Skip to content
A música conecta

O rebranding global do Time Warp tem assinatura brasileira

Por Marllon Eduardo Gauche em Xpress 02.05.2025

Desde os primeiros dias do Alataj, o design sempre foi tratado como parte essencial do nosso trabalho. Não apenas como um elemento visual importante, mas como nossa linguagem. Em um cenário em que marcas competem não apenas por atenção, mas por relevância, o design vai muito além da parte estética e se torna uma peça fundamental no posicionamento, não se limitando a apenas “comunicar bem” — ele molda os modos de existência.

​​Toda escolha de forma, tipografia, cor e ritmo visual carrega um posicionamento político, cultural e simbólico. É como uma linguagem técnica da modernidade, uma forma de traduzir o mundo em estruturas visíveis e sensíveis. Só é possível falar em bom design quando há responsabilidade e impacto real. Dentro do ecossistema da música eletrônica, onde a identidade de uma marca precisa traduzir também valores de comunidade, inovação e pertencimento, o design opera como tecnologia cultural. Sustenta narrativas, revela intenções e assegura coerência entre discurso e prática.

É por isso que, ao observarmos movimentos de rebranding consistentes dentro da cena, é preciso destacar e respeitar o trabalho feito recentemente pelo Time Warp. O festival é, há mais de três décadas, uma das maiores instituições da cultura do Techno e do House global. Com origem na Alemanha, construiu uma identidade forte, associada à síntese perfeita entre música, tecnologia e experiência sensorial — uma proposta que se conectou com diferentes públicos ao redor do mundo. No entanto, o Time Warp entendeu que era necessário lapidar ainda mais sua comunicação. E, curiosamente, foi no Brasil que essa transformação começou.

A reformulação global da identidade visual do Time Warp foi pensada a partir de um insight local. Liderado por Gabriel Zanucci, Sarah Corrêa, Guga Trevisani, Diego Teixeira e Julia Gonçalves, a equipe brasileira do festival percebeu, com muita sensibilidade, que os códigos visuais da marca precisavam dialogar de forma mais direta com o público daqui. Diante disso, propuseram um redesign da identidade que, ao ser apresentado aos fundadores alemães, Robin Ebinger, Frank Eichhorn e Steffen Charles, foi aprovado e ainda se tornou o novo norte da marca em todo o mundo.

O desafio era traduzir em forma e imagem um legado de mais de 30 anos, sem parecer preso ao passado. Modernizar, mas sem romper com suas origens. A solução encontrada veio de um processo profundo, técnico e conceitualmente sofisticado, que se baseou em fundamentos da física para construir seus principais assets visuais. Um deles, por exemplo, simula o comportamento da luz em difração no experimento da dupla fenda de Thomas Young (1802), traduzido e manipulado por meio do software Touch Designer em imagens que evocam o comportamento da luz em estado de interferência. O outro, também criado com base em tecnologia reativa, analisa frequências sonoras e projeta visualmente os conteúdos presentes nelas — resultando em um espectro dinâmico que representa o som como fenômeno visual.

Esse novo design conversa diretamente com dois pilares do festival: luz e som. Não por acaso, as taglines exploradas na identidade visual e na comunicação da marca são: “The Synthesis of Light and Sound” (A Síntese da Luz e do Som) e “The Truth is on the Dancefloor” (A Verdade Está na Pista de Dança). Ambas condensam a experiência do Time Warp: um ambiente onde o impacto estético e sensorial são protagonistas da experiência. E esse é o ponto: o que muitas vezes passa despercebido pelo público é que festivais como o Time Warp vão muito além da música. A curadoria artística é apenas uma das camadas de um projeto que investe profundamente em arquitetura de palco, arte interativa, narrativa visual e coerência estética — tudo isso costurado por uma visão que une passado, presente e futuro.

No Brasil, essa proposta ganha contornos ainda mais especiais. Desde a edição de 2024, o festival passou a ocupar o centro de São Paulo, em um formato que mescla herança europeia com elementos locais, como o uso de palcos open air — inéditos no universo global do Time Warp. Isso, somado à energia autêntica do público brasileiro e à inserção de talentos nacionais no lineup, cria uma experiência singular dentro do circuito internacional do festival. Neste ano, um movimento ainda mais ousado acontece, já que as duas pistas serão montadas no formato open air.

A edição de 2025, que acontece neste final de semana, dias 2 e 3 de maio no Vale do Anhangabaú, será mais uma amostra da evolução da marca, um exemplo de evolução bem conduzida, com visão estética, estratégica e uma comunicação inteligente. Um projeto que entende que o futuro do entretenimento está cada vez mais ligado à capacidade de criar experiências estéticas que provoquem e se comuniquem com o público de forma verdadeira e multisensorial.

Confira todas as informações sobre o evento através do site oficial.

A MÚSICA CONECTA 2012 2025