Gingados diferentes escritos sobre ritmos que celebram os grooves de forma única. Essas são algumas das muitas qualidades da cultura musical da África do Sul, e o país com sua grande diversidade de histórias, hoje é berço de um dos principais movimentos musicais eletrônicos que invadiu não somente seu próprio continente, como também as cobiçadas pistas da Europa e a vastidão da América. O Afro House, que nasceu nos arredores de Johannesburgo, bradou ao mundo a personalidade genuína sul africana mostrando às pistas seu toque percussivo singular, com o brilho da ancestralidade e a energia da House Music.
Porém, atualmente, nem só o Afro House embala a África do Sul. A partir do estilo, diversos outros movimentos vieram se criando e fortalecendo, conquistando a juventude de forma especial, e desenvolvendo novas culturas musicais que vem fazendo sucesso mundial. Hoje o nosso editorial aborda um pouco mais sobre esses subgêneros que estão entre o que há de mais fresh atualmente na cultura musical do país.
Afro House
Apesar de ter rompido as raízes geográficas, ter invadido Ibiza e brilhado sobre os holofotes do cenário europeu, cruzado o Atlântico e tomando conta dos corações do público brasileiro, o Afro House tem sua raiz na África do Sul, e o sucesso do estilo por lá vem celebrando sua vivacidade há quase duas décadas. Desde a ascensão meteórica de Black Coffee, nos quatro cantos do mundo, o Afro House reverberou sua atmosfera percussiva como um símbolo musical eletrônico genuíno do continente africando, trazendo um groove particular que leva o frescor do House em sua essência.
Agora, para além de Black Coffee, o continente tem visto nascer e florescer outras estrelas potenciais do estilo, e que vem ganhando a atenção do mercado mundial, revelando os direcionamentos atuais que o Afro House vem se inclinando nos últimos dois anos. Um dos nomes de destaque aqui, e que tem sido uma das grandes apostas do gênero é o DJ e produtor Sun-EL Musician – qual já tivemos o prazer de entrevistá-lo aqui no Alataj. O artista nativo de Rio Mooi, na África do Sul, tem como um de seus mestres o próprio Black Coffee, e vem com uma missão especial: conectar o ritmo do Afro House ao fenômeno mundial da EDM.
Amapiano
Se o Afro House até então, era o soberano dos estilos eletrônicos da África do Sul, os últimos anos mostraram que o gênero foi propulsor de subvertentes, que hoje revelam uma ascensão meteórica no cenário musical de todo continente. Nascido da mistura entre o Afro e as linhas do Deep House, o Amapiano – o piano para o quadril – tem espaço garantido nos primeiros lugares do top 100 da Apple Music, e está entre os estilos musicais mais tocados na África do Sul.
O gênero que vem varrendo as redes do Tiktok, certamente é o que há de mais quente na África do Sul neste momento. O próprio gerente de operações musicais do TikTok, Yuvir Pillay, diz que o Amapiano é o maior gênero musical do país na plataforma. Presente no soundsystem dos carros da juventude, e transbordando nos clubes, o Amapiano é mais do que um gênero de música – está influenciando o estilo e a dança causando impacto na indústria musical da África do Sul.
Como estética, o Amapiano apresenta as mesmas batidas do House,com toques mais profundos do Deep, lembrando as atmosferas do Kwaito, porém em ritmo mais lento. Além disso, o Amapiano também incorpora a cadência do Jazz, com presença marcante de linhas de baixo percussivas.
Um dos destaques do estilo é a pioneira DBN Gogo. Em 2021 a artista emplacou o hit Khuza Gogo, que alcançou o status de platina com mais de 2,5 milhões de streams, de acordo com a distribuidora Electromode Ingrooves – consolidando sua reputação de DBN Gogo como pioneira para as mulheres no gênero. Outro nome que vem brilhando sob os holofotes do Amapiano, é o projeto do DJ Maphorisa e Kabza De Small, mais conhecido como Scorpion Kings. Após o sucesso apoteótico do álbum Rumble In The Jungle – que venceu o prêmio de melhor álbum do ano de 2021 pela South African Music Awards -, o duo sustenta um lugar no reinado dos maiores representantes atuais do estilo.
GQOM
Ainda sob o guarda chuva da House Music, outro gênero proveniente da cidade de Durban, vem causando um furor na comunidade eletrônica sul africana. Há uma linha tênue que separa tanto o Afro House, como o Amapiano, do GQOM. Significando “tambor” em zulu, o Gqom é a música dançante em seu estado mais puro, apresentando faixas repletas da energia das cidades e clubes de Durban. Assim como o Amapiano, o GQOM descende do Kwaito sul-africanos, e começou a se espalhar através de grupos de WhatsApp no início de 2010.
O gênero foi se alastrando rapidamente para além da própria comunidade underground, figurando-se como trilha sonora da NBA, do filme Rei Leão e marcando presença nos palcos de festivais no pré pandemia. Suas batidas quebradas que vibram através de atmosferas robóticas, inquietantes e irresistíveis, soam como uma aceno ao Grime e ao Funk britânico, porém com uma originalidade intrínseca e muito forte. Há quem diga ainda que o GQOM foi quem abriu espaço para o Amapiano se firmar no mercado musical.
Foi através de nomes como Griffit Vigo, Distruction Boyz, Sho Madjozi e DJ Lag que o estilo deu uma grande guinada nos últimos cinco anos. Tendo estado na vanguarda da ascensão do gênero, com turnês ininterruptas e colaborações de alto nível, os precursores do gênero abriram espaço para o destaque de nomes como DJ Tira, Okmalumkoolkat, Dladla Mshunqisi que hoje estão entre os artistas mais quentes do estilo.
A música conecta.