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A música conecta

Seria Vogue a primeira faixa de house que se conectou ao pop rumo ao mainstream global?

Por Redação Alataj em Notes 01.12.2025

Na aclamada discografia de Madonna, Vogue (1990) é uma das músicas mais importantes, polêmicas e representativas. Lançada no álbum I’m Breathless, ela é uma faixa de house com forte influência da disco e sua identidade sonora está diretamente ligada ao produtor e coautor Shep Pettibone, pioneiro na intersecção entre o house e o pop em um momento em que o gênero já expandia sua presença para além dos clubes.

Pettibone desenvolveu a base da música em apenas duas semanas, com um orçamento de 5 mil dólares — considerado baixo para os padrões da época — inspirado por acordes marcantes de linhagens históricas do house e elementos de salsa. No centro da faixa está a icônica bateria eletrônica Roland TR-909, peça-chave do gênero. Camadas de teclado (Fred McFarlane), baixo e programação (Alan Friedman) foram sendo adicionadas até a batida principal surgir com o clássico combo de kick, snare e hi-hat da 909. O ataque típico da TR-909 define o groove de Vogue e, durante o trecho falado, Madonna assume o protagonismo como um dançarino de voguing: frio, preciso e teatral.

Embora Pettibone obviamente não tenha moldado sozinho os padrões da house music — já consolidados por artistas de Chicago e Nova York no final dos anos 1980 — sua composição ajudou a traduzir essa linguagem para o universo pop. Segundo o próprio produtor, a faixa tem clara influência da Salsoul Records, com referências diretas a Love Is the Message do MFSB e Ooh, I Love It (Love Break) da Salsoul Orchestra. Essa ligação rendeu uma disputa judicial em 2012, quando a VMG Salsoul processou Madonna e Pettibone, alegando o uso não autorizado de um trecho de 0,23 segundos de trompas de Love Break. A acusação dizia que o sample havia sido “deliberadamente ocultado”. Madonna e Pettibone venceram o processo, argumentando que o som foi recriado e não sampleado.

Mais de 35 anos depois de seu lançamento, Vogue é considerada por muitos críticos e estudiosos um marco histórico tanto da house music quanto do pop. A essa altura, o house já havia ultrapassado o circuito de Chicago, conquistado a Europa e alcançado as paradas do Reino Unido com hits anteriores, mas Vogue ampliou essa presença ao introduzir a estética do house em um dos maiores projetos pop do mundo. Ao trazê-la para I’m Breathless, Madonna não apenas dialogou com um movimento em plena expansão, como também consolidou um ponto de virada: o momento em que o house se integra definitivamente ao mainstream global.

O crítico Erick Henderson escreveu que Vogue foi essencial para o renascimento da disco dentro do universo da house, onde o gênero encontrou uma “segunda vida”. Para muitos estudiosos, ela foi uma das primeiras faixas pop baseadas em house a atingir o topo das paradas globais, tornando-se um ícone cultural que levou sons e visuais do underground às massas.

A MÚSICA CONECTA 2012 2025