nele uma sonoridade com mais atmosfera e elementos orquestrais. Além dos remixes, temos mais uma track autoral programada para o próximo semestre. E claro, estamos ansiosas para a volta das pistas e da retomada dos eventos, agora uma realidade cada vez mais próxima. 

E a clássica do Alataj para finalizar: o que a música significa para vocês?

Música pra gente é liberdade de expressão, onde conseguimos extravasar sentimentos e nos conectar com outras pessoas através de sensações. 

A música conecta.

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