A música ambiente e experimental é como alguns sabores mais complexos que você não consegue se aprofundar quando mais jovem, mas que em algum momento começa a fazer muito sentido. Fora do Brasil, há uma cena absolutamente consolidada para esses sons, enquanto por aqui o ritmo ainda é mais lento — o que não impede o ímpeto de muita gente talentosa trabalhando em excelente nível.
Um dos lançamentos que captaram a nossa atenção dentro deste circuito foi o EP de estreia de Bruno Lemos com o seu projeto Brwno. AREJO é composto por 3 faixas ricas em melodias e texturas. Uma das principais referências para composição do trabalho foi a estética brutalista da arquitetura da Escola Paulista, mais especificamente o MuBE (Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia), que gerou uma conexão entre ambiente, sonoridade e sentimentos que Brwno queria expor nas faixas.
Quer entender um pouco mais sobre os pontos que realmente consolidaram este lançamento? Então mergulhe com a gente e com o Bruno nas respostas abaixo:
A ideia
A princípio a ideia de produzir o EP não surgiu de uma forma concreta. Eu queria produzir dois EPs, um mais voltado ao House, outro mais introspectivo, o AREJO. Eu cheguei a produzir todas as faixas de ambos os projetos, mas vi mais sentido em lançar apenas esse lado mais introspectivo por sentir que nessas produções eu consigo ser mais autêntico e tenho uma liberdade maior, tanto criativa como para me expressar.
A primeira faixa, Synthesis, foi feita em 2021. Eu sempre deixei ela guardada por gostar muito dela, mas não encontrei um contexto na época em que lançá-la fizesse sentido. Em 2024, enquanto produzia as faixas do EP, fui organizando elas em ordem e ouvindo até eu sentir que se encaixavam e que conseguiam contar a história que eu queria, transparecer os sentimentos que eu queria expor; nada mais era do que trazer uma sensação de introspecção, mas que no final tivesse esse sentimento de alívio de ter conseguido sair desse lugar ansioso, meio confuso.
A escolha da gravadora
Eu optei por lançar independente. Por ser meu primeiro trabalho, sinto que ainda preciso amadurecer antes de ir atrás de gravadoras que eu gostaria de lançar.
A grande influência
No âmbito sonoro, minhas maiores referências foram Rival Consoles, Brian Eno, Portico Quartet, Burial, Max Cooper, Ross From Friends e Fred Again. Todos eles através de suas músicas e entrevistas me fazem sentir confiante e que posso ter liberdade criativa na hora de produzir minhas músicas. Mas também acho legal citar outros artistas que, querendo ou não, me influenciam a continuar produzindo e trabalhando com música, como Joni, Tyler the Creator, Virgil Abloh (apesar de também ter tido seu envolvimento com música eletrônica), Frank Ocean, Billie Eilish e Kanye West.
No âmbito visual/estético eu fui completamente tomado pela arquitetura brutalista da Escola Paulista, acredito que a maneira a qual a estética brutalista foi aplicada no Brasil tornou o brutalismo um pouco menos denso, intimista e frio mesmo que ainda assim seja.
Não sei se minha explicação vai ser a das melhores por eu não ser arquiteto, mas por um acaso eu sempre tive curiosidade de saber o que era o MuBE (Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia). Lembro de ter passado algumas vezes ali perto quando mais novo, mas nunca entendi o que era aquele lugar, até que decidi visitar e achei incrível, mesmo sendo uma construção de concreto armado, com todas as características marcantes do brutalismo que acabam trazendo essa sensação mais fria e intimista, eu senti que era um lugar que conseguia transparecer as sensações que eu estava expondo nas minhas músicas e que de alguma forma trazia esse meu lado introspectivo à tona.
Com isso acabei me aprofundando mais um pouco sobre quem era o Paulo Mendes da Rocha, o arquiteto que projetou o MuBE, sobre o que foi a Escola Paulista e se realmente fazia sentido ligar uma coisa à outra.
Durante essa pesquisa tive um direcionamento do meu amigo Giulio Carlo (Estudante de Arquitetura e Produtor Musical) e de duas amigas minhas, Bianca Ballet (Arquiteta, formada no Centro Universitário Belas Artes) e Mariana Marco Djanikian (Estudante de Arquitetura na FAAP), que botaram muita fé no que eu estava falando e querendo fazer. Por fim, toda a estética visual foi baseada nessa relação de música e arquitetura e por um trabalho incrível para a capa do EP da GICA, artista visual de Curitiba.
O significado
Além de ter sido meu primeiro trabalho, foi uma realização muito grande. Passei uns bons anos produzindo, testando diferentes vertentes de som e até desistindo de produzir. Vivi todo esse conflito interno que (acredito eu) que a maior dos artistas passa. Mas finalmente cheguei em algo que foi exatamente o que eu queria, algo verdadeiro, sem me prender ou precisar me encaixar em um gênero específico.
A pista dos sonhos
Não acho que essa linha de som do EP tenha como ser tocada numa festa — por não ter as características de um evento de música eletrônica — mas eu adoraria poder ouvir essas faixas e futuras produções em exposições de arte, desfiles de moda e eventos de exposição de paisagismo, design de interiores e arquitetura.