Nem todo set é feito para a pista. Alguns são feitos para o silêncio entre os fones, para os momentos em que a música deixa de ser trilha e passa a ser companhia. É assim que se apresenta o novo set de Quicche para a edição 397 da Troally: uma experiência que não se acomoda em rótulos e se propõe a dialogar com o ouvinte de maneira emocional, profunda e sensorial.
Projeto do artista alemão Marc Grünhäuser, Quicche ganhou vida após um período de isolamento criativo no norte da Alemanha, onde ele se retirou para compor, produzir e gravar o álbum de estreia Frisia, lançado no último dia 11 de abril pelo lendário selo R&S Records — casa de artistas como Aphex Twin, James Blake e Gabriels. Imerso em restrições autoimpostas e com contato humano quase inexistente, Marc deu forma a um universo sonoro que desafia categorias e oferece um olhar fresco sobre o que entendemos por música eletrônica.
O set gravado para a Troally é um reflexo claro dessa estética singular. Nos primeiros minutos, o clima é suave, nebuloso, quase suspenso — um convite à contemplação. Mas logo a paisagem sonora muda: surgem batidas mais presentes, texturas Indie-folk, vozes sussurradas, uma pitada de Hip Hop, e depois um retorno à introspecção total. O mix parece se dobrar sobre si mesmo, criando contrastes que surpreendem, emocionam e provocam. Há algo aqui que lembra Bicep, mas com uma assinatura mais crua e lírica.
O set é um recorte sensível do universo musical de Quicche e revela um artista muito interessante para se acompanhar de agora em diante.