Skip to content
A música conecta

RUBIA: uma caminhada rumo ao reconhecimento no Progressive House nacional

Por Marllon Eduardo Gauche em Trend 04.12.2025

A carreira artística carrega contradições que o público raramente consegue enxergar. Por trás da imagem de sucesso que a indústria projeta, existem períodos de vazio criativo, dúvidas sobre relevância e momentos onde tudo parece escorrer entre os dedos. RUBIA conhece bem essa geografia emocional e foi justamente no ponto mais baixo dessa curva que encontrou as coordenadas para se reerguer e iniciar uma nova fase dentro da cena. Ela descobriu que voltar à música significava mais do que retomar uma profissão; era como “respirar de novo”.

Foi nesse momento de reconfiguração que idealizou a LINE – Escola de Discotecagem, no início de 2020, projeto que nasceu da intenção de ensinar aquilo que sabia. RUBIA não tinha computador, recursos financeiros ou conhecimento técnico básico — aprendeu tudo sozinha através de vídeos disponíveis na internet. De cinco alunos iniciais para pagar as contas, a escola cresceu para mais de mil matrículas, tornando-se uma das referências nacionais em ensino de discotecagem e produção musical, criada e dirigida por uma mulher negra que está posicionada como uma das vozes mais relevantes do progressive house brasileiro.

Essa conexão profunda com a música, no entanto, vem de longe. A paranaense de 33 anos carrega raízes musicais desde a infância: aos cinco anos, influenciada pelo pai amante do samba, começou a estudar cavaquinho, e com apenas oito anos já participava de apresentações na Casa da Cultura de Paranavaí. Em 2015, ela tomou uma decisão que mudaria sua trajetória: abandonou a faculdade de Direito para se dedicar integralmente ao que sempre a fez feliz. A frase que carrega como mantra — “o propósito desta vida é a (des)construção” — reflete na sua própria jornada de recomeços.

Após todos estes anos construindo sua carreira de maneira autônoma, RUBIA hoje se posiciona dentro da arquitetura clássica do progressive house — começos sutis, desenvolvimento gradual, picos emocionais calculados — mas imprime assinatura própria nas linhas de baixo, criadas em camadas que geram movimento e imersão. Cada transição é pensada para proporcionar experiência fluida, onde energia se constrói com intenção deliberada e conhecimento técnico. Sua abordagem une espiritualidade, profundidade e groove, características que definem seu DNA e sustentam uma construção narrativa consistente em cada apresentação.

Foi assim que ela já circulou por espaços importantes da cena nacional, marcando presença em várias edições do Warung Tour, incluindo em Maringá, Joaçaba, Londrina e Pato Branco, além de clubs conhecidos do Sul como Douha, Amazon e Vibe — há ainda uma apresentação confirmada no réveillon do Surreal Park. Essa abordagem também tem encontrado aos poucos o reconhecimento de figuras centrais do gênero. Hernan Cattaneo, referência absoluta do progressive house global, já elogiou suas produções e tocou uma de suas faixas, Breeze, no podcast Resident, assim como BLANCAh, que ajudou a ecoar Mirage, e Curol, que adicionou Lines (ainda unreleased) em alguns de seus sets.  

Seu catálogo como produtora musical vem sendo construído sem pressa, com lançamentos estratégicos que já passaram por Decreto, Cura Records e Timeless Moment — nesta última, lançou o EP Horizon em agosto de 2025 e agora entrega um remix bastante especial para Morttagua. Sirians foi criada para celebrar os 15 anos de carreira do produtor e entrou na seleção Best New Progressive House 2025: November do Beatport. 

A trajetória de RUBIA prova que crises podem ser catalisadoras quando transformadas em material criativo. Sua música carrega a intenção de cura, tanto pessoal quanto coletiva, e essa honestidade se reflete numa carreira cada vez mais consistente, fruto de um trabalho que ela construiu sozinha, na garra e na coragem.

A MÚSICA CONECTA 2012 2025