Repita comigo, lentamente, o seguinte mantra:
Come closer to me / Chegue mais perto de mim
you’re all that I need / você é tudo o que eu preciso
it’s easy to see / é fácil de ver
‘cause I feel your touch / porque eu sinto seu toque
of up above / de cima
I’m calling love / estou chamando amor
with you tonight / com você esta noite
it’s all out of sight / está tudo fora de vista
Sentiu essa brisa? É a energia do seu chakra base remexendo aí dentro sem nem mesmo você saber. Ah! Você não sabia que a música faz dessas? Pois ela faz. E quando Chab e JD Davis criaram Closer To Me (Azuli Records), eles claramente estavam mal intencionados no jogo. Ou melhor: na melhor das intenções, se é que me entendem. Se, em todas as Iconics escritas por mim até hoje a linha condutora foi o amor, respirem fundo, porque hoje a ideia é mexer com uma das suas energias mais primitivas. Vou deixar sua imaginação te contar.
Existe algo muito instigante, envolvente e sensual por trás de algumas combinações na música eletrônica. Eu não sou produtora e deixo essa análise subliminar sobre a arte de combinar recursos para quem manja, mas na minha decodificação de clubber há quase 20 anos é sempre assim: aquela alternância de notas musicais em uma cadência, os beats por baixo de uma maneira mais encorpada, alguns claps ou elementos característicos que só aparecem em momentos bem específicos para trazer ritmo e calor, sintetizadores ondulantes que vem e vão com o nobre propósito de revirar seus olhos e claro: um vocal foda.
Se você conhece essa track sabe muito bem do que estou falando, se você já teve a oportunidade de dançá-la ou até mesmo tocá-la sabe o efeito interessante que esse mantra causa. Lascivo? Talvez, mas além desse ziriguidum que rola, não é exagero dizer que a faixa virou um hit do prog. “É porque ela é boa, clássica e meio Indie” você deve pensar. Certa resposta, mas tem mais. Sabe quem tocou essa música prá lá e pra cá em 2004, quando ela foi lançada? O muso das galáxias, Hernan Cattaneo. Aliás, não só naquele ano.
Hernan sempre tocou tracks de Chab, afinal, estamos falando de um super produtor do estilo, mas essa tá na cara que o hermano gostou mais. Logo, foi ele o pivô dessa história toda e por cristalizar a faixa na mente de muitos clubbers. Hernan é um gênio, mas naquela época o frenesi era tão forte que tudo que ele tocava virava ouro. E claro, ela se fez presente em um dos episódios do mix Renaissance dele, em sua versão também.
Tanto a original, quanto a releitura dele, como você já espera, são progressivas, mas a faixa tem muitas outras versões, algumas de até 11 minutos. Sim, versões. Ela é tão icônica que foi relançada em 2020 em um álbum pela Platipus, selo conhecido pelas tracks de Trance, com 15 faixas, entre remixes e versões. A 2020 Vision Mix é a minha escolhida, deixou ela com uma carinha mais contemporânea, mas sem perder essa tal essência que me refiro no texto. E o melhor disso tudo? Ela é para dançar e esquecer da vida entre suas variações que vão de 124 a 128 BPM e está tão na moda novamente que há grandes chances de você dançá-la neste verão. Até porque um dos remixes mais emblemáticos dela, assinado pelos titãs John Digweed e Nick Muir, foi relançado esse ano.
Resumindo: tá na moda e remix é o que não falta. Vontade de se perder na pista com essa musiquinha maliciosa também não.
E lembram do Indie Dance? Então, essa energia se dá pelo seu bassline funky e que a faz fluir perfeitamente, repetidamente, sem enjoar. Aquele sintetizador que te prende, somado ao blend maravilhoso: vocal masculino, nuances de vocais femininos, alguns elementos que são pincelados no desenrolar da faixa. Totalmente atemporal, com um efeito entorpecente interessante e a certeza de que muita gente vai dançar, cantar, fazer caras e bocas e, por que não, quando for realmente permitido, se perder com alguém na pista.
A música conecta.