Há dois anos, quando Avalon Emerson tinha acabado de lançar sua emblemática mix para a DJ-Kicks, eu mesma já havia falado por aqui, o quão selvagem e ao mesmo tempo abstrato é o trabalho da jovem e poderosa garota californiana. Ela com seu óculos Navigator, é uma das artistas que ocupam um lugar de destaque dentro do meu hall de referências, sobretudo quando o assunto é produção musical. Hoje aqui, às vésperas de seu retorno ao Brasil para brilhar no palco Supernova do Gop Tun Festival, vou (tentar) traduzir um pouco da complexidade da artista, que é ao mesmo tanto indecifrável como surpreendente.
Emerson nasceu na cosmopolita São Francisco, e por lá acompanhou de perto o crescimento do cenário underground da cidade, junto à próspera expansão industrial californiana. Dedicada aos estudos de programação como autodidata, a curiosidade e a paixão pela música, levou Avalon a começar a produzir sozinha suas primeiras músicas, inspirada pelo Dance Punk DFA.
Como uma geek da tecnologia, as horas em frente ao computador resultaram em três EPs no ano de 2014, revelando cuts sui generis misturado em Church of Soma (Spring Theory), Pressure/Quoi (Icee Hot) e Let Me Love & Steal (Spring Theory). Uma observação aqui a ser destacada, logo no seu segundo EP Pressure/Quoi, Avalon já contava com um remix assinado por ninguém menos que Tuffy City Kids, ou seja, a garota já chegou na indústria com um chute da porta!
Os primeiros lançamentos da artista, já revelavam a heterogeneidade de sua composição. O peso característico do Techno, cuts de House efusivo, o flerte com a rebeldia do pós-punk e uma pitada de Electro. Cada um dos trabalhos de Emerson era uma surpresa sonora. E para além do quebra-cabeças de referências, a artista ainda explorava o magnetismo de sua própria voz em suas composições, moldando um composto realmente original, e até mesmo diferente de tudo que compunha suas referências. Se percebermos desde Church of Soma (2014), até os clássicos EPs pela Whities, 06 e 013, conseguimos entender um ponto de conexão presente em suas células musicais: percussividade bruta + melodias celestiais e sublimes. Ou seja, contrastes de timbres e sensações são as poucas características que podemos prever, de Avalon Emerson. O resto é sempre uma boa surpresa.
Foi durante seus anos morando em Berlim, e sobretudo comandando as pistas do Panorama Bar (com sets que já chegaram a durar mais de 10 horas), que Avalon realmente se entendeu como DJ, absorvendo por lá os ares da diversidade, e a realidade mágica das raves onde “tudo é permitido”. Não demorou muito para que ela estivesse entre as DJs mais requisitadas do Dance Music, tocando para multidões lotadas nas pistas de dança mais conceituadas do mundo: em junho e julho de 2019, tocou no Primavera Festival, Robert Johnson, Panorama Bar, Nuits Sonores, Circoloco e Lux Frágil.
Com a pandemia e o freio da vida agitada de DJ, Avalon aproveitou para estar em maior contato com a natureza, ao lado de sua namorada Hunter. E naturalmente, a circunstância trouxe novos ares para as experimentações da artista. De volta aos Estados Unidos, as viagens pelo país resultaram na mágica Long-Forgotten Fairytale, uma mistura de Pop experimental com um emocionante background lúdico. Novamente, totalmente diferente do peso característico dos trabalhos anteriores de Emerson. Ali, a artista explorou a realidade de sua história, através de sua belíssima voz trazendo um gostinho de Indie dançante.
Avalon floresce de um bucolismo anacrônico, e busca na tecnologia, as ferramentas para um cenário totalmente distinto daquilo que é previsível. “Sempre tive dificuldade em me definir, especialmente no início da carreira. Agora, sinto que o problema de me definir não desapareceu; apenas a necessidade disso que foi embora… Eu sinto que posso me manter em vários locais e festas diferentes. Estou orgulhosa disso.” disse Emerson em um depoimento à DJ Mag. Aliás, no caso, para que definir-se com tamanha capacidade de se reinventar? No caso de Emerson, definir-se é limitar-se.
Para a alegria dos fãs, Avalon Emerson retorna ao Brasil neste sábado, prometendo um DJ set inesquecível no Gop Tun Festival. A artista, que já esteve no Brasil em 2018 na Red Bull Music, vai estrelar no palco Supernova dividindo a pista com nomes como Dr. Rubinstein, Paramida e Rhr. Ainda tem ingresso rolando!
A música conecta.