Já falamos brevemente sobre o ilustre legado de Janet Jackson em uma das edições da Iconic, que apresentamos em julho deste ano. Porém, desta vez, nos aprofundaremos ainda mais através das diversas faces da artista, que podemos dizer que é uma das estrelas do Pop, uma diva do House e uma exímia representante do R&B contemporâneo.
+++ Iconic | Janet Jackson – Together Again [Virgin Records]
Janet Damita Jo Jackson possui um sobrenome que carrega o estrelato no DNA. Seu irmão Michael, o imortal rei do Pop, é a prova de que a música se conecta com a família Jackson de uma maneira singular, desde a infância. No entanto, vamos nos distanciar um pouco da influência de Michael e dos Jackson 5 na figura de Janet, pois a própria possui um brilho à parte.
Com sete álbuns número um em vendas, tendo vendido mais de 60 milhões de discos e 70 milhões de singles, Janet está presente na lista de recordistas da indústria musical em várias listas. A cantora e compositora é a primeira artista da história a conquistar o número 1 da Billboard com músicas do mesmo álbum mas em anos diferentes, como fez com Rhythm Nation, lançado em 1989, que consta na lista dos 50 melhores álbuns da história da música pela revista Rolling Stone.
Musicalmente, as referências de Janet somam-se a uma paleta de raízes da música negra que se interconectam com diversos gêneros como o R&B, Hip-Hop, Funk, Soul Rock e até mesmo o House. Através de sua voz, que carrega a essência mais pura do Soul, a artista foi uma peça fundamental na influência das divas Pop contemporâneas como Beyoncé, Mariah Carey, Rihanna e Lady Gaga, além do próprio Michael Jackson ter se inspirado nos visuais da irmã para seu álbum Dangerous.
A artista não somente abrilhantou a indústria musical com seus vocais como também provocou as mentes do público com temáticas polêmicas através de suas composições. A exemplo disso, seu terceiro álbum de estúdio, Control, lançado em 1986, já falava sobre amor, sexo, independência, epidemia de HIV/AIDS, além de relatar suas experiências pessoais ao se casar aos 18 com um amigo de infância que era viciado em drogas, e revelar uma situação de assédio sexual enquanto produzia o álbum. Quem mais iria ousar dizer tudo isso para a grande indústria naquela época? Arrisco dizer que nem Madonna se atreveu a fazer isso dessa forma.
No final dos anos 80, o álbum Rhythm Nation trouxe sete faixas que entraram para os charts disputados da Billboard, como Miss You Much, Escapades, Black Cat e Love Will Never Do (Without You), incluindo a própria faixa título que bebia da essência da Dance Music que florescia na época. Os trabalhos de Janet Jackson entre 89 e 93 são contemporâneos das divas do House como Cece Penniston, Robin S. e Crystal Waters, que não a deixam de fora dentro do hall de estrelas do estilo.
E quando falamos sobre R&B, That’s The Way Love Goes – lançado em 1993 através do álbum Janet – tornou-se seu maior hit nos Estados Unidos, e também a música mais vendida de um Jackson na América. O single ganhou um Grammy de Melhor Canção R&B e posteriormente foi apontado como um dos precursores do R&B contemporâneo.
Janet marcou o auge da cantora em seu contrato milionário com a Virgin Records, consagrando-a como a artista mais bem paga da América, e dissociando-a das polêmicas conturbadas da família Jackson. O disco traz uma mistura do Pop e R&B, além da conexão com o Hip Hop, Ópera, House e Jazz, distanciado do som industrial rígido de seus discos anteriores.
E foi flutando através dessas combinações, que os próximos álbuns da artista – The Velvet Rope e All For You – se consagraram como pérolas da música contemporânea, sempre contextualizando lutas e temas essênciais para a reflexão do grande público, como bulimia, anorexia e violência doméstica, além de falar sobre discriminação sexual e AIDS.
Já nos anos 2000, a artista teve passagens polêmicas e se deparou com a fragilidade da indústria diante de sua personalidade rompante. Ao se apresentar no intervalo do XXXVIII Superbowl com o astro pop Justin Timberlake, uma peça da roupa de Janet foi arrancada ao final da performance de Rock Your Body, e a artista teve o seio direito exposto a uma audiência de mais de 100 milhões de pessoas. A rede da CBS foi infestada por milhões de ligações que definiram o ocorrido como um ato obsceno e inadequado, e a cantora tornou-se a principal controvérsia nacional da época, sendo permanente banida da MTV e boicotada nas rádios, chegando ao cúmulo de ser desconvidada a se apresentar no Grammy Awards.
Pois é, junto a esse fator, e por toda sua majestosidade das temáticas contidas e suas composições, na potência emocional de sua voz e na visceralidade de suas performances que sempre foram à frente de seu tempo, que Janet Jackson se tornou – e permanece sendo – um verdadeiro ícone. Enfrentar a indústria musical, fazendo com que a grande mídia se ajoelha aos seus pés como uma grande rainha, não é para qualquer um. O legado de Janet ultrapassa as fronteiras de gênero, convenções normativas e traz o brilho da sua genialidade atemporal.
A música conecta.