Skip to content
A música conecta

15 to Understand | Nico Bernardini

Nico Bernardini construiu uma trajetória sólida ao longo de quase duas décadas dedicadas à música eletrônica. Nascido em Milão e atualmente dividido entre Miami e Nova York, o DJ e produtor se destaca por uma abordagem refinada do House, combinando referências do Tech House, Disco e Pop e assim dialogando com diferentes públicos e contextos, o que já o levou a tocar em lugares como Pacha Ibiza e Club Space.

Recentemente, Nico realizou sua primeira turnê pelo Brasil, passando por clubs como D-Edge, em São Paulo e no Rio de Janeiro, e o P12, em Florianópolis; mas a ideia é seguir expandindo sua presença na América Latina por outros países. Com lançamentos por selos como Abracadabra, RTA Sounds e sua própria gravadora, Harmonic Heaven, ele vem mostrando que tem experiência e criatividade de sobra para se posicionar junto aos nomes mais relevantes da cena do Tech House atual. 

Aproveitamos sua recente passagem pelo país para convidá-lo a compartilhar suas visões e aprendizados nesta nova edição do 15 to understand.

Quando a música virou mais que um hobby para você?

Há cerca de dois anos — e não por escolha, mas por circunstância. Fui demitido do meu trabalho, e aquele momento acabou sendo a melhor coisa que poderia ter acontecido. Me forçou a levar a música a sério, e a partir dali, não teve mais volta.

Como você descreve a jornada de evolução de seus trabalhos na música do mais antigo ao mais atual?

Comecei a tocar aos 13 anos, tocando EDM influenciado por Tiësto, Armin van Buuren, Swedish House Mafia e outros. Quando me mudei da Itália pros EUA pra estudar, toquei ao lado de artistas como Carnage (agora Gordo), The Chainsmokers, Hardwell e Alesso.

Mas eu sempre fui atraído pela cena underground — Sven Väth, Richie Hawtin, Marco Carola. Depois de ver o Marco Carola tocar um set de 10 horas no Amnesia, em Ibiza, em 2015, tudo mudou. Me apaixonei por sets longos, que contam histórias, e pelo universo minimal/techno. Foi aí que decidi mudar meu som — e sigo evoluindo até hoje.

Você se enxerga produzindo, tocando e viajando com a música até o fim de sua vida?

Essa é uma pergunta difícil — não porque eu ache que meu corpo não vai aguentar, mas porque a tecnologia está evoluindo tão rápido que a forma como os artistas se apresentam pode mudar completamente. Pode ser que, no futuro, nem precisemos mais viajar pra tocar. Mas sim — eu me vejo trabalhando, criando e evoluindo dentro da música pro resto da vida, seja lá qual for a forma que isso tomar.

Qual é o lado ruim de uma carreira na música?

As pessoas geralmente dizem que o lado ruim é ficar longe de casa, dos amigos e da família, mas com o equilíbrio certo isso dá pra administrar. Pra mim, o verdadeiro desafio é lidar com gente da indústria que não separa trabalho de festa. Essa mentalidade pode tornar o lado profissional da música bem mais complicado.

Como você lida com as críticas quando elas são direcionadas à sua arte?

Eu vejo a crítica como uma forma de apoio. Se alguém tira um tempo pra dar um feedback, é porque se importa o suficiente pra querer que eu melhore. Se eu estiver aberto a isso, posso reconquistar essa pessoa em um próximo show. Mas se eu reagir mal, perco esse ouvinte pra sempre.

Qual o diferencial mais importante na preparação para uma gig?

Entender o público. Eu pesquiso sobre o local, o país, os comentários dos fãs e até os sets anteriores de outros DJs. Mas também acredito que não dá pra se preparar demais — chegar com a mente aberta deixa espaço pra espontaneidade e improviso. Hoje temos a sorte de carregar bibliotecas inteiras de música num pendrive. Imagina viajar com 150 discos de vinil, como o Sven Väth ainda faz.

Algum artista ou música já mudou a sua vida? Se sim, qual?

Vários artistas moldaram o meu estilo, e muitos outros ainda vão me influenciar. Mas, em termos de impacto real, a Blond:ish e a esposa dela, Liana, foram fundamentais pra minha carreira. Elas não só me deram uma chance — me orientaram, deram feedbacks e me apresentaram a pessoas-chave da indústria. Esse tipo de apoio é raro.

O Kiko Franco também tem sido incrível, me levando em turnê pro meu debut no Brasil. Precisamos de mais colaboração assim nesse meio.

Qual o maior desafio que a música já te trouxe?

Criar meu próprio som, minha energia e minha mensagem. Essa jornada ainda está em andamento — e eu trabalho nisso todos os dias.

Fale um pouco sobre o que você considera mais relevante: uma grande ideia ou uma rotina disciplinada de trabalho?

Uma grande ideia sem execução é só uma ideia. Dito isso, no momento da minha carreira em que estou, prefiro sacrificar um pouco da disciplina por grandes oportunidades — noites sem dormir, voos extras, dizer “sim” pra tudo que possa me fazer avançar. Disciplina é importante, mas a coragem é o que abre portas.

Qual é o momento ou conquista mais importante da sua carreira até aqui?

2025 tem sido um ano de marcos — lancei meu selo, toquei em novos países como o Brasil e participei de festivais que antes eu ia como fã. Mas o momento mais inesquecível foi tocar no Pacha Ibiza com a Abracadabra neste verão. O Pacha é um dos clubes mais icônicos do mundo — foi literalmente um sonho realizado.

O que torna um set realmente inesquecível para o artista e para o público?

Quando ele vira uma lembrança. Se as pessoas ainda estão falando sobre o set 24 horas depois — e o artista também — é porque algo verdadeiro aconteceu.

Como encontrar o equilíbrio entre autenticidade e as tendências da indústria?

Mantendo-se fiel à sua missão, mas sem medo de explorar novos caminhos. A minha missão é transmitir felicidade. Qualquer som que me ajude a fazer isso — sendo tendência ou não — eu vou usar.

Qual aspecto da cena você escolheria mudar ou transformar por completo atualmente?

Eu diminuiria o custo de curtir uma festa. Festivais e clubes estão ficando caros demais pra muita gente.

Não culpo os produtores — tudo está mais caro hoje — mas, no fim das contas, quem paga o preço é o fã. Também traria de volta os sets mais longos: menos DJs no lineup e mais tempo pra cada artista contar uma história. Noventa minutos não são suficientes.

O que traz inspiração de maneira prática e contínua para criação?

Viajar, observar e ouvir. Manter a curiosidade sobre novas culturas, novos sons e, principalmente, sobre as novas gerações — elas são o futuro da cena.

Qual a sua impressão sobre o futuro da música eletrônica?

Com a IA evoluindo tão rápido, o futuro vai ser insano. Eu tô empolgado e assustado ao mesmo tempo. A qualidade da música gerada por IA já é impressionante. Não devemos tentar barrar isso, devemos aprender, dominar e abrir espaço pra essa nova realidade.

A MÚSICA CONECTA 2012 2025