Blocos de tijolos se fixam uns aos outros para fundar a base de uma construção. A partir daí, tudo se torna mais firme, mais robusto, e o alicerce está pronto para enfrentar as possíveis intempéries que possam vir. Ao mesmo tempo em que constrói um assentamento consistente e virtuoso, na ponte entre o caos urbano de Nova York e o caos sócio-econômico do Brasil, a Tijolo Records também está ali para desconstruir. Desconstruir o padrão convencional, para reconstruir ideias a partir de um conceito que incorpora uma identidade sonora autêntica, lifestyle e experiências de cada colaborador.
Na arte, um fantasma abre um buraco na parede, segura firme um tijolo na mão enquanto aponta para algo. No semblante, um sorriso sarcástico, pronto para desafiar os conceitos pré concebidos da normalidade. O mascote, através de uma análise semiótica, simboliza a essência dos valores e das missões da Tijolo Records.

“Quando vi a arte , primeiro me identifiquei com a questão de ser um fantasma com um sorriso sarcástico: ‘pode rir, ri mais não desacredita não’. em segundo, trazia em sua simbologia a condição do imigrante e sua invisibilidade, e ser invisível era um sentimento constante para mim, em 2019. Com um lado bom de crescimento e cura espiritual e o ruim de lidar com o ego, a saudade e as incertezas. Eu já tinha o nome Tijolo na cabeça para possíveis projetos, justamente pela sua natureza de já carregar essa questão da ‘desconstrução’ e ‘construção’. Aqui se usa um termo idêntico ao português: ‘Brick by Brick’ ou ‘tijolo por tijolo’”, explica Akilez, mais conhecido como sixx4sixx, e co-fundador do label.
Fundado por sixx4sixx e Thiago Takeshi, o selo tem sua base no Brooklyn, mas a conexão é fortemente estabelecida com DJs e produtores da cena brasileira. Porém, a sementinha do projeto foi plantada antes mesmo da consolidação como selo multidisciplinar, com a primeira página de sua história profundamente ligada à vida e superação pessoal de Akilez, e sua mudança para a cidade de Nova York.
“Não tem como falar da minha vinda a NYC sem expor a questão pessoal. Meu processo de estabelecimento aqui foi um grande acidente do destino. Depois de estar a frente do Projetonave a mais de 20 anos (banda que fundei em 1997), onde participei do programa “Manos e Minas” da TV cultura por 6 anos, fazendo arranjos para mais de 300 artistas diferentes e podendo ser a primeira banda de apoio para a grande maioria dos Mc´s brasileiros, eu entrei numa crise profunda com a perda dos meus pais, um processo de 3 anos cuidando deles (cancer) em hospital público, isso acontecendo simultaneamente onde grandes realizações musicais se consolidavam para mim.
Depois desse furacão e dessa contraditória avalanche de sentimentos, eu decidi parar com tudo que estava fazendo. A idéia de ir para NYC foi depois de 1 ano, quando cheguei a dever quase 8 meses de escola do meu filho, ou seja, não foi um retiro “sabático”, e sim, um ponto de partida desesperador para mudar o curso da minha vida como Pai e a experiência vivida com meus Pais. Partindo disso, eu havia decidido nunca mais deixar alguém da minha família passar por certas situações por falta de dinheiro, algo que nunca coloquei como prioridade, mas me custou uma vulnerabilidade em certas situações .
Foi então que após um período de desafios, Akilez viu despontar o mesmo sentimento reincidente, que o fez comprar seus primeiros discos de vinil lá no início da década de 90: “a princípio não sentia mais vontade de me apresentar como artista, nesse aspecto encaro bem a persona do logo, um fantasma por trás de cada passo, construindo Tijolo por Tijolo, quase invisível. Essa era a ideia. O primeiro post foi em 8 de outubro de 2019. ‘Eis que chega o Tijolinho, nosso selecta sarcástico da Tijolo Records’. Label com foco na produção, prensagem e distribuição de vinil. Tracks sujas feitas por mal ditos (as), mal criados (as) e mal educados (as)”.
Começava então uma história de soma de forças, construindo um sólido alicerce baseado em um time de artistas que compartilham dos mesmos valores da concepção essencial da Tijolo. Na estética, o resgate do imagético e sensorial dos anos 90. VHS, fita cassete, ruído, analógicos e uma base crua, que não necessariamente deve ser rotulada. Algo que flutua entre o Electro, o House, o Footwork, o Garage e o Techno, mas fixa os pés na cultura e no movimento Hip Hop. O ponto chave dessa identidade, encontra um vértice comum: introduzir a linguagem periférica nos trabalhos desenvolvidos.
“Para mim é louco porque venho de uma cultura da zona leste, anos 90 (Toco, Over Night, Leste 1), onde o House, Techno, Jungle, Rap tocavam juntos e o público era especificamente de pessoas periféricas, o famoso baile. Sempre que amigos meus de quebrada me perguntam sobre os sons da Tijolo com dúvidas, eu sempre respondo: ‘Esse tipo de som tem mais haver com nós do que você imagina.
Portanto, sintetizo a identidade da Tijolo em uma única palavra: Hip Hop. Nessa cultura encontram-se todos os elementos essenciais para a base de algo sólido, comunidade, pois ninguém faz nada sozinho, estrutura horizontal, onde o talento de cada um é complementar, porque ninguém é perfeito. Pensar sempre mais no “nós”, porque o EGO destrói e ninguém é melhor que outro. Acredito que temos grandes pessoas na Tijolo Records hoje, e que têm seus trabalhos individuais fortes e sólidos, mas quando juntos produzem uma energia mais potente do que se estivessem sozinhos ou em núcleos que não entendem essa realidade de rua.”
Os nomes que consolidam a família Tijolo são CESRV, RHR, ERAM, NAICHE, YOUNG CLUBBER, SUELEN MESMO, OMOLOKO,e o próprio SIXX4SIXX, os quais apresentam produções e seleções que constituem um vínculo forte com os valores da Tijolo, construindo assim, uma identidade conjunta.
Os próximos releases também já estão engatilhados na agenda futura do selo:
“Temos o novo trabalho da ERAM já pronto, além do segundo do CESRV e NAICHE, estou trabalhando no meu SIXX4SIXX, RHR também deve preparar algo em breve! E estou recebendo músicas de dois produtores aqui do Brooklyn, cedo para adiantar , mas se tudo caminhar bem, vem pedra grande por aí!!! E acredito que é só o começo, devagar a história vai sendo construída e ainda tem muito por fazer!”
E ainda, estão por vir dois outros novos episódios fantásticos do Boiler Room, comandados pelos residentes RHR e CESRV, além dos já lançados sets de Young Clubber e Kenya20Hz.
A Tijolo Records também possui um programa periódico na Veneno.Live, com uma curadoria que já recebeu nomes como Reizko, D3lcu, Ak1n, Blackat, Albin & Omoloko, Kinkid & Zopelar, Dj Esteves, Badsista, Dubversão Soundsystem e muitos outros artistas do cenário nacional, ao longo dos 23 episódios.
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A música conecta.