“A ocasião transforma as oportunidades”, já dizia Orison Swett Marden — um autor americano do século passado que escreveu sobre a busca pelo sucesso na vida e fundou a revista SUCCESS, em 1897. Longe de interpretar o sucesso como uma linha reta ou dentro de uma fórmula vendida por “coaches”, mas com certeza um olhar afiado para identificar as oportunidades que podem surgir pelo caminho, é certamente uma característica inerente ao sucesso e talvez esse seja justamente o eixo central do editorial desta semana.
A indústria fonográfica, de forma geral, tem uma característica pontual e muito positiva, já que atrações musicais são facilmente “encaixadas” nos mais diversos ambientes e contextos. De uma simples ida ao bar a eventos enormes (em que a música nem sempre é o foco, como feiras e exposições): a música pode estar presente e, na maioria das vezes, é uma demanda do público. Diante dessa dinâmica, diversas oportunidades brotam — inclusive quando afunilamos o papo especificamente sobre a música eletrônica e a circunstância de pista.
Nos dias atuais, por exemplo, o contexto de curadoria musical e pista vai muito além do club e aparentemente é uma movimentação que vem ganhando força e diversos desmembramentos. Em um fluxo pertinente e que inclusive atende uma demanda crescente, surgem pela capital paulistana iniciativas como o Bar Alto, um espaço vertical e que além do ambiente de bar, com cardápio de comida e coquetelaria, ainda apresenta uma programação semanal que pode trazer desde apresentações de bandas (nacionais e internacionais) ao vivo a DJ sets e outras performances ao vivo.
A casa é distribuída em dois andares, sendo um apenas para o restaurante e bar, duas áreas externas, mezaninos, pista de dança, entre outros espaços… um ambiente que você pode começar a noite no bar e acabar em uma pista simplesmente por ocasião dos desenrolamentos. Eis aqui o club de ocasião. O espaço cultural LOTE, também na capital paulista, é outro que desponta a partir do mesmo viés múltiplo, mas não faltam outros exemplos de locais que pipocam pelo Brasil como o Acaiá café, em Balneário Camboriú e o listening bar Hangar T6 em Floripa, cuja curadoria é excelente e já recebeu nomes como Gene on Earth, por exemplo.
Em Campinas, no interior de São Paulo, o Galerìa 1212 também aposta na união da arte e gastronomia e embora seja um espaço já desenvolvido para isso, é com certeza mais um exemplo de como um ambiente pode ser usado a partir das mais diversas ocasiões. Além de trazer equilíbrio para a receita (já que a fonte de lucro é ampliada), acontece a entrega de uma experiência mais completa (ou simplesmente diferente) ao público — que nem sempre busca o contexto de club, principalmente para ouvir música eletrônica.
Dessa dinâmica de alteração da pista de dança como somente um espaço de club surgem alguns prós e contras. Entre os aspectos positivos, estão a ocupação da música eletrônica nas mais diversas ambiências e contextos, além do conforto ao público em uma experiência de consumo diferente e que geralmente vem acompanhada por um ambiente legal. Aqui, abre oportunidade também para um público de faixa etária mais velha, que nem sempre se sente motivado pelo ambiente dos clubs.
Já entre os aspectos negativos, é que muito dificilmente o sistema de som de um ambiente com essa proposta vai se equiparar ao de um club, o que consequentemente tira o foco absoluto da música. Em clubs, incontáveis fatores são calculados por técnicos de som, que inclusive estão lá a noite toda cuidando para que todas as nuances sonoras estejam equilibradas e para que a acústica tenha um excelente desempenho — nesse caso, a experiência sonora dificilmente será superada.
Mas é importante destacar que a ressignificação de espaços é uma oportunidade inerente à música em todos os seus nichos, assim como pode ser um caminho muito positivo. O bar pode virar pista, um club (se adequado às necessidades) pode servir almoço como uma forma de complemento de renda e até se dedicar a tornar essa uma receita fixa que não só aumente o lucro, mas que auxilie, por exemplo, em ampliações da marca.
Ambientes fixos que apostam na multidisciplinaridade e multiculturalidade, e que também tenham uma forte conexão com a música, ainda não são comuns no Brasil. Esse formato de entretenimento mais “amplo” não é largamente explorado, o que abre uma boa perspectiva para quem busca uma boa oportunidade de negócio, mas principalmente de inovação — algo que toda a indústria fonográfica constantemente está em busca.
A música conecta.