Óculos escuros, bigode e muitas vezes, uma camisa estampada que nos remete imediatamente a uma espécie de Giorgio Moroder contemporâneo. Bom, o look e a sonoridade não escondem as influências ítalo-futuristas de Pablo Bozzi. Porém, não é só de Ítalo que se molda a assinatura complexa e bastante interessante do artista baseado em Berlim.
Enquanto que para muitos, ecletismo e identidade são coisas opostas, para Bozzi esses dois atributos caminham lado a lado, já que a música por completo é algo que esteve presente em sua vida desde quando tinha 6 anos de idade. Após se formar em Sound Design em Montpellier e se mudar para Berlim, o artista mergulhou na diversidade que a cidade tinha para oferecer, e isso acabou inspirando a polivalência de sua assinatura musical.
Foi ao lado de Templer que ele começou o projeto Imperial Black Unit, responsável por ingressá-lo em gravadoras respeitadas do cenário europeu além da conquista de um Boiler Room no Khidi Club, em Tbilisi. Porém a paixão pelas estéticas oitentistas, do New Wave, EBM ao próprio Ítalo Disco, fez com que o ar mais industrial de sua identidade até então, combinasse com as melodias nostálgicas, dançantes e vanguardistas de seu projeto Soft Clash, ao lado de Phase Fatale.
O clima mais denso acentuado sobre as peças de bateria, a atmosfera retrô que vibra através das texturas mais “filthy”, equilibra em forma de contraste com as melodias que desenham a acidez high energy ou até mesmo mais contemplativas do som de Pablo Bozzi. É o tipo de sonoridade que pode se enquadrar perfeitamente em uma noite de Techno, ou em meio à sets de House, já que tem a capacidade de quebrar a linearidade estética sem perder o groove ou a energia contagiante das pistas.
Junto ao Soft Crash, Bozzi ressignificou o significado de EBM de uma forma pessoal: Italo Body Music – IBM, ou seja, a obscuridade do EBM misturada ao hi-energy do Italo Disco. Em seu formato solo, Bozzi vem maturando a estética mista do retro-dance desde seu EP Walk on Fire, pela Bite. Ali, já era nítido as influências mais densas do New Beat belga, estética que vem de suas referências nos trabalhos de Front 242 e The Crystal Method.
Para seu último lançamento, também pela Bite, com o EP Magnetisma, Bozzi imprimiu ainda mais a estética New Beat de uma forma contextualizada com as pistas de hoje. Os beats agressivos – que caminham junto com o peso do Techno – trazem a robustez oitentista em sua própria essência, sem tentar se adaptar para as sonoridades mais “límpidas das tendências do Indie Dance atual, faz do trabalho de Pablo Bozzi algo ainda mais interessante.
Ainda, ao lado de Kendal, Pablo encabeça os trabalhos da Infravision, projeto que é uma evolução de Pablo e Kendal desde que compartilhavam juntos os trabalhos no coletivo Toulouse Gouffre Club. Centrado em elementos quase cinematográficos dos anos 80 e 90, o Infravision explora a mescla do audiovisual levando o ouvinte à uma verdadeira viagem no tempo. Pela Dishi Autunno, a dupla apresentou em setembro o single The Beat in My Heart, que sucedeu o debut álbum Illegal Future.
Pablo Bozzi é o tipo de artista que trabalha cuidadosamente cada elemento formador de sua estética, fiel às raízes e verdadeiramente comprometido em romper o senso comum, através da sua fidelidade com as sonoridades de vanguarda.
A música conecta.