Jamie Smith, ou melhor, Jamie XX, é um artista que possui um olhar para o futuro de forma diferenciada conduzindo uma trajetória conhecida pela “quebra de padrões”. Esses atributos intrínsecos do artista foram cruciais para que o artista fosse uma das peça chave na moldagem das estéticas musicais do final dos anos 2000, em especial, pelo mundialmente aclamado The XX – projeto de Jamie, Romie Madley e Oliver Sim. Construir narrativas profundas que rompem as barreiras da temporalidade, trazendo uma percepção multi sensorial e inovadora ao ouvinte, sempre foram aspectos marcantes da genialidade criativa de Jamie, tanto por meio do próprio The XX ou mesmo, através de seu projeto solo.
Colecionando dezenas de lançamentos que incluem sucessos como Loud Places, I Know There’s Gonna Be – ambas do álbum In Colour de 2015 – Jamie foi provando ao mundo, que sua capacidade de surpreender era inesgotável. Surpreender flutuando por estéticas, moods, camadas melódicas, texturas e todas os caminhos possíveis que possam retratar as paisagens sonoras de sua fonte criativa. Como artista solo, Jamie XX declarou sua reverência pelo poder da Dance Music de mover corpos e corações, em especial por meio de singles como Under One Roof Raving de 2014, evocando uma mistura artística cinética e atmosférica.
No entanto, para muito além da produção, Jamie é um pesquisador musical de mão cheia, fazendo jus ao que podemos chamar de “real digger”. Em boa parte de suas apresentações em formato DJ sets, Jamie abre sua caixa de pandora e surpreende positivamente os fãs que esperam por um set recheado de hits, ao amarrar pérolas musicais desconhecidas que são cultivadas por ele como vinhos amadurecidos, que se tornam melhor apreciados com o passar do tempo.
House, Dub, Drum n’ Bass, Future Garage e uma fusão das estéticas que fazem partes das raízes do Dance britânico, são algumas das linhas sonoras que direcionam as escolhas de Jamie XX. Colecionador de discos de vinil, o perfil de reverência ao underground se faz presente quando o artista pretende construir narrativas que confrontam a obviedade das expectativas. A dimensão da bagagem musical de Jamie é de tamanha proporção e profundidade, que essa capacidade de interconexão com diferentes estilos é algo perfeitamente natural para seu tom narrativo.
Em uma Essential Mix gravada para a BBC Radio 1, há dois anos, Jamie comprova sem nenhum esforço, sua potência digger ao abranger os extremos musicais improváveis em um set de duas horas de duração. De Peter Gabriel a Tom Zé, de Pangaea a Fela Kuti, de Pearson Sound a Kamasi Washington e claro, seus hits autorais como Kill Dem e Breathe. Tudo isso sem perder conexão, enriquecendo um storytelling de moods e sensações como um cineasta que constrói cuidadosamente o roteiro de uma boa longa metragem.
E o que esperar das apresentações de Jamie XX no Brasil? Além do Lollapalooza que o artista se apresentará no sábado dia 25 de março, Jamie também estará na dupla edição da Gop Tun que acontecerá nesta quinta (23) no Rio de Janeiro, e na sexta (24) em São Paulo. Bom, podemos esperar a famosa caixinha de surpresas de Jamie, porém é possível que no Lollapalooza o artista aposte em um set com suas originais mais esperadas pelo público – tendo em vista um timetable de duração mais enxuta -, enquanto que na Gop Tun, a liberdade é maior para o artista explorar seu lado digger mais apurado. A verdade é que uma coisa é certa: Jamie XX sempre está pronto para surpreender e superar expectativas.
A música conecta.