Influenciado pela mistura do Post Rock, Trip Hop e vertentes eletrônicas, o quarteto paulista Meneio compõe narrativas sinestésicas e sensoriais ao vivo, desde sua criação em 2013. Formado por Adeniran Balthazar (baixo/eletrônicos), Eduardo Rodrigues (sintetizador/sample), Jovem Palerosi (guitarra/eletrônicos) e Zé Guilherme Aquiles (bateria/eletrônicos), o Meneio já lançou dois álbuns até aqui, Meneio (2015) e Movediço (2019), além de já ter marcado presença em importantes palcos pelo Brasil como o Instrumental Sesc Brasil, Virada Cultural, Sala Itaú Cultural, FIMS – Feira Internacional da Música do Sul, Centro Cultural São Paulo, Festival PIB e Red Bull Station.
Agora o quarteto apresenta um novo EP, Excerto, trabalho que foi construído durante a pandemia através de três faixas inéditas, frutos de colaborações com Alzira E, Sandra-X, Nathalia Leal e A1219, integrante do grupo. Uma das músicas também possui a fala sampleada de Sueli Carneiro. As letras de cada canção criam uma sequência narrativa que se relaciona ao que vivemos coletivamente nos últimos tempos: mergulhos internos, enfrentamentos e ressignificações. Confira os detalhes do processo criativo de cada uma das canções que integram o EP Excerto, mais novo trabalho do Meneio.
Pálpebras | Esta composição surgiu no início da pandemia, foi nossa primeira composição à distância e é muito marcada por esse momento de reflexão interna, pelas entranhas dos sentimentos. A base foi construída com instrumentos eletrônicos e foi ganhando uma aura misteriosa, como se estivéssemos em um túnel e ainda não soubéssemos o que haveria do outro lado. Surgiu então a ideia de convidar Alzira E, uma de nossas cantoras e compositoras favoritas, dona de uma história e discografia fantástica. A letra e sua voz áspera combinaram perfeitamente com a atmosfera da música, como se tivessem nascido juntas. Fomos tocados profundamente por sua energia e generosidade para criar juntos. Sentimos que a música transmite toda essa potência.
Hábito | A faixa constrói uma sonoridade dinâmica que remete a nuances de uma paisagem urbana composta por tensões de alegrias, opressões, aspirações e batalhas cotidianas. Aliada à batida, essa sutil complexidade já carregava uma narrativa em que estes elementos se sobrepunham como em um filme ou um sonho surrealista, o que se torna mais nítido conforme as palavras proferidas por A1219 se entrelaçam às vozes instrumentais. Como numa caminhada pelo centro de uma cidade populosa, o cenário invade um pensamento que divaga sobre lugares visitados e caminhos a serem percorridos.
Infinitude | A música que encerra o álbum pode ser considerada o marco inicial deste projeto, já que participam dela Sandra-X e Nathalia Leal, artistas com que tivemos uma intensa vivência em Paraty na semana anterior ao início da pandemia. Foi com elas que fizemos nosso último show antes de entrarmos em isolamento social. As duas artistas ainda não se conheciam, mas criaram uma ligação intensa tendo a palavra como centro de percepção e foi natural convidá-las para seguir colaborando conosco. Essa composição tem uma simbologia de elo, uma união esperançosa e crítica da realidade que nos cerca, um sopro de esperança e luta através da reconexão com nosso interior, com nossos ancestrais, na busca por uma profundidade infinita simbolizada pelo mar. É uma ode que nos convoca a pensar e enfrentar o presente para colher futuros coletivos que ultrapassem limites materiais e espirituais.
A música conecta.