Triângulos, chocalhos, tambores e toda a diversidade instrumental das típicas festas religiosas mineiras, além de outras referências da rica sonoridade brasileira, estão presentes no DNA musical de Gerra G. Natural da cidade de Abaeté, no interior de Minas Gerais, o artista deposita toda sua multiplicidade cultural e vem despontando como um dos destaques em território nacional, conhecido por suas excelentes produções de downtempo, mas flertando com outros estilos similares também. Já são 14 anos na discotecagem e 11 na produção, dezenas de lançamentos autorais, além da criação de um selo responsável por espalhar a palavra das vertentes do Organic House brasileiro pelo país e também fora dele.
O Núcleo Gatopardo nasceu em 2016 com o intuito inicial de movimentar festas de Downtempo em Curitiba, atual lar do artista mineiro. Os eventos começaram a acontecer em 2017 para promover artistas independentes dentro do cenário underground da região, tiveram uma pequena pausa, mas a expectativa é que aconteçam novamente a partir de setembro. A iniciativa também se ramificou e evoluiu para selo, hoje contando com mais de 50 lançamentos em seu catálogo — os lançamentos de Gerra G, inclusive, ajudaram a catapultar o nome da Gatopardo através de alguns de seus releases mais aclamados, a exemplo de Floresta do Abaeté, Uma Vida, Neuziana, Tapete Voador, Barulho Bom, entre outros.
Em seus sets, 90% das composições são autorais e mesclam as raízes da música brasileira com um momento mais contemporâneo da música eletrônica. Suas referências vão de Nicolas Jaar, Bonobo e Shpongle a Gorillaz, Be Svendsen e Gilberto Gil. Agora, Gerra G afina os últimos detalhes para o lançamento do seu primeiro álbum, com previsão de singles antes da estreia oficial. Para saber mais sobre o momento atual de sua carreira e esses novos releases é que batemos um papo com ele. Confira a entrevista!
Olá, Gerra! Tudo bem? Prazer em conversar com você. Como é nossa primeira conversa por aqui, vamos começar do início. Seus primeiros passos na música foram pelo Electro House, certo? Como aconteceu essa mudança de estilo para o Downtempo?
Gerra G: Oii! O prazer é meu, fico muito feliz pela oportunidade de compartilhar com vocês um pouco da minha jornada. Eu comecei produzindo Electro-House há muitos anos atrás, você pode encontrar toda essa discografia no Beatport buscando Gerra G. (com ponto final). Depois de alguns anos produzindo electro house percebi que não conseguiria expandir o meu trabalho como eu gostaria.
Dei uma pausa de 2 anos na produção, durante esse período foquei em artes visuais e CGI até que me mudei para Curitiba para trabalhar como artista visual e aos poucos voltei a fazer música. Um belo dia, de bobeira pela internet me deparo com uma música de um artista de SP que me chamou muito a atenção, aquele gênero era chamado de Downtempo. Melodias, vocais, percussão, toque eletrônico suave e sensível. Eu ainda não tinha visto essa “fórmula” e fui fisgado imediatamente para esse universo.
Suas produções, na grande maioria, contém vocais em português que conduzem a música por um enredo super interessante. As composições são feitas por você também? Como rola esse processo de produção?
As composições são feitas por mim. Geralmente quando trabalho com vocalistas, eu forneço uma base e o vocalista cria em cima disso. Já aconteceu de eu co-criar do zero letra e melodia, caso do EP Beija Flor em parceria com Kássio Guaraná. Além disso, já me arrisquei a escrever e cantar para minhas próprias músicas, que é o caso de Ser como Sou e Desvio Fatal. Já teve caso que eu fiz a base, escrevi a letra e enviei para a vocalista gravar.
Agora, antes de começarmos a falar sobre lançamentos, queremos saber um pouco mais sobre o Núcleo Gatopardo. Como surgiu essa iniciativa e qual a relevância que você sente que ela tem hoje para a cena do Downtempo & Organic House na região?
A Gatopardo surgiu em 2016 em formato de coletivo com o objetivo de organizar eventos musicais voltados para o universo do Downtempo e Organic house. Em 2017 estreamos como selo digital lançando nosso primeiro V.A, Miragem, composto basicamente de remixes, edits e músicas sinérgicas ao movimento. Acredito que a Gatopardo se faz relevante na música eletrônica por participar e fomentar um movimento alternativo no país com um catálogo que valoriza a diversidade e cultura regional.
O selo já conta com mais de 50 lançamentos, certo? Como e por quem é feita essa curadoria de artistas?
A curadoria é feita por mim, porém dentro do nosso grupo de artistas surgem muitas sugestões e ideias que somam bastante nesse momento. No site da Gatopardo existe uma página de demos onde você pode enviar uma música que gostaria de lançar no selo e ela será ouvida por mim. Além do lançamento em plataformas de streaming, somos parceiros do marketplace de NFTs da Pianity, uma loja francesa de vendas e trocas de tokens musicais.
Bom, mudando um pouco de assunto, queremos saber sobre as suas novidades. Tem álbum prestes a sair do forno, não é? Conta mais um pouco sobre esse lançamento.
Sim!! Temos um álbum saindo do forno. Esse é o primeiro álbum da minha carreira musical que veio em um momento de busca por novas sonoridades e novas cores na minha música. Meu primeiro álbum se chama “Todos os Lados” e carrega a mensagem da pluralidade, do encontro do tradicional com o moderno. O que posso dizer agora é que são 9 faixas que eu amo muito.
Sobre os singles antes da estreia, pode nos adiantar o que podemos esperar? Já tem data para o lançamento?
Teremos 2 singles pré álbum com duas parceiras super talentosas, Thais Badu e Luana Godin. O primeiro single será lançado dia 22 de Julho pela Gatopardo.
Por fim, nossa clássica pergunta de encerramento: o que a música representa pra você?
A música representa pra mim algo que tem o poder de estabelecer pontes entre o mundo exterior e o mundo interior de uma pessoa.
A música conecta.