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A música conecta

Iconic | Sunscreem – Perfect Motion (Boys Own Mix) [Music Village]

Quinta-feira chegou na redação do Alataj e é minha vez de voltar algumas casas no tabuleiro para visitar uma história musical. O ano era 1992, a derradeira dos millennials, ou seja, há exatamente 29 anos, alguns de nós nasciam e Perfect Motion também. Para quem já conhece, não existe debate: é um clássico atemporal, que vibra a essência da House Music progressiva dos anos 90. Mas mesmo se você conhece ou não, fato é que, vamos viajar no tempo para contar essa história.

O caminho da faixa, até se transformar em um hino, não foi como normalmente acontece com a lista icônica dessa coluna. O boom só aconteceu com uma remodelação que deu a ela uma energia de pista. Pistão de prog, como gosto de chamar (risos). Por essa razão, temos uma história culturalmente rica pela frente, que começa assim: o Sunscreem é uma banda de música eletrônica proveniente da Inglaterra, naquela que talvez seja a ‘era de ouro’ para a história do eletrônico inglês: a virada 80/90. É impressionante a quantidade de artistas, festas, clássicos e acontecimentos recontados até hoje, que rolaram nesse eixo. Que safra! Não vou desmerecer o que veio na sequência disso, de forma alguma, mas houve algo místico na Terra nesse período que menciono. 

Pois bem, seguindo essa energia mística, a faixa veio primeiro como single e logo após, dentro do álbum de estreia da banda, intitulado 03 (1993). No LP, ela é bem diferente do que você ouvirá hoje. Aliás, você poderá ouvir várias versões, já que remix é o que não faltou para ela ou para a banda – que possui muitos big names no currículo de remixes. E faz todo sentido, já que eles reuniam em um só lugar um pouco de House, de Techno e de Trance. Sim, a tríade perfeita em suas versões mais puras. Por essa razão, a original e seu clipe icônico é uma escala que você precisa fazer antes de seguir com a leitura.

Não tem muito o que dizer: transpira anos 90 do começo ao fim. A melodia, a bateria crua clássica, o vocal, a banda e esse clipe. Uma simbiose que representa muito bem o período.  Sua primeira remodelação foi feita pelos próprios integrantes da banda: Dave Valentine e Lee Metson, mas muitos nomes viram potencial ali. Novas versões se desdobraram por nomes como Leftfield, Carl Cox e, claro, a Boys Own Mix, nossa faixa. 

Os garotos que assinaram esse retouch são Pete Heller e Terry Farley, nomes importantes que os pesquisadores de plantão já devem ter cruzado por aí. Nessa época, eles também eram conhecidos como Fire Island e co-fundadores da gravura Boys Own ou Boy’s Own Productions, um coletivo britânico que surgiu na segunda metade dos anos 80, pioneiro da cena Acid House. Esse coletivo dirigia raves e festas em clubs quando tudo começou naquele solo fértil pronto para germinar. Além dessa baita peripécia, publicou um fanzine e começou um selo sob a égide da London Records. E voilà: tudo se conecta.

A versão deles entra para o guarda-chuva Dance Music, com uma abordagem que tem toda sintonia com o tipo de som que a Inglaterra curtia: O House e o Techno em sua forma mais classy, a linha tênue entre o Trance e House quando passam a ser progressivos e o Acid. É justamente isso que você irá encontrar: camadas e camadas de referência dessas primeiras escolas. A textura extra foi pinçada da Theme For Great Cities do Simple Mind (1981).

“Dave Valentine era um grande admirador dos Boys Own e os queria a bordo, tivemos que implorar literalmente à Sony para deixá-los tentar e, mesmo assim, não ficaram muito impressionados com o resultado. Foi só depois de Pete Tong tocá-la na Radio 1, descrevendo-o como ‘seu melhor trabalho de todos os tempos’, que eles mudaram de ideia e decidiram lançar”, conta um dos integrantes da banda em nota oficial.

Pronto, de um lado tínhamos o toque midas de Pete Tong e do outro aquele gostinho de novidade. Nascia um hino raver! Não encontrei fatos mais precisos sobre sua performance, mas sabe-se que ela esteve por semanas em charts UK e USA e ganhou um top 1 também. Sua potência a fez reverberar até hoje, seu último remix foi assinado por Patrice Bäumel entrou para a série de colecionadores de ninguém mais ninguém menos que a Renaissance, de Sasha e John Digweed – dois titãs do prog britânico. Um remixer de mão cheia escalado para reviver um desdobramento como esse e enaltecer a era das raves britânicas. 

Isso nos leva a crer que essa história ainda não acabou e pode ser que daqui muitos anos alguém recrie algo ou revisite esses recortes tão especiais. A minha contribuição vem até esse ponto, sobre algo que deixa todo fã com vontade de estar lá e ser amigo desse clã inglês pioneiro. Quem dera!

Notas de rodapé: o remix assinado pelo Way Out West, projeto formado por Jody Wisternoff e Nick Warren, também é uma parada obrigatória.

A música conecta.

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