Já faz mais de uma década desde que Paulo Tessuto largou uma vida considerada “normal”, onde já foi jogador de basquete e vendedor da Chilli Beans (ele tem o perfil, vamos combinar) para se tornar um ícone da noite paulistana. Ícone este que hoje se fundiu entre a emblemática persona DJ e a marca, e festa, Carlos Capslock. Quero avisar desde o começo que nada aqui é imparcial, sou apaixonada pelo Tessuto e seu trabalho, e não tinha como ser diferente, a Capslock foi minha primeira experiência com a música eletrônica, e foi transformadora, como acredito que a de muitos.
Quem já teve a oportunidade de ouvir Tessuto tocar sabe que é indiscutível sua expressão por meio da música. Mas o que nem todo mundo sabe, é que por trás de toda a pinta, make e montação, tem um homem de um metro e muitos de altura de pura timidez; o completo contrário de seu personagem Carlos Capslock, irreverente e deformador de opiniões. Porém, depois de 11 anos rebuscando o vocabulário com seu jogo de palavras (clássico Capslock) e trazendo temas subversivos – e quase sempre políticos — para suas festas, está cada vez mais difícil separar criador e criatura.
Deixo a palavra com o próprio Tessuto, num trecho de sua entrevista para o Alataj em 2019, quando perguntado como a Capslock o ajudou a evoluir enquanto artista e ser humano: “A Carlos Capslock (festa e personagem) me ajudou muito como profissional e cidadão de bem [risos]. Me fez libertar de diversos medos e preconceitos de comportamento que eu tinha com relação a mim mesmo. Me fez ser menos materialista, mais humano, mais colaborativo, mais tolerante, mais compreensivo”.
+++ Relembre entrevista especial Carlos Capslock 8 anos
Por esse e outros motivos, quando fui convidada a escrever esse storytelling, meu primeiro pensamento foi sobre como seria difícil separar um do outro, pensando principalmente na festa. O Tessuto é a Capslock! Seu set de, geralmente, 4 horas, que encerra a festa, seta o tom da memória dos clubbers de mais uma noite inesquecível, seja na Fabriketa, Vila dos Galpões, Fábrica de Azeite ou na finada Trackers, onde aconteceram as primeiras edições.
A ‘craudi’ sai sempre satisfeita, e tem como não? Em que outro ambiente se encontra tanta diversidade, subversão e música boa? A pista da ‘Caps’ tem um ar diferente, uma coisa meio ‘liberdade do fim do mundo’, e que de alguma maneira é transparecida nas pistas comandadas por Paulo, Brasil — e mundo — afora. A atmosfera criada pela persona do nerd doidão é de completa liberdade e esquisitice, beirando o bizarro, mas é também uma das características mais importantes do público capslocker, que completa o clima dos eventos com maestria.
Carlos Capslock e toda sua acidez deixou há tempos de ser apenas um personagem ou festa, para quem acompanha, seja presencial ou virtualmente, é um estilo de vida. E como separar Paulo Tessuto — mente criativa por trás de todo esse delírio — de sua criação mais louca? Impossível. E é a genialidade de seu projeto concebido que o levou a tantos palcos, sem perder a identidade. Como se ele levasse um gostinho de Capslock para cada apresentação. Deixo como exemplo seu set na Time Warp São Paulo 2019, que eu, inclusive, estava presente e posso dizer que representou (e representa) muito bem o Brasil pra qualquer festival gringo.
Por fim, se existem linhas que separam Tessuto de Carlos Capslock, cultural e artisticamente, são extremamente tênues. Quando pensar em Capslock sempre lembrarei primeiro do talento e esforço para mudar completamente o cenário da música eletrônica underground paulistana com respeito, empatia e dedicação de Paulo, e depois do nerd designer de teclados. Como disse, nada aqui é imparcial, mas você não precisa acreditar em mim. Encontre Tessuto amanhã (02) na Covil que acontecerá no Club Vibe, ou sábado que vem (09) no digníssimo festival DGTL, e ouça você mesmo. Vamos lounge!
A música conecta.