Não é à toa que o carisma e o talento inspirador do trio Crazy P conquistou de forma arrebatadora os corações dos brasileiros. Os britânicos Jim Baron, Chris Todd e Danielle Moore dão vida ao projeto que é considerado um dos maiores Live Acts de Dance Music do planeta, e permanece estendendo seu legado de mais de duas décadas de história no cenário eletrônico mundial.
Com oito álbuns de estúdio na bagagem, além do ao vivo e dos compilados de remixes, o Crazy P. emplacou na memória dos amantes da Dance Music, alguns clássicos inesquecíveis como o hit Like a Fool (2015), Never Gonna Reach Me (2008) e Heartbreaker (2011), marcando o resgate da Disco Music no cenário eletrônico contemporâneo. O trio já realizou turnês pelos quatro cantos do mundo, e aqui no Brasil, deixaram uma sementinha que floresce no coração dos fãs, desde que vieram pela primeira vez no Warung Beach Club.
Agora, após o lançamento do último álbum Age of The Ego (2019), eles apresentam a versão remixada do disco que conta com assinaturas de nomes como Gerd Janson – que encabeça o single de estréia do compilado -, Medlar, Dale Sosimi, DJ Nature, Hot Toddy, Ron Basejam e muito mais. Confira o bate papo que tivemos com eles sobre o novo lançamento, além das memórias do trio até aqui, sobretudo, seu apreço pelo Brasil.
Alataj: Olá pessoal, tudo bem? Estamos muito felizes em entrevistá-los. Vocês possuem um papel fundamental na reintegração da Disco na Dance Music contemporânea, e é interessante como vocês permanecem firmes, fortes e sempre inovadores, ao longo de quase três décadas de história. Tem algum segredo para permanecer com essa inovação sempre refrescante, em tempos onde é tudo muito mais efêmero, do que quando vocês começaram?
Crazy P: Primeiramente obrigado! Esse é um grande elogio.
Acho que quando Jim e Chris se juntaram foi por causa de um semelhante amor pelas músicas naquela época. Os meados dos anos 90 foram robustos com a House Music e nós crescemos em uma era Pop com influência pesada da Disco, então o casamento dos sons estava ali. Se houver algum segredo, acho que é esse terreno comum que parecemos ter e, à medida que continuamos a ouvir mais gêneros de música, sejam novos ou antigos, nosso som continua a evoluir. Eu também acho que com os três de nós djing, isso nos mantém cientes de novas músicas para que não pareçamos ficar presos em uma rotina. Ouvimos de tudo, do Folk ao Balearic, do Rock ao Soul da Costa Oeste e à Disco japonesa, então acho que isso se reflete em nossas composições.
O Crazy P. é um projeto que ganhou os corações dos brasileiros, sobretudo após as primeiras apresentações de vocês no Warung Beach Club. Qual é a visão de vocês sobre as pistas brasileiras, e a receptividade do nosso público com o som de vocês?
Bem, gostamos de pensar que somos compatíveis com a vibe brasileira. Há uma certa energia e felicidade sempre que tocamos por aí. Vimos uma festa que durou 48 horas na rua em frente ao nosso hotel e todo mundo estava dançando, rindo e curtindo a vida.
Nunca gosto de generalizar, mas os brasileiros são os melhores dançarinos! É bom pensar que nossa música alimenta esse fogo.
A banda possui uma dinâmica ao vivo que surpreende, sobretudo, em tempos em que é muito mais comum vermos apenas o DJ no comando das pistas, ao invés de um Live performance em trio. Ao mesmo tempo, essa dinâmica é algo que custa muito mais desafios do que uma performance de DJ set. Como vocês analisam essas diferenças, e como é o ritual de preparação de vocês para entrar em palco?
Djing é basicamente tocar música de outras pessoas e, claro, com isso vem com um conjunto muito diferente de desafios. Não se trata apenas de criar um set com BPMs semelhantes, trata-se de montar um DJ set que vai e vem, e que gera uma dinâmica na escolha da música.
É manter o interesse e pensar na hora do dia que você está tocando, seja um club escuro ou um festival diurno, com programação de acordo. Com a banda ao vivo, são apenas nossas músicas e, portanto, é um investimento pessoal em traduzir essas músicas em uma performance e encontrar maneiras de entregar a emoção de cada uma. Para nós é como entrar no personagem antes de subir ao palco, mas também transmitir as letras e criar essa conexão entre o público e a banda.
É pensar em roupas de palco, presença de palco e trabalho em equipe: essa é a beleza de estar em uma banda. Nós somos um time. Há algo tão pessoal em tocar sua própria música. É uma experiência lindamente vulnerável.
A criatividade inusitada do Crazy P, é algo que não vem só do palco. As produções de vocês trazem uma autenticidade peculiar, que faz com que o ouvinte já identifique nos primeiros minutos de uma faixa: “essa música é do Crazy P.” Quais são as características musicais, na opinião de vocês, são realmente a cara do projeto?
Essa é uma pergunta interessante porque eu entendo o que você está dizendo. Ouvi pessoas dizerem que há um som muito definido do Crazy P, particularmente com as produções. Acho que é uma musicalidade calorosa que certamente é o que eu ouço nas produções de Ron Basejam e Hot Toddys também. É muito emotivo.
Com nossas influências vindas do Disco e Soul dos anos 70, Pop dos anos 80, House dos anos 90 e Soul da Costa Oeste, para citar alguns… misture todas essas influências e talvez seja isso o que contribui para o nosso som. É difícil colocar em um gênero específico.
Quanto à dinâmica de estúdio, como é a rotina de produção de vocês? Vocês três sentam no estúdio juntos para compor? Ou é um processo dividido por partes?
É uma combinação de ambos. O tempo é precioso para nós enquanto indivíduos, e durante o período de verão que é corrido, nós tendemos a começar um processo de composição juntos, talvez até reunindo a banda de cinco pessoas ao vivo para uma sessão de composição de semanas.
Montamos nossos instrumentos e tocamos juntos — gerando novas ideias juntos, e depois, tirando essas ideias como indivíduos e trabalhando-as a partir daí. Isso é um processo. Às vezes pode ser um de nós trazendo uma ideia básica para a mesa e vendo se tem algum valor.
Não há um ponto de partida restrito, mas estamos escrevendo um novo álbum no momento e estamos lutando, então pretendemos dedicar o Outono/Inverno para finalizar algumas das ideias mais fortes. É maravilhoso quando as coisas começam a tomar forma. Pode ser um processo difícil, mas quando você atinge um fluxo, é muito satisfatório.
Falando em produções, o álbum de 2019 Age Of the Ego, recebe agora uma versão remixada por onze grandes artistas, incluindo Medlar, Dale Sosimi, Gerd Janson e DJ Nature. Como foi esse processo de seleção dos remixers?
Fizemos uma lista de pessoas que achamos que poderiam fazer um bom trabalho nas mixagens e partimos daí. Havia alguns nomes (como Moodymann e Move D) que não estavam disponíveis, mas sentimos que chegamos a uma escolha equilibrada e abrangente.
Soulphiction (Michael Baumann) estava no topo de todas as nossas listas e nos sentimos honrados em receber seu trabalho final antes de sua trágica morte no ano passado. Somos grandes fãs de sua música, então nos sentimos muito sortudos. Em seguida, nos concentramos em sons que podem fornecer um pacote equilibrado — como de DJ Nature e Gerd Janson.
See Thru Hands é uma banda brilhante de Manchester e Something Santified (que é metade do Bent) é um amigo nosso. Também incluímos remixes com Ron Basejam e Hot Toddy, que contribuíram com dois ótimos remixes de Love Is With You e Is This All It Seems. Estamos muito satisfeitos com o resultado.
A faixa We Will F**k You Up, vem assinada por Gerd Janson, trazendo uma leitura bem diferente da original, mas ainda sim mantendo sua identidade. O que vocês acharam do remix?
Ah, é ótimo! É recheado de uma vibe que não conseguimos alcançar. É difícil e esperamos atrair um público mais amplo que busca sons mais pesados. Gerd é um produtor fantástico, um excelente DJ e nos sentimos incrivelmente sortudos por ele concordar em fazer isso. Muito satisfeito é um eufemismo.
Quanto aos próximos lançamentos originais da banda, podemos esperar novidades para este ano?
Bem, temos um novo projeto saindo com a 2020 Vision Recordings, que apresentará alguns de nossos próprios materiais, bem como outros produtores favoritos (mais sobre isso em breve) e estamos escrevendo um novo álbum. Não há tempo definido, mas está lá… e está borbulhando!
Estamos tocando bastante por agora. A agenda está cheia na temporada de festivais do Reino Unido e da Europa, então estamos fazendo malabarismos entre viajar e ficar longe de casa. Temos um tour pela América do Norte (se nossos vistos forem aprovados) e estamos cheios de vibrações e gratidão por tudo isso.
Agora uma clássica do Alataj: o que a música representa para vocês?
A música é um meio belamente orgânico e conectivo. Ela reúne pessoas com a mesma mentalidade, onde nada mais importa, apenas aquele momento. Pode evocar memórias de anos passados e emoções para o aqui e agora. Há uma música que se adapta a cada ambiente e a cada emoção. Não há nada comparável.
A música conecta.