Aos 50 anos e já com três décadas de carreira, FGON representa uma geração que viveu a formação da cultura eletrônica brasileira e agora ajuda a transformá-la. O paulista radicado em Brasília começou aos 13 anos nas icônicas cabines de São Paulo dos anos 90 — Paradise, Flash, Nepal, Columbia — quando o underground fervilhava no país.
Entre 2013 e 2021, criou mais de 100 edits de música brasileira que circulam nas pistas mundiais. Em 2023, retornou às produções autorais e já acumula mais de 300 mil streams. Recentemente, lançou seu próprio selo, a Modernista Frequencies, e também está preparando um álbum colaborativo com diversos produtores brasileiros para 2026.
No dia 07 de novembro, também nasceu Astropoiesis, seu mais recente lançamento justamente pela Modernista Frequencies. A faixa traz energia progressiva e vocais etéreos em um ritual que celebra a criação das estrelas.
Mas por trás dos números e lançamentos recentes, a história de FGON revela aspectos menos óbvios sobre como construir longevidade na música eletrônica. Quatro pontos centrais explicam como ele transformou décadas de experiência em uma assinatura sonora bastante própria.
Este é o Raio X do Alataj.
Experimentação com edits brasileiros
Entre 2013 e 2021, FGON transformou diversos clássicos da música brasileira em edits autorais, adaptando cuidadosamente entradas, saídas e estruturas para torná-las funcionais nas pistas. Esse período foi fundamental para amadurecer sua técnica de mixagem e compreensão estrutural. Os mais de 100 bootlegs que hoje circulam entre diversos DJs foram exercícios criativos que hoje servem de base para suas produções autorais, acumulando uma bagagem técnica construída longe dos holofotes.
Arquitetura emocional
FGON trata texturas, respiros e nuances como elementos centrais, não ornamentais. Cada eco, pad e delay tem função narrativa específica. Essa abordagem se reflete tanto em seus sets quanto em suas produções — o warm up recebe o mesmo cuidado estratégico que o horário de peak time da festa. É uma mentalidade que exige maturidade para valorizar os espaços vazios tanto quanto os preenchidos. FGON constrói experiências que vão além do funcional, buscando fazer as pessoas sentirem e se conectarem, não apenas dançarem.
A recusa aos atalhos
No projeto From Mars, seu álbum colaborativo que será lançado em 2026, FGON conscientemente evitou timbres conhecidos e presets muito utilizados. Só adquiriu ferramentas mais tradicionais depois de compreender sua função criativa real, tratando-as como opções, não obrigações. Essa filosofia reflete sua mentalidade como DJ: não tocar o que as pessoas esperam, mas algo que elas ainda não sabem que vão amar. Ele parte dos fundamentos do melodic techno e progressive house sem permitir que esses gêneros limitem sua criação. O resultado são produções familiares mas únicas, acessíveis sem serem óbvias.
Independência como controle criativo
A criação da Modernista Frequencies, seu selo autoral, foi uma estratégia para manter controle total sobre sua visão artística. FGON gerencia produção, divulgação e relacionamentos sem depender de grandes estruturas ou terceiros. Essa independência permite curadoria autoral tanto de sua obra quanto de outros artistas que transitam do Techno ao Ambient. É uma abordagem que prioriza sua visão criativa, refletindo a maturidade de quem compreende o valor da própria arte.