Fome no mundo, guerra, crises socioeconômicas, colapso ambiental… temas que definem o presente já eram denunciados em 1993 por Jamiroquai em Emergency on Planet Earth. O título — do álbum e da faixa principal — sintetizava uma inquietação que hoje parece ainda mais urgente. Trinta e um anos depois, em um mundo atravessado por eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes e destrutivos, a obra ressurge quase como um comentário involuntário sobre o nosso próprio tempo. A arte, nesses momentos, não oferece respostas, mas funciona como lente, memória e provocação: quantos alertas, paralelos à ciência, a música também já nos deu?
No caso do álbum de estreia de Jamiroquai, lançado no auge do movimento acid jazz britânico, a dimensão crítica sempre foi central. Jay Kay combinava funk, soul e jazz com um discurso explícito sobre destruição ambiental, desigualdade e militarismo — temas raros no mainstream da época. When You Gonna Learn?, faixa de abertura, é um manifesto direto contra o desmatamento, poluição industrial e caça indiscriminada. Três décadas depois, em um planeta que vem colecionando catástrofes, sua letra soa menos como advertência e mais como constatação.
Ao longo do disco, a banda aprofunda esse olhar. Too Young to Die questiona guerra e violência como ciclos autopropelidos; Emergency on Planet Earth denuncia a captura política por interesses corporativos; If I Like It, I Do It afirma autonomia e mudança em meio a estruturas opressivas. O elemento que sustenta tudo isso — a fusão ácida entre groove, crítica e espiritualidade — tornou o álbum uma estreia poderosa e um marco que antecipou discussões ambientais e sociais que hoje ocupam o centro do debate global.
É justamente nesse cruzamento entre arte, tempo histórico e urgência contemporânea que um novo capítulo se abre: ontem (02), o Rock in Rio confirmou o retorno de Jamiroquai ao Brasil para edição 2026 do festival (no dia 11 de setembro). A notícia reacende a relevância do disco no imaginário coletivo, sobretudo em um país que enfrenta, de forma cada vez mais explícita, os efeitos das crises ambientais e sociais abordadas no álbum. Revisitar Emergency on Planet Earth agora não é mero exercício de nostalgia — é reconhecer como certas obras funcionam como espelhos duradouros.
Mais de 30 anos depois, o alerta permanece. Jay Kay sempre usou a música como ferramenta de consciência, e ouvir o álbum hoje é confrontar o fato de que muitas das “emergências” diagnosticadas em 1993 não só persistem, como se agravaram. Em 2025, sua mensagem parece ainda mais cristalina: não basta identificar o problema; é preciso agir. Agora com data marcada para reencontrar o público brasileiro no Rock in Rio, Jamiroquai oferece novamente uma trilha sonora para esse despertar — um convite para ouvir, refletir e responder antes que o tempo finalmente se esgote.
Esta é uma versão editada deste texto com fins de atualização. A versão original foi escrita por Isabela Junqueira e publicada na coluna Trend em Maio de 2024.