Thessaloniki não é exatamente o primeiro lugar que vem à mente quando se pensa nos berços da música eletrônica contemporânea. Mas foi nesta cidade grega que John Dimas descobriu sua paixão pelos decks, ainda adolescente, depois de se mudar da Albânia nos anos 90. O que começou como curiosidade em clubs underground se transformou numa trajetória respeitada dentro da cena do Minimal e do House contemporâneo. Hoje, quase três décadas depois, Dimas é presença constante em alguns dos clubs mais consolidados do circuito, incluído DC10, Fabric e o já extinto Watergate.
Neste mês de setembro, Dimas está no Brasil para cumprir compromissos em pistas importantes. Iniciou a tour em São Paulo, no Ephigênia, dia 12; passou por Curitiba, no Club Vibe, dia 13; visita Brasília, no Lobby, dia 19; e finaliza em Camboriú, no Surreal Park, dia 20, para a segunda edição do House Mag Festival. Nessa última gig, em especial, Dimas foi escalado para se apresentar em um dos seis palcos do festival, o Church, assinado pela label Botanic, reconhecida por sua excelência em curadoria. É uma oportunidade e tanto de presenciar a pesquisa musical de um dos seletores mais refinados da atualidade.
Da Albânia para a Grécia, da Grécia para Berlim, John Dimas sempre se guiou pela busca constante da autenticidade. Sua capacidade de encontrar pérolas escondidas e transformá-las em momentos mágicos de pista foi o que o colocou em uma posição de destaque na cena underground global. Para entender como um jovem imigrante albanês se tornou referência absoluta em curadoria, é preciso mergulhar nas camadas que formam sua identidade artística.
Este é o Raio X do Alataj.
Raízes na imigração e descoberta musical
A trajetória de John Dimas começa com uma mudança radical: aos 13 anos, deixou a Albânia com a família após a queda da ditadura nos anos 90. Na Grécia, descobriu um mundo sonoro completamente novo através dos clubs underground de sua nova cidade, onde Chicago House, Acid House, UK Garage e Breakbeat ecoavam pelas madrugadas.
Foi ali que comprou seus primeiros discos e aprendeu a mixar usando dois toca-discos de correia e um mixer caseiro que ele mesmo construiu como projeto escolar. Essa origem DIY moldou sua abordagem: técnica apurada, mas sempre a serviço da música, nunca o contrário. Em 2001, tocou seu primeiro set em um pequeno bar onde permaneceu como residente por quatro anos — tempo suficiente para desenvolver sua identidade sonora.
A arte de contar histórias através da música
“Eu gosto da arte de contar uma história e dar muitas dinâmicas diferentes para manter as coisas interessantes”, explica Dimas sobre sua filosofia como DJ. “Não gosto de ser previsível com os discos que toco e amo surpreender o público.” Essa abordagem narrativa se reflete em sets que são verdadeiras jornadas emocionais.
Seus sets sempre incluem cortes obscuros que mesmo os fãs mais ávidos ainda não descobriram. Dimas dedica horas garimpando música, sempre em busca daquele track que vai criar o momento perfeito na pista. Sua seleção combina picos e vales, construindo tensão e alívio de forma orgânica, como um bom contador de histórias.
Berlim e a consolidação artística
Em 2011, uma apresentação no Watergate mudou tudo. A energia da pista berlinense e a receptividade do público o convenceram a se mudar para a capital alemã no ano seguinte. Foi onde Dimas encontrou seu novo lar artístico.
Na capital alemã, desenvolveu ainda mais sua estética futurista que funde Techno e House de forma inteligente, enérgica e contagiante. Berlim ofereceu o ambiente perfeito para experimentação: uma cena que valoriza a autenticidade acima de tudo e um público que entende música eletrônica como arte, não apenas entretenimento. Foi lá que sua reputação como seletor se consolidou.
Elephant Moon e a busca por novos talentos
Em 2013, Dimas deu um passo importante ao criar a Elephant Moon, uma gravadora que não aceita demos. Em vez disso, ele próprio sai à caça de artistas emergentes, mentoreando-os durante todo o processo criativo. “Assim sempre mantemos uma alta qualidade”, explica.
Em 2018, Dimas lançou por lá One Against Time, seu álbum de estreia que mostra toda sua amplitude artística, com 14 faixas que transitam desde o House melódico até faixas experimentais mais abstratas.
Secret Universe e a exploração sonora
Em 2020, Dimas reviveu seu projeto paralelo Secret Universe, uma exploração cross-genre que havia iniciado em 2016. O projeto representa sua faceta mais experimental, mergulhando em territórios ambient e eletrônica mais abstrata, longe das demandas da pista.
Secret Universe mostra que Dimas não se limita ao funcional. É um espaço onde explora texturas, atmosferas e narrativas sonoras sem se preocupar com BPMs ou energia de dancefloor. Essa liberdade criativa alimenta seu trabalho principal, trazendo camadas de profundidade que poucos DJs conseguem alcançar.
Dimas é um daqueles artistas que representam a curadoria genuína em sua forma mais pura, aquela que valoriza a surpresa, a descoberta e a construção de momentos únicos — e é exatamente isso que a Botanic vai entregar no palco Church neste sábado, dia 20 de setembro, no Surreal Park [últimos ingressos antecipados aqui].